A percepção inicial para o novo semestre revela certa empolgação consequente da ansiedade de que “tudo volte ao normal”, mas o fato concreto é que entre este sentimento e a realidade ainda existe um considerável “gap”, que, contrariando os presságios do Ministro Guedes, no Brasil não tende a ser equacionado ainda neste semestre no Brasil e deixará evidente que o “pico” da queda que não aconteceu em abril.
Por vezes as colocações sobre a retomada da atividade econômica deixa passar despercebida a realidade antecedente que já não era alvissareira e que se prospectavam mínimos detalhes para destacar que a economia brasileira estava ganhando tração, e, agora, com a pandemia do coronavírus latente e presente nem sabemos ao certo se atingimos o “fundo do poço”, não cabem entusiásticas expectativas, mas sim um olhar sensato sobre o quadro geral.
Esta realidade conspira contra a tese da retomada em V da atividade econômica e nos leva a acreditar que, quando se tornar efetiva, tende a ser em U com um espaço de no mínimo 2 anos para ganhar dinamismo.
O país, olhando para si próprio e não para as economias desenvolvidas que normalmente contagiam as nossas percepções, ainda está no centro do desafio de equacionar a dicotomia entre saúde e economia, tateando e ousando flexibilizações num ambiente em que a pandemia ainda gera dados negativos crescentes e preocupantes que torna o país sujeito ao risco de uma recidiva do aquecimento da crise.
O Brasil tem se safado no comércio exterior ancorado pelas exportações do agronegócio amparado pela demanda externa, mas também pela oportunidade do “câmbio alto”, e pouca coisa mais, o que viabiliza o superávit comercial de 7,5 bilhões de dólares em junho, recorde histórico para o mês da série iniciada em 1989, obtido principalmente pela queda profunda nas compras de produtos importados, mostraram dados divulgados ontem pelo Ministério da Economia.
O saldo veio acima da projeção de um superávit de 6,95 bilhões de dólares, segundo pesquisa Reuters com analistas, mas não a muito a comemorar pois não houve evolução nos negócios e sim retração.
Em junho, as importações tiveram uma diminuição de 27,4%, pela média diária, ante mesmo mês do ano passado, a 10,4 bilhões de dólares.
Houve retração generalizada, com quedas, pela média diária, nas compras de itens da indústria de transformação (-28,1%), indústria extrativa (-22,3%) e agropecuária (-15,6%).
As exportações também caíram, mas num ritmo menor: 12% frente a junho de 2019, a 17,9 bilhões de dólares.
Na análise por setores, as vendas de produtos brasileiros cresceram pela média diária na agropecuária (+29,7%), sempre na comparação com o mesmo mês do ano passado.
Houve recuo, porém, nos embarques da indústria extrativa (-26,1%) e da indústria de transformação (-21,0%).
Por outro lado, o Brasil continua não sendo atrativo para os investidores estrangeiros, perdeu o apelo do juro, a despeito da excepcional liquidez do mercado global.
Segundo a mesma fonte, o fluxo para portfólio em mercados emergentes saltou para US$ 32,1 Bi em junho frente a US$ 3,5 Bi em maio, sendo que a maior parte alocada em ativos de dívida destacou ontem o Instituto de Finanças Internacionais.
Os fluxos para dívida representaram US$ 23,5 Bi bilhões do total, enquanto as ações chinesas atraíram cerca de US$ 6,1 Bi, e não se observou nada neste sentido para o Brasil, até algum tempo atrás polo de grande atratividade.
Os mercados de ações fora da China reverteram tendência de saída e observaram entrada líquida de US$ 3,4 Bi, e o Brasil teve um pequeno fluxo oportunista focando ações “baratas” e que logo ajustaram preços com a demanda havida e perdeu atratividade, o que no momento até promoveu apreciação do real frente ao dólar registrando a cotação de R$ 4,80.
Há muita incerteza e insegurança nos avanços da retomada das atividades no Brasil e o “legado” que ainda está sendo deixado pela crise que o país vive tende a continuar sendo preocupante, já que é perceptível a mudança estrutural na geração de empregos, que terá reflexos na renda, e ao mesmo tempo é sabido e notório que o governo está exaurindo todos os recursos possíveis, mas que são limitados.
Efetivamente, não há como se imaginar algo rápido e confiável, confortável e seguro, no retorno das atividades, que poderão ser obrigadas a retroagir caso a crise da pandemia ainda não superada já comece a emitir sinais de recidiva.
Insegurança é um limitador e inibidor da redinamização da atividade econômica, que seguramente será lenta e gradual.
Por outro lado, haverá outro fator presente e determinante de observação de precaução e mutação de humores, que cria volatilidade, que será os avanços na busca da vacina, única solução efetiva e confiável para a crise.
Neste ambiente vemos com muita segurança que o preço do dólar flutuará entre os extremos de R$ 5,00 a R$ 5,50 como já salientamos anteriormente, dependendo das perspectivas de momento, benigna ou adversa, e como já destacamos seria de toda conveniência ação do BC mais pontual para conter a expressiva volatilidade que é prejudicial aos negócios.
Em nossa visão, com a economia ainda “patinando”, as perspectivas para a Bovespa são de repetência de altas e baixas, sem, contudo, ter grande impulso para valorização, ainda mais quando ancorada pela pessoa física que é bastante vulnerável a mutações e na grande maioria tem foco de lucro no curto prazo.
Nossa expectativa é de um semestre sem alterações exuberantes no “status quo”, com a natural volatilidade decorrente de um dado ou atrito aqui e outro acolá internamente, ou por questões geopolíticas, principalmente envolvendo as divergências China e Estados Unidos, que deverão se acentuar como parte da campanha eleitoral do Presidente Trump.