Mercado atento para IPCA-15, IBC-Br, crédito, contas externas, adiamento da reforma da Previdência e eleições.
O mercado entra na última semana antes das festas de Natal e Ano Novo em clima tenso, por conta dos possíveis efeitos do adiamento da votação da reforma da Previdência para fevereiro de 2018. Na agenda econômica, os destaques são a prévia da inflação oficial de dezembro (IPCA-15), que o IBGE anuncia quinta-feira e, no mesmo dia, a divulgação pelo Banco Central do relatório trimestral de inflação relativo ao quarto trimestre.
Já na segunda-feira serão conhecidos o IBC-Brde outubro, uma prévia do nível de atividade econômica calculada pela autoridade monetária que, na quarta-feira, divulga também as notas de crédito e do setor externo relativas a novembro.
Sem reforma da Previdência e sem MPs para orçamento de 2018
Com o adiamento da reforma da Previdência para 19 de fevereiro do próximo ano, depois do Carnaval, a votação da reforma da Previdência se mantém no centro das atenções da cena política. No curto prazo, com o encerramento das atividades legislativas em Brasília nos próximos dias, a discussão não avança e persiste o quadro de dificuldades do governo em obter os votos necessários para aprovação na Câmara.
Também preocupa a não votação de itens importantes com tributação de fundos fechados e de participações, a reoneração da folha de pagamentos e a alíquota maior de contribuição dos funcionários públicos que estão incluídas como fonte de receitas para o orçamento do ano que vem. Caso não passem este ano, algumas dessas mudanças só valerão para 2019 e outros começarão a ser cobradas apenas ao longo de 2018. Segundo o ministro Dyogo Oliveira, o adiamento dessas votações retira cerca de R$ 13 bilhões do orçamento de 2018 que terão de vir de outro lugar, como aumento de impostos. Ou torcer para o país crescer mesmo os 3% previstos para o ano que vem, diz o economista-chefe do home broker da Modalmais, Alvaro Bandeira.
Tensão e maior volatilidade nos mercados de risco
Na avaliação de Bandeira, o fato de o governo ter adiado com o Congresso a data para votação da reforma previdenciária implica em manter a tensão pelo prazo de 63 dias corridos (41 úteis).
“Devemos considerar declarações de líderes da base de que isso inviabiliza a votação por conta das eleições majoritárias, além de considerar a posição de agências de classificação de risco alertando para a possibilidade de downgrade da classificação do país”, destaca o analista, lembrando que o quadro geral faz prever volatilidade para os mercados de risco locais.
Alckmin quer punição para tucanos que votarem contra
Com a proximidade do recesso parlamentar, ganham ainda mais peso as negociações nos partidos, destacando-se o dividido PSDB, cujo presidente nacional, Geraldo Alckmin, anunciou que os deputados tucanos contrários às mudanças na Previdência serão punidos. É a manifestação mais forte de Alckmin depois de os tucanos fecharem questão em favor da reforma.
O governador paulista, no entanto, evitou falar de que forma a parte tucana contrária seria punida. Até a decisão do PSDB, tomada na quarta-feira, o governo já havia garantido o apoio oficial do PMDB, PPS e PTB.
Para Maia, sucesso depende de reorganização da base governista
Principal aliado do governo na Câmara, o presidente da casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), coloca em dúvida o futuro da reforma, caso o governo não obtenha os votos necessários até a data de votação. Ele avalia que o presidente Temer precisa reorganizar a sua base parlamentar para aprovar a matéria. Na possibilidade de não avançar, defende que o governo invista em outras reformas.
Eleições 2018: Maia, Alckmin e julgamento de Lula
No cenário eleitoral, o presidente da Câmara descarta, em entrevista concedida à Folha de S.Paulo desse domingo, disputar cargos majoritários em 2018 — como, por exemplo, vir a ser vice do atual ministro da Fazenda Henrique Meirelles (PSD). Ele critica a tentativa do PSDB de impor o nome de Alckmin como candidato a presidente de eventual aliança e defende uma composição entre os partidos da base do governo para dar continuidade às políticas reformistas no país.
Olhando para as forças de oposição ao governo Temer, o cenário eleitoral atual é também de incertezas. E elas devem permanecer até o julgamento do recurso do ex-presidente Lula (PT) no caso tríplex, no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, marcado para 24 de janeiro, com forte reação do partido por conta da celeridade da decisão judicial.
O cenário da eleição sem o ex-presidente, caso seja mantida a condenação, já é discutido entre as forças de esquerda, como o PSOL, que estuda lançar o líder do MTST, Guilherme Boulos, à Presidência.
IPCA-15 e relatório trimestral de inflação: leitura benigna
Para analistas do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depec) do Bradesco (SA:BBDC4), o relatório trimestral de inflação deve trazer novas discussões sobre a trajetória prospectiva da inflação, assim como a atualização dos modelos do BC, que podem incorporar revisão baixista para 2017, mas devem se manter estáveis para 2018 e 2019.
“No relatório, o BC tende a reforçar a mensagem de baixos níveis de inflação observados em serviços e núcleos”, destaca a equipe do Depec em relatório a clientes. Já o IPCA-15 de dezembro, na visão dos analistas do banco, deve corroborar essa leitura benigna da inflação, com núcleos baixos e com alimentação ainda em deflação.
Estimativas na casa de 0,3% para a prévia da inflação oficial
A previsão da consultoria Rosenberg Associados (RA) para o IPCA-15 é variação de 0,33% em dezembro, contra variação de 0,32% observada no mês anterior. A Gradual Investimentos projeta variação de 0,37% e o banco Fator, 0,38%.
