Nas últimas semanas, as discussões sobre a política monetária norte-americana ganharam ainda mais relevância com a declaração do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, sobre a elevação da taxa de juros nos Estados Unidos. Segundo o presidente do Fed um aumento de 50 bps na reunião de maio é “uma opção”.
A fala de Powell foi acompanhada de outros dirigentes do comitê de política monetária, que também reconheceram a possibilidade de altas desta magnitude ao longo de 2022. O bom desempenho da economia americana que segue com forte crescimento da demanda doméstica, mercado de trabalho aquecido e salários em alta justificam o ajuste do discurso dos membros do Fed para a necessidade de mover os juros rapidamente para o patamar neutro, que é estimado pelo Fed em torno de 2,5% a.a.
Como temos visto, o ajuste nos juros ao redor do mundo era uma questão de tempo.
Com a pandemia, uma situação excepcional, foram adotadas medidas de estímulos monetárias, fiscais e de crédito para evitar uma recessão ou mesmo uma depressão econômica em todo o mundo.
O Fed, por exemplo, tinha um balanço patrimonial de cerca de US$ 4 trilhões em 2019 e, hoje, o mesmo está em torno dos US$ 9 trilhões, tamanho foi o esforço feito para conter os estragos causados pela pandemia no sistema financeiro.
Este movimento, acompanhado de uma desorganização nas cadeias produtivas, choque de commodities e uma demanda maior por bens em detrimento de serviços - que persiste até hoje - fez com que a inflação ficasse elevada no mundo todo.
De início, a avaliação dos principais bancos centrais (Fed e BCE) era de que a elevação de preços seria temporária, mas, conforme os meses se passaram, vimos que não era o caso.
No Brasil, encerramos 2021 com um IPCA de 10,1% e as projeções para 2022 não param de ser reajustadas para cima - o último Boletim Focus trazia uma estimativa de 7,89%.
Para lidar com a inflação alta e persistente e buscar a convergência para as metas, o Banco Central elevou a Selic de 2,0% a.a. para quase 12,0% a.a. recentemente, número que deve ser alcançado na próxima reunião nessa semana.
Este ajuste coincidiu com movimentos semelhantes de Bancos Centrais de países emergentes. O México e o Chile, por exemplo, elevaram as suas taxas para 6,5% a.a. e 7% a.a., respectivamente.
É neste ponto que entra a discussão, especialmente nos EUA, sobre a desaceleração da atividade resultante do aumento das taxas de juros. A questão é se a economia vai desacelerar de modo a não entrar em recessão (“soft landing”) ou a economia sofrerá um impacto maior dos juros mais altos e entrará em recessão (“hard landing”). Historicamente, houve 11 ciclos de elevação de juros pelo Fed após a 2° Guerra Mundial, e somente em um deles a economia seguiu um “soft landing”. Ou seja, o grande desafio dos Bancos Centrais é ajustar o ciclo de modo que não seja gerada uma recessão, que traria custos sociais relevantes.
Em resumo, as autoridades monetárias não querem criar um efeito que chamamos de “overkill”, que, em outras palavras, significa matar a atividade.
Diante disso, cada vez mais vai haver a discussão sobre o quanto acima da taxa de juros neutra, especialmente, o Federal Reserve, precisará apertar os juros e até que ponto isto prejudicará a economia.
Vale lembrar que as elevações de taxa de juros feitas hoje demoram entre 18 e 24 meses para ter efeito real sobre a atividade, ou seja, a defasagem é longa. Portanto, ainda que o debate esteja ocorrendo agora, só veremos os resultados dos ajustes em meados de 2023, início de 2024.
Um elemento favorável da economia americana nesse momento do início do ciclo de aperto de juros pelo Fed é o sólido balanço das famílias e empresas juntamente com o mercado de trabalho robusto, o que indica maior resiliência da economia para absorver o aperto das condições financeiras resultantes da alta de juros.
Por fim, para responder ao questionamento inicial deste artigo, a resposta é que provavelmente sim, os juros reais elevados serão o novo normal. A questão, como eu disse, é: em qual medida?
É esperar para ver!