Weg amplia atuação em recarga de veículos elétricos e mira Europa
Os dados mais recentes de emprego reforçaram de forma clara o alerta para uma possível desaceleração nos lucros corporativos. Esta é a primeira vez que chamamos atenção para o impacto dos números do mercado de trabalho sobre os resultados das empresas. Em maio, publicamos “Dados de emprego confirmam que a economia está desacelerando”, onde afirmamos:
“Dada a relevância do consumo na economia e o fato de que o emprego (produção) deve vir primeiro no ciclo, acompanhar os dados de trabalho, especialmente o emprego em tempo integral, é fundamental para avaliar riscos econômicos. A probabilidade de recessão permanece baixa; porém, isso pode mudar caso ocorra uma contração rápida no consumo. Fora de um choque exógeno inesperado, a expectativa é de que o crescimento econômico continue enfraquecendo gradualmente, convergindo para uma tendência de longo prazo levemente abaixo de 2% ao ano. Infelizmente, embora não seja recessivo, esse ritmo de crescimento tornará difícil manter a lucratividade corporativa em níveis recordes.”
O relatório de emprego de agosto de 2025 confirmou a desaceleração da criação de vagas. O payroll não agrícola adicionou apenas 22 mil postos, muito abaixo da projeção de mais de 75 mil. Os números de junho foram revisados para uma perda líquida de 13 mil empregos, a primeira queda mensal desde 2020. Julho teve apenas uma revisão marginalmente positiva.
O ponto mais relevante, contudo, é a tendência dos dados, e não apenas um mês isolado. A média móvel de três meses do emprego mostra deterioração acentuada, padrão observado anteriormente apenas em períodos que antecederam recessões.
Embora a taxa de participação da força de trabalho esteja em 62,3%, ainda muito abaixo do nível pré-Covid, a proporção de empregados em tempo integral continua em queda. Esse indicador é crucial, já que o trabalho em tempo integral sustenta o crescimento econômico. Com esse nível bem abaixo do registrado antes da pandemia, não surpreende que o ritmo de expansão esteja diminuindo.
O relatório não indica apenas menor crescimento econômico. De fato, o crescimento está desacelerando porque os empregos estão encolhendo e, como consequência, as famílias estão gastando menos. Como mostramos recentemente no #BullBearReport, atividade econômica, inflação e consumo pessoal estão em trajetória de enfraquecimento, uma vez que o emprego, sobretudo em tempo integral, é a base da oferta e da demanda.
Esses dados também reforçam que o Fed já está atrasado no processo de corte de juros.
Por que o Fed provavelmente está atrasado
Apesar da desaceleração, o Federal Reserve segue hesitante. O presidente Jerome Powell mencionou a deterioração das condições do mercado de trabalho em Jackson Hole e sugeriu que há espaço para cortes, mas nenhuma mudança concreta de política foi anunciada. O banco central insiste em ser “dependente de dados”, mas ignora os indicadores mais imediatos: o mercado de trabalho está enfraquecendo. A inflação não representa ameaça, e o Treasury de dois anos, que funciona como aproximação do nível adequado para os Fed Funds, já está mais de 80 pontos-base abaixo da taxa de política atual.
O Beige Book mais recente também mostrou queda na abertura de vagas e maior cautela por parte das empresas, que têm retirado anúncios de emprego e reduzido planos de expansão. Isso não reflete falta de oferta de mão de obra, mas sim queda de demanda. A insistência do Fed em focar em indicadores defasados de inflação mantém a política excessivamente restritiva e já “atrasada” em relação ao ciclo.
Os mercados, por sua vez, não estão esperando. Os futuros do Fed indicam quase certeza de corte em setembro, com parte dos agentes precificando uma redução de 50 pontos-base. Embora ainda exista preocupação com a inflação, as curvas de juros já sugerem que os dados são mais desinflacionários do que inflacionários. Como discutimos anteriormente em “Grant: as taxas vão muito mais alto?”:
“…vamos criar um índice composto de salários (que refletem poder de compra, ou demanda), crescimento econômico (resultado da produção e consumo) e inflação (subproduto do aumento da demanda em função da atividade). Em seguida, comparamos esse índice com as taxas de juros. Não surpreende a alta correlação entre atividade econômica, inflação e juros, já que as taxas respondem aos fatores que alimentam a inflação.”
A relação também foi explorada em “Tudor Jones: não comprarei títulos públicos”:
“O salto anterior da inflação e, por consequência, das taxas de juros não se originou de um crescimento econômico orgânico. Foi resultado de estímulos que alteraram artificialmente a equação oferta/demanda após a paralisação causada pela pandemia. Com a reversão desses fluxos monetários e fiscais, o suporte desaparece. No futuro, será essencial compreender os fatores que determinam os juros ao longo do tempo: crescimento econômico, salários e inflação.”
Com a economia — e seu principal motor, o emprego — perdendo fôlego, o atraso do Fed em cortar os juros aumenta o risco de uma desaceleração mais severa. Ao manter a taxa em níveis elevados, o impacto negativo sobre o consumo (demanda) se intensifica. O aperto já chegou ao crédito, à habitação e aos investimentos corporativos. O mercado de trabalho está reagindo, e mais atrasos na política podem reduzir a eficácia do próximo ciclo de afrouxamento.
O risco é que o banco central acabe promovendo cortes em meio a uma recessão que não conseguiu evitar.
