E que não se diga como o COPOM que é “temporário”, pois os preços estão mudando já no varejo para patamares preocupantes e o índice oficial, o IPCA, continua inerte na percepção.
Não precisa recorrer aos índices oficiais, basta ir ao supermercado e no “dia a dia” há a clara e inquestionável confirmação de que a inflação está de volta de forma voraz e exterminadora dos rendimentos assalariados, além, evidentemente, dos impactos do IGP-M nas contas administradas de consumo obrigatório e os contratos, em especial o de alugueres.
Enfim, a velha conhecida brasileira, há certo tempo afastada da cena, está de volta e num momento de busca de retomada da atividade econômica bastante claudicante, num cenário altamente afetado pela crise da pandemia do coronavírus, seja pelo brusco choque redutor de renda da população, seja pelo desemprego (IBGE/agosto; 14,3% 13,7 mm de desempregados) que ainda é soberbo e não dá sinais de retomada com dinamismo, muito pelo contrário.
E na raiz do problema, por mais que se divague sobre o fato elencando inúmeros fatores, está a questão do “câmbio alto e juro baixo”, que por ser uma postura dogmática deste governo, a partir de ideia do Ministro da Economia, é evitado a todo custo para não ser posto na mesa de discussões.
Deu muito pouco certo e muito, muito mesmo, errado e voltando a colocação do ex-Ministro Simonsen, “o juro aleija e o câmbio mata”, e o Brasil convive exatamente com este diagnóstico.
O IGP-M aponta para 16% ao final do ano, e a magnitude do mesmo inviabiliza quaisquer justificativas que não passe pelo “câmbio alto” como causa maior da exacerbação.
E, inexoravelmente devolve ao país intensa inflação, que sendo culturalmente memória brasileira, enseja movimento “bola de neve” e a contaminação generalizada dos preços da economia, mas não dos salários que segue o IPCA o que fragiliza o consumo, e, desta forma recrudescem as perspectivas de retomada da atividade econômica, pois sem demanda a economia não ganha dinamismo.
Então, a nova moda é apontar todas as posturas de observação com maior acurácia de “negacionismo”, o que parece um equívoco, pois se não houver rigor e ações pró-ativas por parte do governo, em especial COPOM, a deterioração poderá ocorrer de forma desorganizada e, o mercado financeiro que clama por maior redução na SELIC será o primeiro a migrar para o juro de curto prazo o que já é perceptível no juro de médio/longo prazo.
Há também um fato novo que ainda não foi corrigido nos conceitos típicos das análises no Brasil, a dívida fiscal preocupante desta vez não deve exercer pressão de apreciação do dólar, visto que não há pressões legítimas de demanda da moeda no país, que tem posição credora nas contas externas e por isso deveria ter um CDS a 150 pontos e não 200 pontos, tem reservas cambiais robustas e mercado de derivativos sofisticado para proteção de riscos.
A pressão previsível será sobre o juro que deverá repercutir o desajuste fiscal do país e que pressionará o financiamento da dívida pública brasileira.
A correção efetiva da equação atual é apreciar o real e elevar o juro, única forma de impactar na evolução incontida do IGP-M, e o fator relevante é o país recompor a atratividade do mercado de renda fixa para os investidores estrangeiros e com isto intensificar o fluxo cambial que impactaria sobre o câmbio apreciando o real.
A ideia do “câmbio alto e juro baixo” é uma estratégia, mas está com seus parâmetros fora da curva e causando efeitos altamente negativos na economia como um todo.
Se o BC, responsável pela política monetária e cambial, não impulsionar e implementar os ajustes, os mesmos acabarão acontecendo de forma abrupta e desorganizada e será pior.
O comportamento estressado do dólar na sexta feira foi significativo “clamando” pela incompatibilidade do juro no mercado.
O BC precisa assumir o protagonismo!