O mercado de açúcar em NY fechou a semana em queda de 58 pontos no vencimento julho/2015, que encerrou o pregão a 12.31 centavos de dólar por libra-peso, a menor cotação desde o início de abril. E os fundos, que erraram a mão na semana passada mantendo uma posição comprada, já a reverteram novamente e agora estão vendidos cerca de 12.000 lotes. Os demais meses de negociação no mercado futuro mantiveram o tom negativo e mostraram quedas entre 7.50 e 12.00 dólares por tonelada. O potencial de ganho para os fundos é menor desta vez tendo em vista que o mercado está bastante pressionado com todas as notícias ruins devidamente consideradas no preço.
O mercado de açúcar acumula uma queda de 24% em relação ao valor mais alto negociado no ano que foi de 16.16 centavos de dólar por libra-peso no dia 21 de janeiro. No acumulado do ano, no entanto, o açúcar retraiu-se pouco mais de 15%.
É interessante notar que o petróleo em reais cumulativamente neste ano, variou positivamente em 23.36%, ou seja, ajudou diretamente que a relação econômica do etanol melhorasse no mercado interno. A gasolina lá fora subiu este ano mais de 21% em dólares. Ou seja, não fosse essa situação, certamente o açúcar estaria ainda mais pressionado.
O preço médio do fechamento do açúcar de NY (primeiro mês de negociação) convertido em reais (pela taxa do Banco Central) apurado desde 01 de janeiro de 2014 atingiu a média de R$ 889.35 por tonelada. Isso, apesar do "apagão" registrado em setembro do ano passado quando os preços derreteram e ficaram abaixo dos R$ 800 por tonelada (a mínima foi de R$ 723.79). A média dos quatro primeiros meses de 2015 é de R$ 918.38 por tonelada, 3.87% acima do valor no mesmo período do ano passado, que foi de R$ 884.19 por tonelada. Isso posto, ao dólar de fechamento de sexta-feira, que foi de 3.0950, podemos dizer que NY encerrou o pregão aproximadamente a 14 dólares por tonelada abaixo da média anual, mais ainda 47 dólares por tonelada acima do preço mais baixo observado em setembro do ano passado.
A oitava estimativa de fixação de preço para os contratos de exportação das usinas para a safra 2015/2016, segundo o modelo desenvolvido pela Archer, até 30 de abril de 2015, é de 48.92% ao preço médio de 15.79 centavos de dólar por libra-peso. Esse valor equivale a 42.04 centavos de real por libra-peso e o câmbio médio feito pelas usinas correspondente a essas fixações é de 2.6623. As fixações estão na média de R$ 945.16 por tonelada FOB. O volume de fixação nesta safra é inferior em 2.65 pontos percentuais ao da safra passada no mesmo período (51.57%) e, embora a fixação em dólares da 2014/2015 tenha sido superior, cravando 17.43 centavos de dólar por libra-peso, o valor em reais foi 2.2% menor, alcançando em 30 de abril de 2014 o valor de R$ 924.48 por tonelada FOB.
O consumo total de combustível no mês de março/2015 divulgado (com atraso) pela ANP foi de 4.85 bilhões de litros, sendo 2.55 bilhões de litros de gasolina A e 2.3 bilhões de litros de etanol (anidro e hidratado). No acumulado de doze meses, compreendendo o período entre abril de 2014 e março de 2015, o consumo cresceu 6.45% totalizando 58 bilhões de litros. O consumo de hidratado cresceu 13.17%, o de anidro 6.22% e o de gasolina A 3.94%. Em números absolutos, nos últimos doze meses houve um acréscimo do consumo de etanol de 2.25 bilhão de litros com tendência de alta já que há um ano o mix de combustíveis era de 41.5% de etanol e hoje passou para 42.9%. Mantida essa tendência para essa safra, no mínimo mais 23 milhões de toneladas de cana terão que ser destinadas para a produção de etanol em relação à safra passada.
O governo federal cancelou o decreto que entraria em vigor a partir de 1º de julho taxando as operações de hedge cujo impacto apenas no setor sucroalcooleiro, segundo estimativas da Archer, seria de R$ 92 milhões. Os burocratas de Brasília não possuem traços de ingenuidade em seu caráter. Lançaram o novo imposto e se ninguém reclamasse, tudo bem. Empresários de outros setores, principalmente o de importações, cujo hedge cambial é vital para a preservação de valor dos ativos, temiam o pagamento de milhões de reais gerados pelo tal imposto e alguns deles até pensaram em encerrar as atividades no país. O ministro Levy, que é homem de mercado, deve ter se assustado com essa patacoada governamental.
Um importante formador de opinião do mercado sucroalcooleiro compara o setor à premiada série de TV americana “The Walking Dead” que conta a história de um grupo de sobreviventes de um apocalipse zumbi. “O fato”, diz o especialista, “é que estamos vendo cada vez mais zumbis caminhando. Antes eram 3 ou 4, agora são mais de 15”, complementa com a analogia óbvia sobre a situação difícil de diversas usinas ao meio de poucos sobreviventes. Quem dera a comparação fosse com “Cantando na Chuva”.
Arnaldo Luiz Corrêa