Reino Unido e Estados Unidos estão provocando um reordenamento estratégico em várias economias globais antenadas às mudanças no cenário de médio e longo prazo. Antes mesmo da surpresa com o Brexit, China e Índia já estavam iniciando reformas importantes em suas respectivas economias.
Agora, com o Brexit em curso, num caminho sem volta e Donald Trump avançando em sua agenda protecionista, economias que estavam no modo stand by começam a reagir. A chanceler alemã, Angela Merkel, se reuniu com o presidente francês, Emmanuel Macron, nesta sexta-feira para iniciar formalmente os trabalhos de reformar a zona do euro.
Merkel venceu as eleições em setembro do ano passado, mas a formação da maioria no Parlamento demorou cerca de seis meses, reflexo do aumento do extremismo em toda a Europa. Macron venceu com facilidade as eleições na França, mas vem enfrentando dura oposição no Congresso para avançar com sua agenda de reformas. Na Itália, terceira maior economia do bloco, partidos anti-União Europeia e anti-imigração cresceram de forma significativa nas últimas eleições.
Além de buscar uma agenda para frear o crescimento do extremismo na União Europeia, França e Alemanha devem avançar em medidas de melhoria da competitividade das empresas europeias no comércio global (já que o ambiente está ficando nitidamente mais desafiador), reforçar a resistência da união monetária e melhorar a capacidade de resistir às crises financeiras.
Os alemães estão longe de aceitar um único Orçamento e ministro das Finanças para toda a zona do euro, mas estão abertos para discutir a tão necessária União Bancária e transformação do Mecanismo Europeu de Estabilidade em uma espécie de Fundo Monetário Europeu. Um dos objetivos é fortalecer o sistema financeiro em toda a zona do euro e impedir que os contribuintes europeus sejam obrigados a resgatar os bancos em caso de falência.
Na Rússia, o presidente Vladimir Putin ordenou a criação de uma força tarefa para elaborar um programa sobre as prioridades nacionais até 2024, sendo o principal objetivo incluir o país no clube das cinco maiores economias do mundo.
O decreto assinado hoje por Putin, que certamente será reeleito no próximo domingo para um novo mandato de 6 anos, é reflexo de sua principal promessa de campanha eleitoral. Para alcançar o grupo das cinco maiores economias mundiais, a Rússia tem uma meta de crescer acima da média global, investir fortemente em tecnologia e elevar o nível de vida dos cidadãos, onde atualmente 30 milhões de pessoas vivem na linha da pobreza para os padrões russos.
No Japão, o primeiro-ministro Shinzo Abe, que desfruta de uma supermaioria no Parlamento, avança com sua agenda de reformas, apesar de pouco comentada no cenário global. Para o ano fiscal que começa em abril de 2018, Abe já conseguiu aprovar uma ampla reforma tributária, no qual concede isenções tributárias para empresas que elevarem salários em pelo menos 3% e aumentarem os investimentos na economia local. As empresas que permitirem seus empregados estudarem em universidades para crescimento profissional também pagarão menos impostos.
Na América Latina, exemplos de reformas importantes aprovadas e/ou em andamento podem ser observadas na Argentina, Peru e Chile. No Brasil, houve uma tentativa fracassada de melhoria da situação fiscal calamitosa e pouco se discutiu sobre a quebra da muralha ao crescimento sustentado formada pelo péssimo ambiente de negócios arrastada há anos, grandes problemas que precisarão ser encarados pelo próximo presidente.