- A abertura de uma embaixada iraniana em Riad não deve influenciar as políticas de produção petrolífera da Arábia Saudita e da Opep.
- No entanto, a aproximação entre os dois países pode facilitar as negociações do Irã com os EUA, com possíveis repercussões sobre as sanções ao petróleo persa.
- O aumento da produção do petróleo do Irã, mesmo sob sanção, coloca em xeque a motivação do país em avançar em direção a um acordo nuclear.
Teerã abriu recentemente uma embaixada em Riad, capital da Arábia Saudita. Diversos observadores do mercado questionam se isso pode ter algum impacto relevante nos preços do petróleo. A resposta direta é não, pelo menos em nível relevante.
Em primeiro lugar, a iniciativa de aproximação iraniana não deve afetar a forma como a Arábia Saudita e a Opep lidam com o país persa ou o mercado petrolífero. Até agora, não há indicações de que a divisão entre Arábia Saudita e Irã tenha interferido em suas políticas de produção.
Apesar das tensões aparentes entre Riad e Teerã, a Opep, em grande medida dominada pela Arábia Saudita, vem concedendo consistentemente isenções ao Irã em relação às cotas de produção nos últimos anos. Portanto, não há indícios de que uma melhora nas relações entre os dois países possa influenciar de forma relevante o mercado.
A aproximação, entretanto, pode acabar facilitando a retomada das negociações entre os Estados Unidos e o Irã, o que, eventualmente, tem o potencial de enfraquecer ou mesmo suspender as sanções atuais aplicadas ao petróleo persa.
Caso isso venha a se concretizar, não seria demais esperar uma queda temporária na cotação do barril, na medida em que o mercado poderia antecipar um volume maior de negociação do petróleo iraniano aos preços de mercado. Cabe ressaltar que, ainda assim, a melhora nas relações EUA-Irã não implicaria necessariamente um aumento na produção de petróleo iraniano. De acordo com a última pesquisa da S&P Platts, o Irã produziu 2,66 milhões de barris por dia (mbpd) em maio de 2023.
Trata-se de um pequeno aumento em relação à taxa média de produção de 2,4 mbpd em 2021. No início de maio, o Irã afirmou ter atingido a produção de 3 mbpd, mas fontes independentes, como a Platts, não puderam confirmar tal informação.
Mesmo que o Irã não esteja produzindo exatamente 3 mbpd, pode-se constatar que suas extrações registraram um substancial aumento mesmo com as severas sanções impostas pelos Estados Unidos. Se o país persa conseguir aumentar a produção e as exportações mesmo sob sanção, não é demais antecipar que a motivação para seguir em frente com as negociações com os EUA poderia estar em xeque.
Há indícios de que os Estados Unidos e o Irã pretendem retomar em algum momento as tratativas, pois representantes de ambos os países viajaram a Omã para conversas indiretas intermediadas pelas autoridades locais.
As discussões versaram sobre a libertação de prisioneiros americanos detidos no Irã em troca da liberação dos fundos de petróleo e gás iranianos congelados em contas no exterior.
Embora as tratativas estejam longe de chegar a um acordo capaz de pôr fim às sanções, ainda mais pela forma como o petróleo iraniano vem sendo comercializado à margem das restrições, o incentivo do país para abrir mão de suas ambições nucleares não é mais tão relevante como antes. Assim, os investidores devem estar cientes de que as tratativas entre Estados Unidos e Irã não são necessariamente um sinal baixista para o mercado petrolífero.
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Aviso: A autora não tem em carteira nenhum dos ativos mencionados neste artigo.