Kathy Lien, diretora executiva de estratégia de câmbio da BK Asset Management
Três eventos podem desencadear um forte ali no dólar estadunidense nesta semana: as tratativas comerciais entre EUA e China, as atas do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) e os comentários de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA). Os investidores estavam céticos na manhã de ontem em relação ao comércio, pois o vice-premiê He, da China, sugeriu que seu país não abriria mão da sua política industrial nem dos subsídios estatais. Embora essa posição não tenha mudado, ao final do dia, o Ministro de Comércio da China afirmou que eles estão preparados para um acordo parcial em pontos já acordados, como a aquisição de produtos agrícolas dos EUA. Também definirão um cronograma de trabalho para um acordo mais amplo no ano que vem. Mas mudanças na legislação de propriedade intelectual ou nos subsídios governamentais estão completamente fora de cogitação.
O governo Trump não indicou se essa oferta é aceitável, mas o par USD/JPY subiu forte com a crença de que o presidente dos EUA garantirá essa vitória para desviar as atenções do processo de impeachment e impulsionar as ações. A grande questão é o que isso realmente significa: será que os EUA recompensarão o acordo com uma redução gradual nas tarifas? Em caso positivo, o rali no USD/JPY e em todos os outros pares com o iene japonês pode ser prolongado, especialmente com a queda nas expectativas de um corte de juros. Mas se os EUA rejeitarem a tentativa de acordo e pressionarem por maiores compromissos por parte da China, recusando-se a baixar as tarifas, o dólar reverterá seus ganhos rapidamente. Enquanto aguardamos a resposta dos EUA, as manchetes comerciais sobre a China continuarão dominando os fluxos no dólar.
Enquanto isso, não esperamos muito dos comentários do presidente do Fed, Jerome Powell. Na sexta-feira, ele levantou dúvida quanto à necessidade de um afrouxamento maior, ao dizer que a economia está forte, mas, no contexto de manchetes comerciais positivas, comentários menos dovish poderiam desencadear um rali mais amplo no dólar. Os traders estão precificando em 70% a chance de um corte de juros no final deste mês e, se as atas do Fed reduzirem ainda mais essas expectativas, podemos ver o par USD/JPY atingir 108. Considerando que dois membros votaram contra a redução dos juros na última reunião, as atas deve ser menos dovish. O relatório de inflação de hoje ficará em segundo plano em relação a essas notícias mais importantes, pois as pressões de preço estão atenuadas.
A perspectiva de um acordo comercial parcial também deveria ter impulsionado os dólares australiano e neozelandês, mas não vimos uma reação maior nessas divisas. Ambas as moedas tiveram os piores desempenhos ontem, encerrando a sessão de Nova York nas mínimas do dia. Esse cenário, em conjunto com o movimento apagado do Dow ontem, reflete o ceticismo dos investidores por não verem passos concretos do presidente Trump para reduzir as tarifas.
Outra notícia importante de ontem foi o revés para um Brexit suave. Lord Pentland determinou que o primeiro-ministro Johnson não seria obrigado a requisitar uma extensão do Brexit da União Europeia. Ele argumentou que o PM concordou em respeitar a lei e não havia necessidade de “ordens coercitivas” para forçar o governo a tanto. Os investidores ficaram decepcionados, porque uma decisão de forçar as ações do primeiro-ministro poderia ter descartado uma saída caótica em 31 de outubro. Agora teremos que ver se Johnson mantém sua palavra. Ele declarou que a bola está com a corte da UE, pois ele já enviou suas propostas. Sem ser forçado a pedir um adiamento, a chance de um Brexit sem acordo é de 60% ou mais.
O euro ficou a poucos pontos de 1,10 apesar de pedidos mais fracos às fábricas na Alemanha. Os números de produção industrial estão agendados para hoje e devem ser fracos. Embora haja risco no par EUR/USD, a perspectiva de desapontamentos maiores nos dados alemães significa que qualquer rali deve bater no teto de 1,10.