As pessoas mais preparadas do mundo cometem erros investindo que você pode evitar

Publicado 08.09.2025, 13:45
David Swensen é  famoso por seu desempenho à frente do fundo de investimento dos recursos da Universidade Yale. Ele revolucionou o segmento de endowments ao investir em ativos alternativos (private equity, venture capital, hedge funds) desafiando a ainda tradicional fórmula de portfólio composto por 60% de ações e 40% de títulos públicos, que era o padrão até ali.
 
Durante os 35 anos em que esteve à frente do fundo, Swensen entregou um retorno médio anual de 13,1%. Isso superou não só os 8,8% de uma carteira convencional 60/40, mas também o próprio S&P 500.
 
Logo, Harvard, Brown, Columbia, Northwestern e tantas outras copiaram a estratégia. Elas reduziram drasticamente a fatia em ativos líquidos e mergulharam nos alternativos. Em 2024, segundo a NACUBO (National Association of College and University Business Officers), a média das universidades com mais de 5 bilhões de dólares em endowment era esta: apenas 2% em caixa, 6% em títulos de renda fixa, 8% em ações nos EUA e 16% em ações internacionais. Os outros dois terços estavam presos em fundos privados e investimentos que não têm mercado de revenda.
 
O chamado “Yale Model” consistia em reduzir ao máximo a exposição a ativos tradicionais e priorizar os alternativos. Hoje, cerca de 95% do endowment de Yale está em private equity, venture capital e outros ativos não negociados em bolsa. Só em fundos de venture capital e leveraged buyouts, Yale detinha mais de 20 bilhões de dólares em 2024.

A mudança de ventos

 
Essa estratégia funcionou bem por muito tempo, mas os últimos anos trouxeram problemas. O endowment de Yale, atualmente em 41,4 bilhões de dólares, cresceu pouco em 2024 e vem abaixo do necessário desde 2022. No acumulado de 10 anos, o retorno médio de 9,5% ainda é o segundo melhor entre as universidades da Ivy League, mas não tem sido suficiente para sustentar o ritmo de gastos.
 
O resultado: cortes em contratações de professores, congelamento de aumentos salariais e suspensão de projetos de construção. Para o ano fiscal de 2026, Yale já anunciou um orçamento “muito mais restrito”.
 
E não é só Yale. Quando Donald Trump ameaçou cortar aportes federais às universidades, instituições bilionárias se viram sem liquidez para reagir. Harvard, com seus 53 bilhões de dólares em patrimônio, levantou 750 milhões no mercado em abril. Northwestern tomou emprestados 500 milhões. Brown recorreu a 800 milhões em novas dívidas para se proteger do pior.
 
E quando tentaram vender parte dos ativos privados, descobriram outro problema: o mercado não paga o valor de tabela. Depois de meses tentando, Harvard conseguiu vender 1 bilhão de dólares em fundos de private equity, mas só encontrou comprador disposto a pagar com um desconto de 7%.

“Cash is king”

 
Esse é o ponto central: ter caixa é ter oxigênio. Sem ele, não adianta ter patrimônio. Pense em empresas do varejo que lucram no papel, mas quebram porque não conseguem pagar fornecedores. Ou companhias aéreas que vendem passagens a rodo, mas entram em recuperação judicial porque não têm liquidez para enfrentar uma crise de combustível.
 
E pense também em famílias. É cada vez mais comum encontrar famílias que vivem em uma casa avaliada em milhões, mas que passam sufoco para pagar as contas do mês. O patrimônio existe, mas está imobilizado. Se não há reserva em dinheiro, basta uma emergência para a situação virar um sufoco.

A lição para o investidor comum

 
O drama das universidades da Ivy League é um alerta claro para todos nós. Não adianta construir uma carteira “sofisticada” se você esquece o básico: liquidez. Reserva de emergência não pode estar em ações, fundos com carência ou aplicações que exigem desconto para resgatar antes do prazo.
 
Ela precisa estar em investimentos simples, líquidos, que permitem saque imediato. O objetivo não é rentabilidade, é segurança. É a certeza de que você terá dinheiro na mão quando o imprevisto acontecer.
 
Claro, liquidez não é só caixa parado
 
Aqui cabe um esclarecimento importante: liquidez não significa necessariamente guardar dinheiro vivo em conta corrente, rendendo zero. Existem investimentos de liquidez diária, como Tesouro Selic e alguns CDBs de bancos grandes, que cumprem esse papel de forma muito mais eficiente e segura. São ativos que podem ser resgatados rapidamente, geralmente no mesmo dia, sem perda de valor.
 
Portanto, ao falar em reserva de emergência, não estamos defendendo deixar o dinheiro parado, mas sim alocá-lo em aplicações seguras e com resgate imediato. Essa é a diferença entre estar preparado para o imprevisto e se colocar na mesma situação que hoje vivem Harvard e Yale.

A lição mais básica de todas

 
As universidades mais ricas do mundo repetiram os erros de 2008 e se esqueceram da lição mais básica de todas. Você não precisa fazer o mesmo. Liquidez não é luxo, é sobrevivência. Em finanças, assim como na vida, cash is king. Quem esquece disso, mesmo com bilhões na conta ou uma mansão para mostrar, corre o risco de ficar sem ar quando mais precisa.

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