O mundo dá voltas
Não, não estou falando da prisão do Vaccari.
A CVM fez justiça nesta quarta-feira.
O órgão regulador do mercado de capitais reavaliou a questão da entrada do grupo Techint no bloco de controle da Usiminas, via compra de participação que era detida pela Previ, e concluiu que houve sim mudança no controle da siderúrgica.
Com isso, há necessidade de extensão da oferta a todos os minoritários de ONs.
O que Techint pagou para a Previ na época (R$ 12 por ação) terá de ser ofertado para a base de ordinaristas. Como o “tag along” era de 80%, terá de ofertar 80% desse valor, ou R$ 9,60 por ação.
O mundo dá voltas.
Mais especificamente, 1.275 voltas...
Quase acreditei nisto...
O mundo deu cerca de 1.275 voltas desde que publicamos o seguinte trecho, em janeiro de 2012:
“Sempre defendemos que o correto seria a extensão da oferta, uma vez que a alteração no bloco de controle, ainda que mantida a posição de Nippon Steel, altera o acordo de acionistas e abre precedente para mudanças importantes nos rumos de Usiminas, opinião que reforçada pela velocidade do discurso e da troca de cadeiras tanto no âmbito do corpo diretivo quanto no Conselho de Administração. No entanto, tais premissas não garantem a efetiva configuração do direito, e a julgar pela demora de posicionamento do regulador e pelo histórico recente (exemplo recente em telecom)...”
Mais ou menos assim...
O grupo ítalo-argentino Techint entrou no bloco de controle da Usiminas adquirindo 43,3% das ações votantes, redigiu um novo acordo de acionistas e os principais executivos da maior siderúrgica brasileira de aços planos passaram a falar espanhol.
Ahhhh, mas isso não consistia em mudança no controle da empresa; pelo menos, era o que tentaram nos fazer acreditar.
A justiça que tarda
Três anos e meio depois, a CVM reavaliou a questão e fez justiça.
Agora, quais os impactos práticos dessa decisão?
Após seguidos episódios absurdos (em telecom, nas empresas X...) podemos finalmente acreditar que o tal “tag along” existe.
Segundo, que a CVM fez o correto. E isso é louvável. Ponto para a autarquia.
Veja o que aconteceu com as ações da Usiminas desde o começo deste ano:
Diga-me: que acionista em sã consciência entregaria por R$ 9,60 uma ação que vale hoje quase R$ 20,00?
O timing muda tudo
Fosse seis meses antes, essa decisão daria um amplo potencial de valorização para os acionistas de Usiminas, que poderiam optar por vender a sua participação.
Assim, eles teriam um argumento tangível, ou material, para justificar tamanha valorização - e não apenas o argumento especulativo atual, de eventual movimento societário ou oferta hostil que solucione o conflito entre os sócios Nippon e Techint.
Fosse três anos e meio atrás, os acionistas teriam forte potencial de valorização, e muito antes.... Esse lucro realizado poderia estar rendendo mais em outra aplicação.
Fosse antes, com efeitos práticos, provavelmente o grupo Techint não conseguiria ir para frente com o negócio...
Ora, os caras fizeram toda uma engenharia financeira para bancar R$ 617 milhões pela participação de 10,4% na empresa.
Tivessem de abrir a oferta para toda a base de acionistas, os termos seriam totalmente outros, poderia faltar dinheiro, inviabilizando o negócio.
Viu como o timing da justiça mudou tudo?
Contra estes 2 fatos, ainda há argumentos?
Tomei a liberdade de explorar mais a fundo essa questão corporativa porque tanto o noticiário econômico quando o político (que é econômico) permitem.
Afinal, hoje não preciso gastar verbo... Duas imagens dizem mais do que muitos milhões de argumentos (e contra-argumentos):
1) A China confirmou o menor crescimento da sua economia em 6 anos.
E é esse o retrato que temos do seu mercado:
Qualquer semelhança com a bolha pontocom americana pode não ser mera coincidência... Na verdade, quem leu os últimos M5M viu que, em termos de múltiplos, a bolha atual da Bolsa chinesa já superou por muito a bolha americana de 1999-2002.
2) Se a China se preocupa com o seu menor crescimento, de 7%, ainda tem gente que argumenta em favor do nosso crescimento, NEGATIVO, com inflação de mais de 8% e o maior juro real do mundo.
Motivo de orgulho para alguns, o Brasil, junto dos companheiros argentinos e venezulanos, está levando a média da América Latina, que já é inferior à média global, para o buraco...
E foi-se todo o argumento de que a crise vem de fora, se é que alguém ainda acreditava nisso...