Quem iria imaginar?
Bolsas no vermelho, China está de volta às manchetes sanguinolentas.
Não quero ser o chatão do já sabia, mas dissemos repetidas vezes: esta novela chinesa vai longe, trará consequências amargas.
É curioso pensar que o Bacen do país agora impôs requisitos de capital sobre instituições financeiras que fecham futuros de câmbio.
Em última instância, a medida visa amenizar a evaporação de moeda forte, pois encarece a compra de dólares.
Curioso pensar pois o Governo Chinês detém US$ 3,65 trilhões em reservas internacionais.
Alguém em sã consciência poderia imaginar a China preocupada com a sustentabilidade dessas reservas?
Pergunte a George Soros: contra fluxos convictos, não há estoque que aguente.
Estamos tranquilos
Enquanto isso, o Banco Central brasileiro está tranquilão com seus míseros US$ 370 bilhões de reservas, parcialmente subtraídos por US$ 110 bilhões de swaps.
E tem gente ainda sem entender por que o câmbio converge rapidamente aos R$ 4,00 imaginados no overshooting da Carteira Empiricus.
Aliás, fizemos atualizações importantes na Carteira Empiricus para setembro.
O portfólio recomendado desafiou condições adversas de mercado e continuou voando em agosto, representando 172% do CDI.
Em 2015, a Carteira avança 16,56%, equivalente a 198% do CDI. É notável o desempenho num ano tão difícil.
Cêis sigma? Eu não sigmo
Calculo que o estresse chinês bagunça todos os sigmas do mercado, adiando a elevação de juros nos EUA.
Não vejo como o Fed poderia iniciar a contração monetária em setembro, embora 48% dos economistas ouvidos pela Bloomberg ainda encarem este mês como cenário base.
Alguém poderia supor: mas um novo adiamento seria bom para as moedas emergentes, não?
Não. Pois os motivos que levam o Fed a adiar sua tão sonhada contração dificilmente serão favoráveis a moedas emergentes.
Saudade da tempestade
Não temos consolo externo, tampouco doméstico. Seleciono - aleatoriamente - duas frases de hoje que expressam opiniões técnicas sobre nossa situação fiscal.
1) Por Delfim Netto, no Valor: "Lembremos, de novo, que a situação fiscal é dramática e muito, muito, muito delicada! Cada passo mal pensado e mal combinado que termine em mais uma frustração, pode ser, afinal, o precipício…”.
Delfim fora criticado em 2013 por imaginar uma “tempestade perfeita”. Perto desta nova frase de 2015, estou praticamente implorando pela tal tempestade perfeita.
2) Pela Fitch: “Revisões do orçamento colocam a tendência dos superávits primários BEM ABAIXO do cenário base usado pela Fitch em abril” (o capitulado é por minha conta).
Vamos lá: cenário base usado pela Fitch implica rating BBB, com perspectiva negativa. O que seria BEM ABAIXO disso?
Terceiro Mandato
Jornais de hoje evidenciam outro problema com o Orçamento desenhado para 2016.
Enquanto o Focus prevê uma retração do PIB brasileiro de -0,40%, a peça orçamentária imagina crescimento de +0,20%. Isso é transparência e realismo pelos padrões do Terceiro Mandato...
Devo confessar: se fosse só uma tentativa de maquiar os números, não me deixaria tão transtornado.
Mas, por trás disso, desponta a antiquada crença no "poder indutor" do Estado.
O Terceiro Mandato se pauta num Estado que tem que sorrir a todo momento, e tem que gastar, gastar, gastar - para tirar a economia deste círculo vicioso.
Gastar, gastar, gastar tornou-se um vício muito, muito, muito delicado.
Repetindo três vezes, talvez o Governo entenda que o precipício perfeito está logo à frente.