O Índice do Dólar (DXY) acumula queda de 8,8% desde o início deste ano, movimento que acendeu alertas nos mercados, com temores de que esse possa ser apenas o início de um processo de desvalorização estrutural da moeda americana. A percepção é de que os EUA estariam caminhando para uma espécie de “desacoplamento” do sistema global de comércio, tornando-se uma economia mais autossuficiente.
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Caso as políticas de Washington de fato levem a uma redução do déficit comercial dos EUA, haverá menos dólares circulando no exterior para investimentos. Isso pode pressionar os juros longos para cima e, sem uma correção no déficit fiscal, abrir caminho para uma crise da dívida. Nesse cenário, o dólar gradualmente perderia seu status como principal moeda de reserva global.
A narrativa ganha força em um contexto histórico no qual grandes impérios, ao perderem influência global, também viram suas moedas enfraquecerem.
Mas nós não compramos esse obituário antecipado nem dos EUA, nem do dólar. O DXY continua dentro de uma tendência de alta iniciada por volta de 2010, quando ficou evidente que os EUA saíram da crise financeira global em melhor situação que outras grandes economias e sistemas financeiros. Os mercados de capitais americanos seguem sendo os mais profundos e líquidos do mundo, e isso não deve mudar tão cedo.
A recente fraqueza do dólar, a nosso ver, está mais relacionada à correção nas ações das chamadas "Magníficas 7" (gráfico).
Investidores estrangeiros aportaram um recorde de US$ 475,3 bilhões no mercado acionário dos EUA nos 12 meses até fevereiro. É evidente que boa parte desses recursos foi direcionada às gigantes de tecnologia, cujos múltiplos de valuation atingiram níveis extremos no início do ano.
As tensões provocadas pelas tarifas de Trump acabaram afastando os estrangeiros, que passaram a vender papéis americanos, sobretudo os da elite tech. Investidores europeus, e de outras regiões, redirecionaram recursos para ações da Europa, então negociadas com grandes descontos em relação às Magníficas 7. O resultado foi uma valorização expressiva do euro, o que pressionou o DXY para baixo, já que o euro tem peso desproporcional no índice.
O Fed mantém um índice alternativo do dólar ponderado pelo comércio, mais amplo que o DXY. Esse índice recuou cerca da metade do DXY desde o começo do ano e, desde 2010, apresenta uma tendência de alta ainda mais acentuada.
A autoridade monetária também separa o índice por tipo de economia: o dólar tem se mantido relativamente estável frente às moedas de países desenvolvidos, mas segue em alta frente às moedas de emergentes, movimento que se intensificou nos últimos dois anos.
Concluímos que a fraqueza recente do DXY reflete, em grande medida, a força do euro, uma tendência que não parece sustentável. Um euro forte pode empurrar a Zona do Euro para uma recessão, forçando o Banco Central Europeu a seguir cortando os juros, enquanto o Fed continua hesitante em adotar a mesma postura.