O cenário de investimentos na pecuária observado nos últimos anos aumentou a oferta de bezerros e derrubou os preços. Com resultados piores, criadores têm abatido mais vacas e novilhas, a oferta de carne aumentou e os preços dos animais terminados também caíram. É o ciclo pecuário, que abordamos em outras ocasiões neste espaço.
Hoje vamos demonstrar o quanto o mercado cedeu desde as máximas dos últimos anos, tanto para o boi gordo, quanto para o bezerro.
Considerando valores desde 1997, deflacionados pelo IGP-DI, apenas em 2006 tivemos uma queda tão forte para o boi gordo, frente às máximas anteriores. Veja a figura 1.
Figura 1. Evolução dos preços reais do boi gordo em São Paulo, máximas até a data e recuo desde a máxima anterior.
Considerando a cotação média de agosto/23, o recuo foi de 34,2%, em valores deflacionados, desde a máxima, observada em novembro de 2020 (R$336,51/@). É o menor valor desde junho de 2018, considerando preços reais e médias mensais.
Se para a referência atual usarmos as cotações diárias recentes, em torno de R$200,00/@ em São Paulo, é o menor preço desde 2012.
Para o bezerro, o cenário é semelhante, com queda de 42,6% em relação ao preço máximo real, de R$3,32 mil, em abril de 2021. No caso do bezerro, a queda atual superou a observada em 2006 e foi a maior do intervalo analisado (desde 1997).
Em janeiro de 2006 a cotação do bezerro teve média de R$1,11 mil por cabeça, recuo de 42,0% frente à máxima anterior do intervalo, observada em março de 2002, de R$1,9 mil, em valores deflacionados.
Figura 2. Evolução dos preços reais do bezerro em São Paulo, máximas até a data e recuo desde a máxima anterior.
Considerações
O ciclo pecuário é um velho conhecido da pecuária e tem que fazer parte das estratégias do produtor, mas também é fato que a queda atual não tem uma magnitude comum.
Mesmo em anos de baixa do ciclo, o mercado costuma ganhar alguma sustentação com a entrada da seca e a entressafra, o que não tem sido observado nesta fase de baixa.
O aumento do uso de estratégias de suplementação e confinamento pode ter sua parcela nesse movimento de oferta em plena entressafra, visto em 2022 e 2023, mas o nível de otimismo lá atrás, com os preços em 2020 e 2021, assim como os investimentos resultantes, têm boa parte da “culpa” nessa oferta maior.
O que resta ao produtor é não perder de vista que, embora o momento seja muito complicado, é justamente este desânimo que leva ao ajuste de produção e preços maiores em alguns anos. Pensando no criador, o bezerro que ele ofertará em 2025 (provavelmente com um mercado melhor) é o oriundo da estação de monta que começa nos próximos meses.