Em Maio tudo mudou
Enquanto a Bolsa acumula cerca de 13,5 por cento de valorização no ano, os títulos indexados à inflação longos, como o Tesouro IPCA+ 2035 e 2045, acumulam alta de 20 e 31 por cento, respectivamente.
Essa diferença vinha pequena, e esses ativos brigavam pela melhor performance cabeça a cabeça. Mas em Maio tudo mudou!
No Brasil, tivemos uma bela volatilidade na sensação dos investidores a respeito da confiança da aprovação da Reforma da Previdência. Mas o efeito dessa volatilidade se deu de forma totalmente diferente na Bolsa e nos Juros.
Enquanto na Bolsa vimos uma queda forte e, depois, uma recuperação forte, voltando praticamente para o mesmo lugar...
...nos Juros, tivemos praticamente estabilidade durante o período de caos, com queda forte depois:
Foi exatamente esse mês que Maio que criou um abismo entre as duas performances.
Essa me custou um almoço
Antes de me apressar a explicar esse movimento com dados de atividade fraca, inflação baixa e possível corte da Selic à frente, vou te mostrar esses mesmos gráficos de Bolsa e Juros, mas vindos dos EUA:
Por lá, a Bolsa caiu 7,5 por cento em Maio:
Juros de 10 anos desabaram também:
Como você bem sabe, o que acontece no mercado mundial impacta diretamente os nossos mercados.
O Ibovespa ter fechado no azul em Maio, enquanto o SPX amargou uma queda de 7,5 por cento é simplesmente uma das melhores performances já vistas no nosso mercado!
Mostra que nossa Bolsa está extremamente resiliente!
Nos EUA tivemos de fato aquela máxima do sell in May and go away (venda em Maio e saia). Maio foi o pior mês para a Bolsa durante vários anos - e essa sina se repetiu em 2019 em grande parte dos mercados.
Eu, inclusive, apostei com o Renato Breia um almocinho no Barbacoa que este ano não seria diferente. Perdi! Devia ter feito a mesma aposta na Bolsa americana.
Aposta assimétrica - muito assimétrica
Brincadeiras à parte, os últimos dias tem sido muito positivos para Brasil. A boa performance da nossa Bolsa em relação aos mercados mundiais está refletida também no nosso câmbio, que melhorou muito nos últimos dias.
Os Juros caíram bem aqui, em uma conjunção de atividade fraca com juros mundiais em queda - por conta de menor atividade lá fora.
Se fosse por conta apenas da queda da Selic, os longos não teriam tido a melhor performance - como tiveram. Quando o mercado precifica queda da Selic nos juros curtos, os longos tendem a cair menos, aumentando a inclinação da curva.
Mas isso não aconteceu: os juros longos desabaram - o que mostra que estamos muito mais seguindo o movimento global das Treasuries do que o fundamento local.
Infelizmente não tenho como antecipar o que vai acontecer com as Treasuries e o mercado americano: não é a minha praia.
Mas olhando para o mercado local, acho completamente assimétrico o potencial de alta da Bolsa em relação ao potencial dos Juros continuarem caindo.
Em entrevista hoje para o Valor Econômico, nosso presidente do BC Roberto Campos foi categórico ao dizer que o papel do BC é garantir a credibilidade, e que de nada adianta derrubar os juros se as projeções de inflação aumentarem ou se isso trouxesse um aumento da inclinação da curva.
Ele lembrou que esse foi exatamente o grande erro da nossa vizinha Argentina.
Em outras palavras, ele quer dizer que, apesar de o mercado ter reduzido as projeções de crescimento, não reduziu as projeções de inflação - e isso não representa um sinal bom para o BC.
Ele está bem cauteloso quanto à pressão do mercado por novas quedas da Selic.
Mesmo que tenhamos novas quedas da taxa de juros, elas seriam temporárias, para estimular a atividade enquanto seguimos abaixo do PIB potencial. Ou seja, eventualmente a Selic voltaria a subir.
Digamos que seu nível neutro seja 6,5 por cento. Os juros longos, de 6 anos a frente, estão negociando a 7,98 por cento! - ou seja, apenas 148 bps do neutro!
Cair abaixo disso seria como se o mercado precificasse que a Selic não teria nunca mais que subir. Ou seria como precificar que a curva de juros brasileira não precisa de nenhum prêmio de alongamento - o que não faz sentido nenhum para mim.
Ainda não temos muita convicção de que teremos uma Reforma robusta no Brasil. Uma Reforma branda, por sua vez, não resolverá nosso problema fiscal por muito tempo.
Por que, então, apostar que os Juros longos seguirão amassados?
No gráfico abaixo, mostrei o quanto os Juros de 2 (linha preta) e 5 anos (linha azul) têm de prêmio em relação ao CDI, e plotei isso contra a Selic (linha laranja) para vermos como esses prêmios se comportam em ciclos de queda e de alta.
Note que, em períodos de final de ciclo, não só os prêmios da curva são muito maiores, como são crescentes no tempo.
Estamos com o menor prêmio em relação ao CDI já vistos na história recente dos nossos ciclos.
Será que faz sentido?
Não sei ao certo. Pode ser que dessa vez seja tudo diferente, e que estejamos falando de uma quebra estrutural nas taxas de juros para baixo de uma forma consistente...
Até pode! Mas eu quero apostar nisso?
De jeito nenhum!
A assimetria dessa posição é ruim!
Juros em mínimas históricas, sendo que, para você ganhar (ainda mais) dinheiro, tem que acontecer a maior quebra estrutural da história. Difícil né?
Thank you, next
Ganhou dinheiro com Juros no Brasil? Ótimo!
Agora está na hora de vender suas posições e correr para a Bolsa.
Se nossa Bolsa consegue ficar no positivo enquanto o SPX cai 7,5 por cento em 1 mês, imagina o que aconteceria se o SPX voltasse ao seu patamar anterior?
Nossa Bolsa iria voar, não é mesmo?
Investir no que performou melhor no passado é o maior erro dos investidores iniciantes.
O que performou bem no passado está caro. E temos que investir em Ativos baratos!
Quando olhar as milhares de notícias nos jornais exaltando a performance dos Juros longos no Brasil, quero que você pense: notícia velha!
Procure sempre a melhor oportunidade daqui para frente!
Acompanhe muito mais no Twitter: @mariliadf2, no FB: Marilia.fontes.7927, Youtube: MariliaFontesRendaFixa e LinkedIn: Marilia-Fontes-88744518