Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com
- Sanções à Rússia impulsionam petróleo
- Petrolíferas ocidentais devem se beneficiar
- Empresas americanas e europeias têm exposição à Rússia
- Onda de nacionalizações pode atingir setor em cheio
- Política energética dos EUA precisa mudar e isso pode acontecer em breve
A Rússia é um dos maiores países produtores de petróleo do mundo. Também é a integrante mais influente da aliança Opep+, uma ampliação do cartel internacional do petróleo.
Desde 2016, os representantes russos têm contribuído bastante para as decisões de produção do cartel. Embora a Arábia Saudita continue sendo a produtora líder mundial, a Opep busca a orientação de Riad e Moscou para decisões e cooperação. O ministro do petróleo da Rússia, Alexander Novak, reporta-se diretamente ao presidente Vladimir Putin. Nos últimos seis meses, Putin expandiu sua esfera de influência no Oriente Médio, bem como sua condição de grande tomador de decisão, guiando as ofertas mundiais de petróleo.
No início de 2021, os EUA deram um presente ao cartel, quando o governo Biden passou a defender a produção e o consumo mais sustentável de energia. O aumento da regulação sobre as atividades de perfuração e fraturamento de petróleo e gás, o cancelamento do oleoduto Keystone XL, a proibição da exploração no território federal do Alasca, a recusa de renovar as licenças de combustíveis fósseis, entre outras ações, entregaram o poder de precificação do mercado de bandeja para o cartel. O preço do petróleo já vinha de firme alta antes da invasão da Rússia na Ucrânia, mas o conflito acabou aumentando o prêmio de risco da commodity energética.
As políticas de energia verde dos EUA e da Europa criaram uma barreira de entrada de novas empresas no mercado tradicional de hidrocarbonetos. As atuais companhias estão seguindo em direção a uma produção energética mais verde, ao mesmo tempo em que mantêm o oligopólio da extração de óleo e gás da crosta terrestre.
É preciso lembrar que muitas petrolíferas americanas e europeias integradas possuem investimentos e sociedades coligadas com os russos. A guerra na Ucrânia deve encerrar essa cooperação, fazendo com que tais investimentos se tornem grandes prejuízos. As sanções podem colocar um ponto final nas relações. Do contrário, a Rússia pode fazê-lo como forma de retaliação. A Rússia tem mão forte sobre a commodity energética que continua movendo o mundo.
Sanções à Rússia impulsionam petróleo
Qualquer dúvida sobre a possibilidade de disparada do petróleo por causa do conflito na Ucrânia foi dissipada na semana passada, com a commodity energética explodindo para cima.
Fonte: CQG
O gráfico semanal do contrato futuro do petróleo na Nymex destaca o movimento até US$130,50 por barril em 7 de março, preço mais alto desde 2008.
Fonte: Barchart
O gráfico do Brent futuro ilustra o rali até US$139,13 por barril, preço mais alto desde julho de 2008. Os alvos para os contratos futuros do Brent e WTI agora são as máximas históricas de 2008 de mais de US$147 por barril.
Petrolíferas ocidentais devem se beneficiar
A alta dos preços do petróleo e do gás é uma boa notícia para as empresas integradas de energia dos EUA e da Europa. O fundo Energy Select Sector SPDR® (NYSE:XLE), que investe em empresas de energia tradicional dos EUA, vem subindo em 2022.
Fonte: Barchart
O gráfico mostra que o XLE fechou a US$55,50 por cota em 31 de dezembro e se valorizava 38% até 7 de março, quando atingiu US$76,58. Uma continuação da alta dos preços do petróleo deve impulsionar os lucros das empresas de óleo e gás. Mas não se pode deixar de considerar suas consideráveis perdas com investimentos na Rússia.
Empresas americanas e europeias têm exposição à Rússia
A Rússia é uma produtora líder de petróleo. Os russos entraram em sociedades coligadas e venderam parte da sua indústria petrolífera a empresas estrangeiras a fim de levantar capital e expandir a produção nas últimas décadas.
