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Por Nacho Doce
SÃO PAULO (Reuters) - Levou um minuto para o artista brasileiro Iaco pegar uma lata de tinta spray e escrever "doria" sete vezes em um muro cinza em São Paulo.
Levou quatro minutos para chegar um policial, tirar uma arma, algemar Iaco e o levar para a delegacia mais próxima -- uma resposta pronta para a provocação à guerra contra o grafite deflagrada pelo prefeito João Doria assim que assumiu o mandato, no início deste ano.
Esse não era qualquer muro.
Semanas antes, Doria usara um macacão laranja e uma máscara facial para ajudar a pintar de cinza quase 15 mil metros quadrados de arte de rua no mesmo trecho da Avenida 23 de Maio.
O destino desses murais, comissionados pelo prefeito anterior, levantaram um debate sobre o internacionalmente famoso cenário de grafite da maior cidade da América do Sul e seu lugar na paisagem mais limpa imaginada pelo projeto "Cidade Linda" de Doria.
Desde então, o prefeito chamou a decisão de repintar a movimentada avenida de muito apressada e agora insiste que sua luta não é contra a colorida arte de rua da cidade, mas contra o agressivo estilo de marcação conhecido como "pichação".
Fontes angulares e de estilo rúnico, conquistaram faixas da paisagem de São Paulo à medida que pichadores escalam prédios e monumentos com rolos de tinta e latas de spray nas mãos, provocando a ira de muitos que adotam outras formas de grafite.
"O muralista é um artista, esses têm o nosso respeito", disse Doria em uma entrevista este mês, destacando seus planos de propor novos trabalhos de arte de rua. "Os pichadores são agressivos. Não é um problema social... É problema mental, criminal".
Doria diz que a polícia já flagrou mais de 100 pessoas escrevendo ilegalmente em muros em São Paulo desde que ele assumiu em janeiro.
O prefeito definiu uma multa para pichações de até 10 mil reais, o equivalente a 10 salários mínimos. Entretanto, os pichadores disseram que isso não vai os dissuadir de escalar prédios altos e viadutos para deixar suas marcas.
"Que outro tipo de artista coloca sua segurança em risco pelo seu trabalho?", perguntou o pichador conhecido como Du.
"Toda arte envolve a liberdade de expressão, mas a pichação é a expressão da liberdade. Você está dizendo ao mundo, 'Eu estou aqui. Você não pode me ignorar'."
Alguns no mundo do grafite questionam a distinção feita entre outros tipos de arte de rua e a pichação, que foi incluída na Bienal de Berlim, na Fundação Cartier em Paris e no São Paulo Fashion Week.
Originalmente inspirada por capas de álbuns de heavy metal dos anos 1980, a caligrafia críptica conquistou admiradores no cenário de grafite internacional, incluindo a fotógrafa Martha Cooper, que tem documentado a subcultura em Nova York por quatro décadas.
"Eu sou uma grande fã do que eles estão fazendo em São Paulo. Eles inventaram seu próprio alfabeto", disse Cooper, que foi apresentada aos pichadores da velha guarda em recente visita ao Brasil.
"Não são atos aleatórios de vandalismo de jeito nenhum", disse Cooper. "É uma maneira de transformar em seu o ambiente."
(Por Brad Haynes/Fotos Nacho Doce)