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Análise do Payroll: nem tudo é o que parece

Publicado 09.12.2023, 10:00

A economia americana atravessa um cenário singular, caracterizado pela expectativa do mercado quanto à manifestação de indicadores que reflitam fragilidade, sinalizando a efetivação das políticas monetárias do Federal Reserve destinadas a conter a demanda agregada e, por conseguinte, mitigar a pressão inflacionária. Em termos simplificados, para que a economia dos Estados Unidos evidencie a materialização dos efeitos contracionistas, é imperativo que apresente sinais de debilidade, tais como: desaceleração do crescimento econômico, redução na produção industrial, aumento do desemprego e moderação nos índices de consumo. Esses indicadores, quando observados, corroboram a eficácia das medidas adotadas pelo Federal Reserve no intuito de atingir seus objetivos macroeconômicos e ancorar as expectativas de inflação em 2%.

Com sinais de desaceleração anteriores, os agentes de mercado precificam as curvas de juros através da efetivação das expectativas acomodatícias futuras, tanto no mercado primário, quanto no mercado secundário. No último mês, podemos enxergar uma desaceleração no mercado de trabalho, que se demonstrou materialmente no aumento marginal dos pedidos de seguro-desemprego. Isso se deu por conta da cessação dos fatores que estavam impedindo a consecução das medidas contracionistas a partir dos canais de transmissão da política monetária, ou seja, fatores endógenos americanos estavam impedindo, e ainda impedem, a concretização da transmissão ideal das medidas contracionistas. Nesse sentido, podemos enxergar claramente dois fatores que estão perpetuando esse atraso na transmissão: gastos governamentais e excesso de meios circulantes por conta de afrouxamento desmedido anterior.

Os gastos governamentais, notadamente quando se considera a magnitude da dívida total dos Estados Unidos, desempenham um papel significativo nessa equação. A extensão desses gastos, muitas vezes financiados por meio de endividamento, pode gerar impactos na eficácia das políticas monetárias ao influenciar a alocação de recursos e a dinâmica da demanda agregada.

Quando o governo, de forma desmedida e, em muitos casos, com objetivos populistas e eleitoreiros, assume o papel de indutor do crescimento e orientador da economia, pode-se observar uma série de implicações de ineficiência. Essa intervenção excessiva pode distorcer os mecanismos naturais de mercado, levando a resultados indesejados e impactando negativamente a estabilidade econômica. Ao direcionar recursos de maneira pouco eficiente, visando atender a demandas políticas imediatas em detrimento de uma abordagem fundamentada em princípios econômicos sólidos, o governo pode criar desequilíbrios e incentivos distorcidos. Essa intervenção desmedida muitas vezes resulta em desperdício de recursos, ineficiência alocativa e, em última instância, pode comprometer o crescimento econômico sustentável. Para aprofundar essa compreensão é necessário compreender o papel da praxeologia e do conhecimento difundido.

O excesso de meios circulantes proveniente de políticas monetárias expansionistas anteriores comprova outra característica intrínseca da teoria econômica, a inépcia das manipulações da moeda em detrimento da economia real. O aumento da oferta de dinheiro, quando não acompanhado por um correspondente aumento na demanda, resulta em pressões inflacionárias e distorções nos mercados financeiros.

Agora, ao ultrapassar a barreira da resiliência econômica americana, evidenciada por alguns indicadores sinalizando debilidade (isso é relativo, mas alguns agentes de mercado estavam, e ainda estão precificando isso), surge a questão: o que explica o ressurgimento da força do mercado de trabalho, refletido na redução do desemprego e em dados resilientes do Payroll na perspectiva de muitos agentes de mercado?

Primeiramente, devemos considerar que o Payroll é um indicador retroativo, ou seja, um lag indicator. Isso significa que ele reflete eventos passados e pode não capturar imediatamente as mudanças na economia. Para identificar fenômenos de frequência mais altas é necessário observar indicadores mais sensíveis, como os pedidos iniciais de seguro-desemprego. No próprio relatório do Payroll, divulgado pela BLS (Bureau of Labour Statistics), é evidenciado que os empregos criados, em sua maioria, foram nas áreas da saúde e do setor público.

Isso indica que, mesmo com o aumento no Payroll, não condiz necessariamente com a dinâmica dos agentes privados, que baseiam suas decisões em cálculos econômicos e eficiência de mercado. O fato de os empregos estarem sendo majoritariamente gerados pelo setor público e em áreas específicas pode levantar questões sobre a sustentabilidade desse crescimento, especialmente se não estiver alinhado com as demandas naturais da economia. A dependência excessiva do governo na criação de empregos pode distorcer as condições de mercado, afetando a alocação eficiente de recursos.

Além disso, o setor de manufatura também registrou um aumento conjuntural, atribuído à retomada do trabalho pelos grevistas da UAW (United Auto Workers). A interpretação desses dados sem considerar as análises conjunturais pode induzir a uma visão míope das condições atuais.

Apesar do aumento marginal observado em alguns setores devido a condições endógenas e possíveis características artificiais e temporárias, é crucial reconhecer que outros setores igualmente relevantes, como varejo e transporte, apresentaram sinais de fraqueza. Essa fraqueza, por estar associada a fatores puramente econômicos, como as expectativas dos agentes econômicos no arrefecimento da demanda no varejo e nos transportes, por conta de fatores diversos, mas, principalmente por conta do aumento das taxas de juros de mercado, representa que apesar de distorções em alguns setores, a economia americana está sentindo o aperto monetário, e a leitura "crua" dos dados do Payroll pode não transfigurar isso.

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