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O mercado futuro de açúcar em NY em cerrou a sexta-feira com o vencimento outubro/25 cotado a 16.27 centavos de dólar por libra peso, uma variação positiva de tímidos sete pontos. Todos os contratos fecharam com números positivos, menores nos vencimentos mais curtos e maiores nos vencimentos mais longos, média de 12 pontos para os contratos que representam a safra 26/27 (maio 26 até março 27) e 20 pontos para a safra seguinte.
O real também mostrou serviço, valorizando 2,10% na semana frente ao dólar e fechando a R$ 5,4373. Com isso, o açúcar em NY, convertido para reais por tonelada, sentiu o baque: uma queda média de R$ 35 a R$ 40 por tonelada na semana. Moral da história? Nem sempre alta em NY significa sorriso no Brasil — o câmbio adora contar a sua própria piada.
Sobre os fundos indexados: eles são como aqueles convidados de casamento que seguem o protocolo à risca. Sempre previsíveis, compram e vendem contratos para replicar o desempenho de um índice específico de commodities. Quando você aplica em um fundo desses no seu banco, o dinheiro vai para a tesouraria, e o trader aloca exatamente na proporção do índice escolhido. Perfil? Passivo, sistemático e sem grandes surpresas — o tipo que você pode até não achar emocionante, mas sabe exatamente como vai se comportar.
Já os fundos não-indexados — também conhecidos como especulativos — são outra história. Eles não se prendem a um índice, não seguem roteiro e, muitas vezes, nem avisam quando mudam de ideia. O objetivo é simples (mas nem sempre simples de entender): buscar ganhos absolutos, custe o que custar. As decisões podem vir de análise fundamentalista, técnica, macroeconômica ou até de modelos algorítmicos complexos.
Um dia, o gestor pode decidir vender açúcar porque prevê um superávit global; no outro, entrar comprado em açúcar e vendido em petróleo se acreditar que o “spread” vai se valorizar. É o típico fundo de perfil ativo, oportunista e adaptável — em outras palavras, o tipo que pode transformar um mercado tranquilo em uma montanha-russa num piscar de olhos.
Esse preâmbulo é apenas para que você leitor possa entender que a maneira como um fundo especulativo olha o mercado muitas vezes foge da racionalidade. E parece-me que é isso que está acontecendo agora com o açúcar. Em seu relatório semanal publicado hoje, o CFTC (Commodity Futures Trading Commission) agência americana reguladora dos mercados de commodities informou que os fundos não indexados estavam vendidos 151,004 contratos com base no fechamento de terça-feira dia 5. Um acréscimo de 25,923 contratos em relação à aposição da semana anterior, suficientes para mover o mercado 58 pontos para baixo no período observado de terça a terça.
No entanto, nada nos fundamentos parece fazer os fundos se preocuparem. Afinal, muito dinheiro tem sido ganho por eles em mercados como suco de laranja, café e cacau. E eles também tem ganho dinheiro no açúcar (estimo US$ 225-325 milhões). Os fundamentos que esperem, deve ser a visão deles.
Não resta a menor dúvida que a posição dos fundos é de extrema vulnerabilidade caso o quadro que se delineia no açúcar se concretizar. Ainda simulando os números da UNICA e assumindo uma aderência entre o comportamento da ATR do ano passado com essa safra, em que situações poderíamos ver uma produção total de 40 milhões de toneladas de açúcar nesta safra, usando como premissa um mix de 51.5%?
Para quem acredita em 605 milhões de toneladas de cana, a ATR média a partir de agora vai ter que melhorar 3.21 kg por tonelada de cana sobre a curva de correlação das ATRs já apuradas nas duas safras e cuja aderência é perto de 0,99. Se você está no grupo dos que apostam em 595 milhões de toneladas, que parece ser o número consensual segundo um relatório privado que circula no mercado, você tem que rezar para que a ATR média a partir de agora adicione 7.40 kg. Se você espera 585 milhões de toneladas, o ganho de ATR média tem que explodir 11.85 kg!! Sem esse acréscimo, só se a moagem subisse para 613 milhões de toneladas nos três exemplos.
A Índia entrou no radar das preocupações dos usineiros brasileiros. Uma safra prevista entre 35-36 milhões de toneladas de açúcar, a utilização do etanol como mistura praticamente batendo no limite dos 20% e a possibilidade de exportar 1.5 -2.0 milhões de toneladas. A pergunta que todos querem saber a resposta é se a Índia pode elevar a mistura para 27%. Existem alguns pontos que merecem reflexão: a Índia lida no momento com as questões que nós lidamos aqui no passado. Narrativas sobre o etanol danificar o motor dos carros e principalmente o fato de que os preços do E20 e da gasolina são os mesmos não trazendo nenhuma vantagem para o consumidor, diferentemente do Brasil onde E30 e etanol hidratado possuem preços distintos. Nas redes sociais daquele país o sentimento anti-etanol é preocupante.
O mercado já cochicha há alguns dias — e agora o burburinho virou fala alta — sobre um episódio nada doce envolvendo embarques de açúcar no porto de Santos. Em um carregamento, foi identificada areia misturada ao produto. Tecnicamente, chamam de “resíduos insolúveis”; na prática, o nome é outro: problema sério. Esse tipo de ocorrência é um veneno para o comércio internacional (o chamado intertrading), pois abala a confiança e coloca sob suspeita operações que dependem de reputação impecável. Não estamos falando de um simples erro operacional, mas de algo que cheira — e muito — a caso de polícia. E, quando isso acontece, não é só o açúcar que perde valor: é a credibilidade que desaba.
Nosso colaborador Marcelo Moreira analisa: o vencimento out-25 encerrou a semana uma reversão de curto prazo bem interessante auxiliada pela valorização do R$. O contrato testou novamente as mínimas do ano (negociou na mínima da semana a 15.92 centavos de dólar por libra-peso). Enquanto o R$ valorizou na semana +3,38% (encerrou a 5,43 R$/US$ x 5,60 R$/US$) o açúcar valorizou apenas +0,43% (fechamento anterior 16,18 centavos de dólar por libra-peso x 16.25 centavos de dólar por libra-peso). No curto prazo o outubro-25 encontra suportes a 16.24/16.00/15.80 centavos de dólar por libra-peso e resistências a 16.51/17.00/17.36 e 17.64 centavos de dólar por libra-peso.