O consenso
Edwin Land, fundador da Polaroid, é um dos heróis de Steve Jobs, fundador da Apple (NASDAQ:AAPL) (SA:AAPL34). Os dois têm perfis bastante semelhantes, mas o final da história de cada uma de suas empresas é bem diferente.
Land também adorava fazer grandes apresentações teatrais, era reconhecido por sua criatividade, obsessão com design e qualidade, além de também não dar muito valor para as pesquisas de mercado.
Ele levou sua empresa a obter grande sucesso, mas assim como Jobs, foi forçado a abandonar a gestão da companhia que fundou. Todavia, diferentemente do fundador da Apple, viu seu império ruir.
Land é lembrado como o criador da câmera instantânea (1948), mas foi responsável por algo maior, o filtro polarizador, que ainda é utilizado em diversos produtos, como óculos de sol, relógios digitais, calculadoras e óculos 3D para o cinema.
Contudo, apesar de toda a criatividade (Land é o segundo americano com o maior número de patentes acumuladas), Land não foi capaz de impedir que o senso comum arruinasse a sua empresa.
O lançamento da câmera instantânea fez com que a receita da empresa saltasse de menos de 7 milhões de dólares em 1950 para quase 100 milhões em 1960, e 950 milhões em 1976.
Durante esse período, o mercado da fotografia não sofreu grandes alterações. No entanto, com a revolução digital, tudo mudou. Por incrível que pareça, a Polaroid também foi uma das empresas pioneiras na fotografia digital, mas faliu por causa dela.
Em 1981, a empresa até estava desenvolvendo a tecnologia. Em 1992, possuía um protótipo de câmera digital pronto. Mas a equipe da divisão eletrônica só conseguiu convencer o restante da empresa a lançá-lo em 1996.
Era tarde demais. Com mais de 40 concorrentes já tendo lançado suas câmeras digitais no mercado, o produto da Polaroid (apesar da excelência técnica) foi um fracasso.
Land chegou a ser procurado pelo fundador da Sony, em 1980, para desenvolver em conjunto uma câmera eletrônica, mas não deu muita bola para a ideia por conta da premissa que reinava em sua empresa.
O grande erro da Polaroid foi assumir a premissa errada, de que os consumidores sempre iriam querer cópias físicas de suas fotos. Essa ideia era um consenso dentro da companhia, a ponto de ninguém questioná-la.
O consenso levou a empresa ao fracasso.
O isolamento
À medida que a empresa começava a passar por dificuldades com a ruptura do mercado, Land foi se tornando menos propenso a ouvir opiniões divergentes das suas, considerando apenas as ideias daqueles que o seguiam cegamente.
Naquele ponto, Land estava obstinado a lançar sua filmadora instantânea, a Polavision. O presidente da empresa questionou o conceito, e Land passou a trabalhar em um andar separado, ao qual nenhum cético tinha acesso.
Esta é uma tendência comum do comportamento humano: quando o desempenho está ruim, a maioria das pessoas busca aconselhamento apenas de quem compartilha seus pontos de vista.
Acontece que quando erros precisam ser corrigidos, são exatamente as visões diferentes que podem trazer a solução. Não importa se as opiniões divergentes estão certas ou erradas; em qualquer um dos casos, o estímulo ao pensamento crítico e à criatividade leva a soluções que acabam sendo melhores.
No caso da Polavision, sem opiniões divergentes, o produto foi outro fracasso.
A filmadora era tecnologicamente engenhosa, mas era capaz de gravar apenas alguns minutos de filme, enquanto as demais câmeras disponíveis no mercado conseguiam gravar por horas.
Depois que a empresa perdeu cerca de 600 milhões de dólares, o conselho se livrou de Land.
O excesso de confiança
O grande problema da Polaroid (e de qualquer pensamento que é aceito por um grande grupo sem muitos questionamentos) é o excesso de confiança.
Todos na empresa estavam convictos de que os clientes nunca abririam mão de suas fotos impressas e continuavam a fabricar câmeras baratas para lucrar com a venda de filmes.
Por que considerar uma margem de 38 por cento projetada para as câmeras digitais se, com a venda de filmes, a margem era de 70 por cento?
Quem questionava o modelo de negócios da companhia ou duvidava da longevidade de sua principal fonte de renda era rapidamente classificado como alguém incapaz de reconhecer o valor de um registro fotográfico instantâneo e permanente.
“A Polaroid não vende aquilo que não inventou” era uma das frases ditas pelos executivos e refletia o excesso de confiança da empresa em sua capacidade de prever o futuro e criar os melhores produtos.
Adam Grant, em seu livro “Originais”, resumiu com maestria a história da Polaroid ao dizer que a empresa até poderia ter sobrevivido à ruptura, porém, ao invés disso, “seus líderes ficaram tocando violino enquanto a empresa naufragava”.
O aprendizado
Essa rica história tem lições valiosas não apenas em relação à estratégia ou à cultura empresarial, mas também em relação às ideias de investimento na bolsa.
As melhores oportunidades para encontrar ações capazes de multiplicar seu capital por várias vezes normalmente não vão ser capturadas por quem investe em sintonia com o consenso.
Apesar de ser a ideia da maioria, existe uma chance bem alta de que o consenso esteja simplesmente errado. Ainda, mesmo que a maioria esteja certa, se todos pensam da mesma maneira, os preços das ações que são unanimidade não serão os mais baixos, o que reduz drasticamente o seu retorno potencial.
Com a história, também aprendemos o quanto é importante buscar por posicionamentos que sejam divergentes dos nossos. Só assim poderemos desenvolver ideias superiores e, ao mesmo tempo, desviarmos do poder ofuscante de nossas próprias convicções.