As seguintes empresas de energia de destaque nos EUA e Europa tinham investimentos consideráveis na Rússia antes da invasão na Ucrânia:
- British Petroleum (NYSE:BP) (SA:B1PP34) – Reino Unido
- Chevron (NYSE:CVX) (SA:CHVX34)– EUA
- Exxon Mobile (NYSE:XOM) (SA:EXXO34) - EUA
- Halliburton (NYSE:HAL) (SA:HALI34) – EUA
- Shell (NYSE:SHEL) (SA:RDSA34) – Holanda
- Total Energies (NYSE:TTE) – França
O fundo XLE tinha uma exposição de 44,7% à XOM e CVX em 7 de março. No fim da semana passada, a Rússia deu às empresas estrangeiras três escolhas: permanecer, sair ou entregar as chaves. A Exxon Mobile (XOM) disse que abriria mão das suas operações de óleo e gás na Rússia, avaliadas em mais de US$4 bilhões e interromperia novos investimentos. A Chevron (CVX) não possui investimentos de exploração ou produção na Rússia, mas tem uma participação de 15% no Consórcio do Oleoduto do Cáspio, uma tubulação que vai do Cazaquistão a um terminal russo no Mar Negro, onde a Chevron explora seu petróleo. A CVX também opera outras subsidiárias em parceria com empresas russas.
Onda de nacionalizações pode atingir setor em cheio
Como as sanções podem gerar grave escassez de energia em todo o mundo, podemos ver uma onda de nacionalizações na indústria. Os EUA e a Europa podem querer enfrentar a mudança climática, incentivando combustíveis renováveis e alternativos e desincentivando hidrocarbonetos, mas o fato é que os combustíveis fósseis continuam movendo o mundo. O petróleo e o gás se tornaram imperativos de segurança nacional, com a Europa sofrendo de escassez e com a disparada de preços nos EUA e ao redor do mundo.
Em 7 de março, as sanções excluíam em grande parte do petróleo e do gás da Rússia, mas isso pode mudar com aumento do número de mortes na Ucrânia. Muitas empresas estão abandonando voluntariamente seus investimentos na Rússia. Além disso, a Rússia pode cortar o fornecimento a países que se opõem à invasão como forma de retaliação às sanções.
O resultado é que os preços de energia continuarão sendo influenciados pelas tensões entre a Rússia e o Ocidente.
Política energética dos EUA precisa mudar e isso pode acontecer em breve
Em março de 2020, os EUA eram o maior país produtor de petróleo, com 13,1 milhões de barris por dia (mbpd). De acordo com a EIA, agência americana de informações energéticas, a produção no país era de 11,6 mbpd, em 25 de fevereiro, o que equivale a uma queda de 11,5%. Os estoques petrolíferos nos EUA estavam 12% abaixo da média de cinco anos, com quedas de 1% e 16% nos estoques de gasolina e destilados, respectivamente.
Muitos líderes americanos e europeus exigem a aplicação de sanções ao óleo e gás da Rússia. Diante do aumento da demanda por commodities energéticas, pode ser que o governo Biden decida flexibilizar as normas de exploração no país, renovando licenças de produção e voltando atrás no fechamento de oleodutos.
Na semana passada, os EUA liberaram outros 30 milhões de barris de petróleo das suas reservas estratégicas. Países aliados fizeram o mesmo. Mas esse volume total de 60 milhões de barris corresponde a apenas três dias de consumo nos EUA. As liberações das reservas petrolíferas estratégicas são simbólicas. Enquanto isso, os americanos se aproximam de selar um acordo de não proliferação nuclear com o Irã, levantando as sanções e permitindo o fluxo do petróleo persa. A ironia é que o Irã é um aliado próximo da Rússia e não há qualquer garantia de que o país venderá seu petróleo se a Rússia retaliar o Ocidente.
No fim de semana, representantes do governo americano se reuniram com venezuelanos para discutir a flexibilização das sanções ao intercâmbio de petróleo. Assim como o Irã, a Venezuela é uma aliada da Rússia.
Antes de investir em petrolíferas dos EUA e Europa, é preciso levar em conta as consideráveis perdas que essas empresas sofrerão com seu desinvestimento na Rússia. Além disso, a possibilidade de nacionalizações é um claro perigo para a indústria de combustíveis fósseis, que agora é uma questão de segurança nacional. Espere muita volatilidade nos preços das ações de petróleo no mercado. A guerra na Ucrânia mudou drasticamente o cenário energético.
Os consumidores vão pagar muito mais. E, muito embora as petrolíferas multinacionais integradas se beneficiem dos preços mais altos, enfrentaram muitas perdas com seus negócios na Rússia.