“Na comparação em 12 meses, a inflação deve acelerar, encerrando o ano com variação de 2,92% – abaixo do piso do regime de metas de inflação do BC, de 3%, e que tem por meta 4,5%”, destaca a Rosenberg. Na comparação mensal, destaque para aceleração do grupo Transportes, pressionado pelo item passagem aérea, sazonalmente mais elevado nos meses de dezembro e, na contramão, o grupo Alimentação e Bebidas, que deve intensificar o ritmo deflacionário.
IBC-Br
O Banco Central publica nesta segunda-feira seu índice de atividade econômica, o IBC-Br, referente ao mês de outubro. Em setembro, lembram os analistas do banco Fator, o indicador — que incorpora a trajetória das variáveis consideradas essenciais para o desempenho de agropecuária, indústria e serviços — fechou o terceiro trimestre com alta de 0,6% sobre o semestre anterior, superando a taxa efetiva do PIB (IBGE) para o mesmo período (0,1%). Em relação à comparação sobre o terceiro trimestre de 2016, o IBC-Br e o PIB coincidiram registrando 1,4%.
Caged
Ainda sem data definida para divulgação, os valores para o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de novembro também devem ser conhecidos na semana. “Nossa estimativa é de um saldo de 13.229 novas vagas”, diz o Fator, lembrando que em outubro foram registrados 76.599 novos postos formais, segundo o Ministério do Trabalho (MTE).
Setor Externo deve apontar déficit maior
A previsão da Rosenberg Associados para a nota do Setor Externo, que geralmente traz dados sobre o balanço de pagamentos e as reservas internacionais, é de um déficit em Transações Correntes de US$ 1,7 bilhão — maior do que de US$ 0,7 bilhão verificado em novembro do ano passado. O déficit de contas correntes inclui o comércio do Brasil com o exterior, ou seja, a balança comercial, e mais a balança de serviços. Já o balanço de pagamentos, que inclui os fluxos financeiros, deve seguir positivo pela entrada de investimentos estrangeiros diretos. O banco Fator estima, em relatório, que o saldo da conta corrente de novembro seja deficitário em US$ 1,9 bilhão.
“Em linhas gerais, o grande responsável pelo aprofundamento do déficit é a balança comercial, com resultado US$ 1 bi menor do que foi em novembro de 2016”, diz a equipe da RA. “Já a entrada de IDP (Investimentos Diretos no País) deve ser mais forte, ao redor de US$ 4 bilhões, mas inferior ao registrado em novembro do ano passado (US$ 7,9 bilhões)”.
Melhora na concessão de crédito a consumidores e empresas
Em relação à Nota de Crédito, a previsão da consultoria RA é que deve se verificar continuidade do movimento de melhora das concessões, tanto para pessoas físicas como para as empresas. O banco Fator estima que a taxa de inadimplência não sofrerá grandes alterações, enquanto os juros e spreads (diferença entre custo de captação dos bancos e o que eles cobram do tomador de crédito) devem subir para pessoas físicas e jurídicas.
Agenda internacional destaca inflação nos EUA e Zona do Euro
A agenda internacional fica esvaziada na semana pré-feriados. O destaque maior vai para informações relativas a novembro sobre inflação nos Estados Unidos, além de dado consolidado para inflação na Zona do Euro, estimam os analistas do Depec, do Bradesco, e da Rosenberg Associados.
Na análise do Bradesco, o índice de preços de gastos com consumo dos EUA (PCE, na sigla em inglês), que sai na sexta-feira, deve reforçar a visão de cenário de inflação em trajetória ascendente lenta em direção à meta.
Ao mesmo tempo, o CPI (Consumer Price Index) — índice de preços ao consumidor considerando uma cesta fixa de bens e serviços — da Área do Euro, a ser conhecido segunda-feira, deve mostrar núcleo bem comportado, mesmo que o índice cheio possa vir mais pressionado por conta dos preços de energia. “Assim, o binômio atividade aquecida e inflação bem comportada nas economias avançadas deve continuar sendo destaque na semana”, avalia o relatório do Depec – Bradesco.
Situação econômica externa mais favorável
De forma geral, avalia Alvaro Bandeira, o cenário externo segue promissor em termos de retomada das economias, mas com alguma preocupação de que a reforma tributária de Trump implique em política mais apertada de juros para os EUA. Também permanece o risco geopolítico com Coreia do Norte e países árabes, “mas isso parece não mexer tanto com os mercados”, destaca o analista, e predomina a percepção de uma situação econômica mais favorável.
De olho na bolsa de valores e na estreia de Burger King
“Falando da B3 (SA:BVMF3), temos que nos manter acima de 73.400 pontos do Ibovespa, para tentar ganhar patamar de 74.000 pontos e buscar a consolidação que viria com a ultrapassagem do patamar de 75.100 pontos”, diz o economista da Modalmais.
Na segunda-feira, deve ocorrer a estreia de Burger King no mercado acionário. A oferta inicial de ações da operadora da rede de “fast food” BK Brasil saiu a R$ 18,00, no teto da faixa indicativa para a operação, de R$ 14,50 a R$ 18,00.
Já a Neoenergia decidiu cancelar sua oferta pública inicial de ações, pois os compradores queriam pagar menos que o piso pedido pelos acionistas da empresa. Assim, acionistas como o Banco do Brasil (SA:BBAS3) se recusaram a reduzir o preço sugerido, apesar da demanda ser considerada insuficiente para manter o valor pretendido de entre R$ 15,02 e R$ 18,52 por ação.