Por Juliana Schincariol
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A indústria da construção civil vê a terceira fase do Minha Casa Minha Vida como capaz de trazer algum alívio para as empresas do setor que passa por milhares de demissões e queda de vendas e lançamentos, mas quase um ano depois do anúncio da nova edição, os detalhes do programa habitacional federal ainda não foram definidos.
"O setor está na realidade frustrado e muito preocupado. Porque nós imaginávamos que o programa Minha Casa Minha Vida não passaria por dificuldades orçamentárias", disse o vice-presidente de habitação econômica do sindicato de habitação de São Paulo (Secovi-SP), Flávio Prando.
Segundo Prando, se o programa não começar muito rapidamente, será quase "impraticável" alcançar a meta prometida pela presidente Dilma Rousseff de 3 milhões de habitações até o final de seu mandato. A presidente anunciou a nova fase, que ainda não entrou em operação, em 3 de julho do ano passado.
De outubro a março, foram fechados mais de 268 mil postos de trabalho apenas no segmento de construção habitacional, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
"Se isso (o lançamento do MCMV3) acontecer rapidamente, eu acredito que o setor tem como reverter este profundo desânimo que existe. Quanto mais tempo passar, mais demissões vão ocorrer, mais difícil será a retomada do setor", disse Prando.
A expectativa da indústria agora é de que um anúncio seja feito ainda no início de junho, depois que o governo federal anunciou os cortes no Orçamento de 2015 na semana passada, reduzindo os recursos do Minha Casa Minha Vida para cerca de 13 bilhões de reais, ante 18,6 bilhões reais.
Apesar do corte de quase 6 bilhões de reais, agentes do setor afirmaram que ainda não é possível mensurar a amplitude do impacto da contenção de gastos.
Procurado, o Ministério das Cidades disse em nota que o detalhamento da terceira etapa ainda está em discussão no governo federal e com os principais parceiros - movimentos sociais, empresários da construção e poderes públicos locais.
Para a indústria de materiais de construção, o programa habitacional é responsável por 7 por cento das vendas do setor, disse Walter Cover, presidente da Abramat, associação que representa o setor.
Ele estimou que a nova fase pode elevar este percentual para 10 por cento do faturamento, mas se a terceira fase do programa acabar ficando para o segundo semestre, o efeito positivo sobre o setor será mais sentido apenas a partir de 2016. Ele estimou que as perdas de empregos na construção civil habitacional podem alcançar 500 mil até o final do ano.
"Era para ter alguma recuperação no começo do ano (nos empregos), mas já estamos com possibilidade de virar 500 mil", disse Cover.
O governo prometeu para a nova etapa do MCMV uma faixa intermediária de beneficiários, que terá uma participação maior de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e ainda contará com suporte do Tesouro Nacional.
Esta nova faixa, chamada de "Faixa 1 FGTS" é considerada pela indústria como fundamental para injetar novo ânimo ao setor de construção civil pois vai englobar um público que ficou de fora até agora do programa habitacional, com renda mensal de 1.500 até 2.200 reais.
Segundo Cover, a nova faixa permitiria financiamento do imóvel com parcelas de 200 reais por mês ante os 500 reais estimados por ele para o público ainda de baixa renda que acaba recaindo sobre a faixa 2 por ter renda acima do limite da primeira.
Para um analista de um banco de investimentos, um possível aumento do limite de preços dos imóveis e renda familiar enquadradas no programa - uma das demandas do setor - devem ajudar o mercado, porque serão enquadradas famílias que hoje não participam do Minha Casa Minha Vida.
"Com desemprego subindo e a inflação alta ajudando a reduzir poder de compra das famílias, as construtoras estão sendo mais cautelosas para não lançarem e correrem risco de ficarem com muito estoque", disse o analista pedindo para não ser identificado.
Entre as construtoras e incorporadoras, os lançamentos do primeiro trimestre dentro do Minha Casa Minha Vida foi o "menor de todos os tempos, segundo o presidente do Conselho de Administração da MRV e presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras (Abrainc), Rubens Menin.
Na MRV, cuja maioria dos empreendimentos se aplica ao programa, os lançamentos caíram 19 por cento na comparação anual, a 937 milhões de reais. Entre janeiro e março, a Cyrela não assinou nenhum contrato de MCMV Faixa 1, assim como no ano passado. Já na Direcional Engenharia, o volume lançado na Faixa 1 caiu 96,4 por cento no período.