Além da taxa: O custo do conflito de interesses no mercado financeiro

Publicado 11.11.2025, 09:02

No início deste ano, uma pesquisa do Bank of America revelou que apenas 9% dos gestores acreditavam que o Ibovespa ultrapassaria os 140 mil pontos ao longo de 2025. Em paralelo, a expectativa média era de que o dólar flutuasse em torno de R$ 6,10 no final do ano. Porém, essas previsões vêm falhando sistematicamente, mostrando a dificuldade em capturar os movimentos reais do mercado e a volatilidade imprevisível dos ativos financeiros.

Esse desencontro constante entre expectativas e resultados reais ilustra uma importante dimensão do comportamento dos investidores: a influência dos vieses comportamentais nas tomadas de decisão. Os investidores, assim como gestores, tendem a se apegar a previsões que confirmam suas crenças ou a modelos que nem sempre refletem a complexidade do mercado, reproduzindo erros em série. Além disso, a pressão por resultados rápidos pode levar a escolhas que nem sempre são alinhadas ao perfil de risco e objetivos pessoais.

Nesse contexto, os conflitos de interesses se tornam ainda mais críticos. É comum que profissionais do mercado recebam comissões que aumentam conforme o patrimônio dos clientes alocado em determinados produtos, o que pode gerar recomendações que favorecem os emissores dos produtos, e não necessariamente os interesses do investidor. Essa situação não é universal, mas prejudica a reputação do setor e evidencia a necessidade de maior transparência e profissionalização.

Nos últimos anos, o setor financeiro brasileiro vem promovendo uma transição do modelo tradicional comissionado para o fee based, em que a remuneração do assessor ou consultor é independente das vendas, baseada em valores fixos ou percentuais predeterminados. Esse modelo tende a preservar o relacionamento no longo prazo, promovendo mais ganhos com ética e evitando a postura de tentar “segurar” o cliente a qualquer custo.

Outro ponto que merece atenção são as taxas de administração e performance cobradas em fundos de investimento. É uma relação assimétrica: mesmo diante de anos consecutivos com desempenho abaixo do benchmark, essas taxas usualmente não recuam, continuando a remunerar os gestores. Isso reforça a importância de o investidor estar atento e avaliar cuidadosamente o custo-benefício dos fundos escolhidos.

Para tornar esses conceitos mais concretos, destacaremos dois casos recentes que ilustram bem os desafios e oportunidades do mercado: o caso do Itaú, que mostra como a experiência do usuário pode gerar impactos financeiros significativos, e o caso dos CDBs do Banco Master, que alerta para os riscos não óbvios por trás de produtos aparentemente vantajosos.

O caso do Itaú ilustra como pequenas mudanças na interface digital podem gerar impactos financeiros gigantescos. A simples mudança da posição do botão "parcelar fatura" no app do banco, feita com base em estudos detalhados do comportamento do usuário, aumentou a receita em centenas de milhões de reais. Por outro lado, o banco também desenvolveu um "hub de segurança" que agrupou diversas medidas antes dispersas no app, aumentando o número de acessos mensais de 20 mil para mais de 1,5 milhão e evitando aproximadamente 140 mil fraudes.

Essas ações mostram o poder do design centrado no cliente para gerar valor. Mas essa busca pelo aprimoramento dos hábitos dos usuários levanta uma questão ética fundamental: até que ponto essa otimização do comportamento é benéfica para o cliente e onde ela pode cruzar a linha do que seria invasivo ou manipulativo? 

Diferente de simples experiências de navegação, no mercado financeiro, as decisões impactam diretamente o patrimônio e a segurança financeira das pessoas. A clareza e a transparência são, portanto, essenciais para que tais ferramentas auxiliem o investidor a tomar decisões bem informadas, sem se tornar refém de interfaces que o direcionem para escolhas que podem não ser as melhores para seu perfil.

Finalmente, voltando ao tema da segurança nos investimentos, o exemplo dos CDBs do Banco Master é um alerta para todos. Apesar de oferecerem taxas como IPCA + 45% ao ano, os riscos envolvidos são elevados e incompatíveis com os perfis conservadores ou mesmo moderados. O temor de uma liquidação extrajudicial e as limitações do Fundo Garantidor reforçam a recomendação de se manter distante dessas operações, mesmo diante da promessa de retornos altos.

Investir com segurança, portanto, exige um olhar abrangente que vá além da simples taxa de retorno: compreender bem o emissor, avaliar custos, riscos e benefícios, conhecer o profissional que orienta e, sobretudo, manter a consciência das próprias limitações e vieses. Só assim se pode proteger o patrimônio e construir uma trajetória sólida em um mercado que, apesar das inovações, ainda convive com desafios estruturais relevantes como o conflito de interesses e o risco moral.

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