Escolhidas por IA: qual ação será a próxima a subir +60%?
O alerta do FMI sobre a trajetória da dívida brasileira não é apenas uma retórica: é um diagnóstico com implicações diretas para crescimento, inflação, juros e preço dos ativos. No cenário-base mais recente, a instituição projeta a dívida bruta geral do governo brasileiro estabilizando próxima de 99% do PIB nos próximos anos, em deterioração frente estimativas anteriores e bem acima da média de emergentes, o que consolida o país no grupo de maior risco fiscal entre pares.
Esse patamar reflete um tripé desconfortável: juros reais elevados, déficit primário recorrente e baixo crescimento potencial, com o diferencial juros–crescimento (J-C) operando contra a dinâmica da dívida. Quando J>C, o setor público precisa de superávits primários persistentes para apenas impedir que a dívida suba; sem eles, a curva de endividamento tende a se inclinar para cima.
Os dados correntes ajudam a entender o mecanismo. A dívida bruta medida pelo Banco Central subiu para a faixa de 76% do PIB em 2024, mas, pelo critério do FMI - que inclui títulos do governo detidos pelo próprio BC, o nível já se aproxima de 90%, diferença metodológica relevante para investidores globais que marcam risco por padrões internacionais. O aumento decorre, em grande parte, do custo nominal da rolagem num ambiente de Selic alta e inflação acima da meta, que obrigou o BC a manter a política restritiva por mais tempo. O resultado primário do setor público melhorou no curto prazo, mas segue insuficiente para reverter a tendência da dívida sem medidas adicionais do lado da despesa.
O pano de fundo internacional agrava o desafio. O Fiscal Monitor projeta a dívida global voltando à casa de 100% do PIB até 2029, o maior nível desde o pós-guerra; ou seja, a disputa por poupança é mundial e pressiona prêmios de risco, especialmente onde a credibilidade fiscal é frágil. Para o Brasil, isso significa curva de juros longa teimosamente inclinada, CDS acima de pares e prêmio exigido por estrangeiros para financiar o Tesouro. Não por acaso, agências de rating já ajustaram o tom, sinalizando que a “história fiscal” precisa de entregas críveis, e não apenas metas declaradas. E o problema se agrava ainda mais quando essas “histórias” ganham contorno de dramaticidade em 2026, ano de eleição cujo vale tudo populista desafia ainda mais a já frágil e decadente situação fiscal do Brasil.
O mapa de riscos que decorre desse quadro é claro: a) crowding out do investimento privado via custo de capital elevado; b) compressão do espaço orçamentário por juros, que desloca gasto de investimento para despesa financeira; c) vulnerabilidade a choques de termos de troca ou de crescimento, como uma desaceleração adicional da China. Mas há, também, um mapa de oportunidades para quem se posicionar antes do consenso. Em renda fixa, a combinação de prêmio elevado e probabilidade de reancoragem fiscal cria assimetria para duration tática em janelas de desinflação; na renda variável, setores com pricing power e geração de caixa em moeda forte tendem a sustentar múltiplos mesmo com juro alto.
Na dívida soberana, títulos atrelados à inflação oferecem proteção direta caso a consolidação fiscal atrase. E, se o governo entregar um ajuste primário factível - focado em despesa obrigatória, revisão de subsídios ineficientes e governança do arcabouço, o Brasil compra um “opcional” valioso: a queda estrutural do prêmio de risco que revaloriza a bolsa, aprecia o câmbio e alonga a dívida a custos menores.
A síntese é simples, mas pragmática: a dívida perto de 100% do PIB não é sentença, é uma escolha política ratificada todos os dias. Em uma economia com poupança doméstica limitada, credibilidade é o insumo escasso que “barateia” o futuro. Sem ela, o mercado continuará cobrando caro; com ela, o país transforma um ciclo defensivo em uma tese de re-rating. O FMI está apontando a diração da estrada - a rota final depende das escolhas que Brasília fizer nos próximos trimestres ou não...
