Bancos brasileiros foram questionados por Tesouro dos EUA sobre ações envolvendo Lei Magnitsky, diz fonte
A Operação Carbono Oculto não revelou apenas fundos suspeitos de lavagem de dinheiro pelo PCC. Deixou exposta a falha mais grave que pode existir em qualquer sistema financeiro: a erosão da responsabilidade fiduciária. Ficou clara a fragilidade estrutural do sistema financeiro brasileiro diante do crime organizado.
Quando gestores e administradores, os guardiões do patrimônio de terceiros, permitem que estruturas de investimento se tornem canais de lavagem de dinheiro, não estamos diante somente de um caso policial. Estamos diante de uma ameaça à credibilidade do mercado de capitais brasileiro.
Sem confiança, não há capital. Sem capital, não há desenvolvimento. Como disse Warren Buffett, “é preciso 20 anos para construir uma reputação e cinco minutos para destruí-la”. O Brasil pode estar a cinco minutos de perder a confiança de investidores globais. Ao legitimar, mesmo que indiretamente, a infiltração do crime organizado no mercado de capitais, o Brasil abre espaço para que investidores globais, de BlackRock a fundos soberanos, reavaliem sua exposição ao país.
Em qualquer economia madura, a credibilidade é o ativo mais valioso do sistema financeiro. Fundos de investimento, sejam eles abertos ou fechados, só existem porque investidores acreditam que há responsabilidade fiduciária dos gestores e administradores. Isso significa zelo absoluto pelo patrimônio de terceiros, rigor ético e transparência radical. Quando a linha se rompe e esses agentes permitem, por ação ou omissão, que estruturas legítimas sejam instrumentalizadas pelo crime, a confiança evapora.
O recado internacional é claro: se o país não for capaz de blindar seus fundos contra a captura criminosa, não haverá ESG, não haverá atração de capital verde, não haverá discurso de modernidade que se sustente.
O impacto, portanto, não é apenas financeiro. Ele é político e econômico. Num momento em que o Brasil tenta se firmar como destino de capitais sustentáveis, aliado à pauta ESG, o episódio oferece munição para sanções internacionais e para discursos que colocam em dúvida a capacidade do país de manter um ambiente de negócios íntegro. Como bem nos lembra Larry Fink, sem confiança não há fluxo de capital de longo prazo.
É hora de o Estado, os reguladores e o próprio mercado reconhecerem: compliance não é papel timbrado, é cultura viva. A escolha agora é entre a transparência radical ou o isolamento financeiro.
Esse caso é também um chamado ao Governo e às autarquias reguladoras. A resposta não pode ser apenas burocrática: equiparando fintechs a bancos e engessando a inovação. O que se exige é inteligência regulatória, auditorias independentes, punições exemplares e a construção de uma cultura de compliance que não seja meramente declaratória.
O mercado de capitais brasileiro tem potencial para ser uma das maiores forças de desenvolvimento econômico do país. Mas, se continuar convivendo com brechas que permitem que o crime organizado opere ao lado de gestores, a promessa de crescimento será substituída por desconfiança, fuga de capitais e isolamento nos fóruns globais de investimento.
A pergunta que se impõe é dura: o Brasil será capaz de transformar esse escândalo em um divisor de águas rumo à transparência ou continuará prisioneiro da conivência entre elite financeira e estruturas criminosas?