O IPCA de junho, divulgado no início desse mês, mostrou avanço de -0,23%. A número negativo, em mais de 10 anos - os três últimos, diga-se, também foram em junho, em 2003, 2005 e 2006 - suscitou um grande debate entre os economistas. Para alguns desses, esse seria o sinal inequívoco dos erros na condução da política monetária. Para outros, apenas a soma de alguns efeitos pontuais. Nesse post, divulgamos o relatório Explicando a deflação de junho, enviada para os membros do Clube do Código. Nele, abrimos o índice, de modo a visualizar os fatores que causaram essa deflação, bem como explicamos a desinflação em curso no país. Os membros do Clube, como de hábito, têm acesso a todos os códigos que geraram o relatório.
No acumulado em 12 meses, o índice fechou em 3%. Esse valor é -0.6 p.p. em relação ao de maio e de -5.84 p.p. em relação a junho do ano passado. Ademais, a difusão da inflação foi calculada em 47.18% , ante 55.23% no mesmo mês do ano anterior. É o menor valor para essa série, disponibilizada pelo Banco Central. A tabela 1 traz um resumo do comportamento do índice e dos núcleos de inflação.
A média da variação mensal dos cinco núcleos de inflação construídos pelo Banco Central evoluiu -0.21 p.p. na comparação interanual. Em junho de 2016, ela foi de 0.41%, enquanto em 2017 foi de 0.21%. No acumulado em 12 meses, por outro lado, a média saiu de 7.73% para 4%, mostrando que, de fato, há um processo consistente de desaceleração do processo inflacionário, mas que também o índice cheio está contaminado por choques positivos de oferta. Em particular, como se pode ver na análise desagregada abaixo, o grupo alimentos saiu de uma inflação de 12.81% em junho de 2016, no acumulado em 12 meses, para 1.12% esse ano. Esse choque de oferta positivo explica, em grande medida, a distância entre a média dos núcleos e o índice cheio, corroborando um processo consolidado de desinflação da economia brasileira. Isso, diga-se, permite uma flexibilização um pouco mais intensa do que o anteriormente previsto da política monetária nos próximos meses. Mesmo diante do caos político que vive o país.
O gráfico acima mostra o comportamento da inflação desde janeiro de 2006, quando a meta passou a ser de 4,5% e o intervalo de tolerância de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. A área hachurada, por seu turno, destaca o arrefecimento da inflação no período recente. Desde agosto do ano passado, por suposto, o processo de desinflação tem sido intensificado. Cabe, nesse ponto, a ressalva de que a inflação brasileira não apenas tem sido persistente e crescente, como também difundida nos últimos anos. O comportamento do índice de difusão abaixo deixa isso bastante claro. Na margem, ademais, a difusão também tem caído, o que mostra um processo de desinflação consolidado.
Destacado o quadro geral da inflação no país, vamos nesse relatório destrinchar um pouco melhor o dado mensal. Como veremos a seguir, quatro pontos são chaves para explicar a inflação negativa de junho, a saber: (i) a sazonalidade favorável; (ii) mudança da bandeira tarifária da energia elétrica de vermelha para verde; (iii) queda no preço da gasolina; (iv) continuação do choque de alimentos;
A sazonalidade da inflação
Antes de tudo, é preciso explicar que o mês de junho é tradicionalmente favorável para a inflação medida pelo IPCA. O gráfico abaixo ilustra.
O gráfico acima computa o comportamento da inflação nos doze meses do ano. Observa-se que a inflação apresenta uma tendência de queda ao longo da primeira parte do ano, elevando-se na segunda parte. As linhas vermelhas, por suposto, apresentam a média da inflação em cada um dos meses. Destaca-se, assim, que a própria sazonalidade da série já explica um valor mais baixo em junho.
Análise desagregada do IPCA
O histograma abaixo traz a distribuição da variação mensal dos 373 subitens da inflação de junho. É um detalhamento da difusão, que mostra um avanço positivo em 47.18% dos subitens no mês.
Comportamento dos Grupos do IPCA
Vamos, agora, abrir o IPCA em camadas de forma a entender a inflação negativa em junho. Primeiro, vamos verificar como a desaceleração da inflação se deu entre os nove grupos do índice. A tabela 2 traz a variação mensal e acumulada em 12 meses dos grupos em junho desse ano e no ano passado.
Por essa abertura, observamos que quatro grupos apresentaram variação negativa no mês. A tabela 3, abaixo, ilustra por sua vez a contribuição dos nove grupos para o dado mensal.
Em termos de contribuição, a deflação de junho está concentrada em três grupos: alimentos, habitação e transportes. Como introduzimos acima, existem motivos pontuais para que isso tenha ocorrido. O gráfico abaixo, por suposto, destaca a contribuição desses grupos para a deflação de junho.
Subgrupos
É possível, a propósito, detalhar o que foi visto anteriormente pelo corte dos subgrupos. A tabela a seguir resume essas contribuições.
Itens
A análise desagregada da inflação medida pelo IPCA ilustra que prossegue o choque positivo da alimentação no domicílio, que em junho contribuiu com -0,16 pontos percentuais. Isso se soma a outros dois fatores pontuais. A mudança de bandeira vermelha para verde retirou 0,2 pontos percentuais da inflação, enquanto a redução do preço da gasolina e e do diesel nas refinarias retirou 0,14 pontos percentuais. Esses três processos explicam, com a permissão da sazonalidade, a inflação negativa no mês.
Comportamento das Categorias do IPCA
Uma outra leitura interessante sobre a inflação é aquela feita através das categorias. A tabela 6 ilustra.
Um último ponto a ressaltar, nessa análise desagregada, é a dificuldade de reduzir a inflação de serviços. Como evidenciado na tabela acima, em junho do ano passado ela era de 7,02%, enquanto nesse ano ela cedeu para 5,72%, um número ainda bastante elevado. O gráfico abaixo ilustra mais detidamente a desinflação nessa categoria.
Conclusão
Na comparação interanual, a inflação acumulada em 12 meses cedeu 5,84 pontos percentuais, situando-se no limite inferior de tolerância do regime de metas. Isso foi possível graças a uma combinação de dois fatores principais. Por um lado, a nova equipe econômica conseguiu reancorar as expectativas de inflação, o que fez reduzir a inércia. Esse fator garantiu a convergência da inflação, dado o efeito da política monetária sobre o hiato do produto. Por outro lado, o choque de alimentos, em curso desde o segundo semestre de 2016, aprofundou esse processo de desinflação, levando o índice cheio abaixo da meta, algo que não ocorria desde 2007.
O dado mensal de junho, por seu turno, mostra uma combinação de eventos favoráveis, abraçados pela sazonalidade do período. A continuação do choque positivo no subgrupo alimentos no domicílio se somou à mudança na bandeira tarifária da energia elétrica e à queda nos preços dos combustíveis, como vimos. Tudo isso, por fim, em conjunto corrobora a expectativa de continuação do processo de flexibilização da política monetária, a despeito das dificuldades políticas em se aprovar a agenda de reformas.
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