Implicações para lucros corporativos e margens
Para os investidores, a consequência mais relevante é a desaceleração dos lucros corporativos, processo já em curso. O crescimento de receitas está enfraquecendo, e companhias, sobretudo nos setores de varejo e alimentação rápida, enfrentam menor poder de repasse de preços com a queda da demanda. Eventualmente, essa dinâmica comprime as margens. Como notamos em relação aos resultados do 2º trimestre:
“Embora empresas de tecnologia e inteligência artificial tenham se destacado, sua força não é suficiente para compensar a pressão sobre margens de outros setores. No 2º trimestre, os lucros do S&P 500 cresceram 6,4%, com 80% das companhias superando estimativas. Mas esse número mascara a fragilidade do crescimento, já que os resultados positivos se concentraram essencialmente em apenas dois setores. Sem as big techs e os grandes bancos de Wall Street, não teria havido crescimento de lucros.”
Embora muitas empresas tenham recorrido a aumentos de preços, ganhos de eficiência e cortes de custos para sustentar o crescimento dos lucros neste ano, essa estratégia é limitada e vem perdendo eficácia. Enquanto companhias de tecnologia e ligadas à inteligência artificial, como a Broadcom (NASDAQ:AVGO), trouxeram pontos positivos, o restante do mercado enfrenta pressão. Setores discricionários, indústrias cíclicas e empresas de menor capitalização estão mais expostos a choques de demanda e à desaceleração do crescimento. Apesar de os investidores, por ora, desconsiderarem a relação entre demanda econômica e lucros corporativos, com a erosão das margens, o impacto sobre os resultados se tornará mais relevante.
Atualmente, as projeções de analistas ainda assumem crescimento robusto dos lucros até 2026. Mas isso tende a mudar nos próximos meses. Com a revisão para baixo das estimativas, o risco para o mercado — e para investidores hoje excessivamente otimistas — será a questão das avaliações. À medida que a desaceleração dos lucros corporativos se intensificar, as empresas reduzirão guidance, e pagar múltiplos elevados pelos resultados será cada vez mais questionado. Caso revisem expectativas, adiem investimentos e ampliem demissões para preservar margens, o risco para os mercados crescerá substancialmente.
Como navegar pelos riscos
As evidências apontam para uma economia americana em desaceleração. O crescimento enfraquece, a inflação permanece elevada, as margens corporativas sofrem pressão e cortes de juros se tornam prováveis. Esse ambiente exige mudança de estratégia de investimento. Os investidores devem adaptar-se para preservar capital, gerar renda e gerenciar riscos. O posicionamento precisa priorizar resiliência, qualidade e estabilidade de fluxo. O objetivo é reduzir a exposição a setores voláteis e concentrar-se em ativos que apresentam melhor desempenho em períodos de desaceleração econômica.
A seguir, algumas ações a considerar:
- Reduzir exposição a ações cíclicas: diminuir peso em setores discricionários como varejo, turismo e eletrônicos de consumo, mais dependentes de forte crescimento.
- Aumentar alocação em setores defensivos: priorizar consumo básico, saúde e utilidades públicas, que mantêm lucros estáveis mesmo em ambientes fracos.
- Favorecer empresas com poder de precificação: companhias capazes de proteger margens mesmo com custos de insumos em alta.
- Priorizar balanços sólidos: baixo endividamento e caixa robusto reduzem estresse financeiro e apoiam retornos consistentes.
- Incluir pagadoras de dividendos de qualidade: empresas com histórico de dividendos estáveis ou crescentes oferecem suporte de renda quando ganhos de capital enfraquecem.
- Elevar a exposição em renda fixa: títulos de curta duração e corporativos de alta qualidade podem se beneficiar de queda dos juros.
- Considerar posicionamento na curva de juros: um eventual movimento de inclinação com cortes pode abrir oportunidade em títulos intermediários.
- Evitar ações de crescimento especulativo: essas companhias dependem de lucros futuros e financiamento barato, ambos pressionados em um cenário de desaceleração.
Uma economia americana mais lenta altera o perfil de retorno entre classes de ativos. Ajustar a carteira agora, com foco em qualidade, fluxo de caixa e proteção defensiva, pode ampliar a proteção contra quedas e criar condições para retornos mais estáveis.
Ainda que não existam garantias, o descompasso atual entre o que Wall Street projeta e o que a economia pode entregar é evidente. A economia pode alcançar as expectativas do mercado? Sim. Mas, na maioria das vezes, isso não ocorre.
O ponto mais importante é que o Fed, mais uma vez, está atrasado, e a história sugere que o impacto sobre as ações será negativo.
***
PARE DE INVESTIR NO ESCURO! No InvestingPro, você tem acesso a ferramentas treinadas de IA em 25 anos de métricas financeiras para escolher as melhores ações e ainda tem acesso a:
- Preço-justo: saiba se uma ação está cara ou barata com base em seus fundamentos.
- ProTips: dicas rápidas e diretas para descomplicar informações financeiras.
- ProPicks: estratégias que usam IA para selecionar ações explosivas.
- WarrenAI: consultor pessoal de IA treinado com dados do Investing.com para tirar suas dúvidas sobre investimentos.
- Filtro avançado: encontre as melhores ações com base em centenas de métricas.
- Ideias: descubra como os maiores gestores do mundo estão posicionados e copie suas estratégias.
- Dados de nível institucional: monte suas próprias estratégias com ações de todo o mundo.
- ProNews: acesse notícias com insights dos melhores analistas de Wall Street.
- Navegação turbo: as páginas do Investing.com carregam mais rápido, sem anúncios.
AVISO: Este conteúdo tem caráter exclusivamente informativo. Não constitui oferta, recomendação ou solicitação para compra de ativos. Lembramos que todos os investimentos envolvem riscos relevantes e devem ser avaliados sob múltiplas perspectivas. O InvestingPro não oferece consultoria de investimentos. As decisões e riscos assumidos são de inteira responsabilidade do investidor.