Publicado originalmente em inglês em 18/06/2021
Bem, não chegou a US$2.000 como afirmei em meu último artigo.
Mas o ouro provavelmente terá uma segunda chance na região intermediária de US$1800, o que é bastante cômico da perspectiva de quem está comprado, que passou metade do ano atrás do metal amarelo enquanto ele saía das máximas de US$1900 para a região de US$1800 e até abaixo de US$1700 em determinado momento, antes de voltar para US$1900 e colapsar de novo nesta semana para US$1700.
Os gráficos técnicos agora indicam um retorno para a faixa intermediária de US$1800. Você sabe como funciona: avanço, correção.
O mais engraçado, no entanto, é a mania tola dos “ursos” do mercado e analistas de Wall Street que tentam encontrar uma narrativa ridícula atrás da outra todos os dias para justificar a contínua venda e desvalorização de uma commodity que deveria ser a proteção número 1 do mundo contra a inflação – já que estamos vivendo, como dizem, um dos mais fortes momentos inflacionários da história.
No último ato desse circo todo, os mercados teriam perdido a confiança no ouro por completo na quarta-feira, após o Federal Reserve ter mudado de tom, segundo o sensacionalismo midiático, indicando uma redução do regime de afrouxo após um ano de uma intensa política de dinheiro fácil para enfrentar a pandemia.
Gráficos: cortesia de SK Dixit Charting
Sejamos claros sobre duas coisas.
Primeiro: o Fed NÃO vai subir os juros amanhã. O gráfico de projeções dos membros do comitê de política monetária indica que duas elevações ocorreriam antes de 2023, o que, se minhas contas estiverem certas, está a dois anos e meio de distância.
Segundo: O banco central americano ainda está analisando dados que sinalizarão o momento adequado para iniciar a redução das compras de US$120 bilhões em ativos, que começaram no ano passado para proteger os mercados de crédito e a economia do pior impacto da Covid-19. De fato, o presidente do Fed, Jerome Powell, passou apuros na coletiva de imprensa para enfatizar que o chamado “tapering”, ou desmontagem do programa de estímulo, NÃO ocorrerá até que o Fed veja sinais adequados que justifiquem tal ação. Powell também afirmou que o Fed telegrafará com bastante antecedência aos investidores suas intenções de fazê-lo, para não convulsionar o mercado.
"Nossa intenção é que esse processo ocorra de maneira ordeira, metódica e transparente”, declarou o chefe do Fed em sua coletiva.
“Faremos o possível para evitar uma reação [adversa] do mercado, e só realizaremos a redução do estímulo quando nosso objetivo macroeconômico for alcançado. Faremos isso quando acharmos que a economia avançou de forma bastante considerável".
Qualquer investidor que deu atenção ao que dizem os apresentadores falastrões e seus convidados na CNBC ou qualquer outro programa financeiro provavelmente saiu com uma ideia diferente, de que tanto o “tapering” quanto a alta de juros são iminentes, como se fossem acontecer já no próximo trimestre. É preciso lembrar que praticamente todos os convidados desses programas estão posicionados nos mercados e estão lá para seguir um roteiro, ao contrário de analistas como eu que não operam pela única razão de manter a objetividade e o viés de suas visões de mercado. Para deixar claro, não sou fã do ouro, mas gosto da razão e da objetividade.
Para mim, as palavras de Powell foram claras, e agir deliberadamente contra a mensagem do Fed é algo irresponsável e até mesmo estúpido, a não ser que a venda do ouro em um ambiente de euforia e medo fabricados possa ser extremamente rentável para os bancos e seus clientes. Assim, a charada no ouro continua.
O que tornou a queda do ouro nesta semana ainda mais absurda é que ela ocorreu na esteira da primeira alta dos pedidos de seguro-desemprego nos EUA, após sete semanas seguidas de declínios, mais uma vez levantando dúvidas sobre a consistência da recuperação do mercado de trabalho na pandemia. Se o ouro, de fato, é uma proteção contra turbulências políticas e econômicas, sem dúvida a inconsistência do mercado de trabalho preenche um dos requisitos de entrada no metal amarelo. No entanto, o que vimos foi uma queda de quase US$87, ou 5%, no dia que culminou em uma desvalorização semanal de mais de US$120 no metal.
Chega de falar do Fed e da tola temperada de euforia e medo no ouro. Vamos ver agora para onde os preços podem ir nos próximos dias e semanas.
Com a volta de um pouco de sensatez ao metal amarelo, a perspectiva do Investing.com sugere máximas de curto prazo na faixa intermediária US$1800 no ouro.
Nossa perspectiva técnica diária mantém indicação de “Forte Venda” para o ouro à vista, mas é possível que haja um repique.
Nos modelos Fibonacci e Clássico combinados, o ouro deve ficar na faixa de 1847 e 1869 no curto prazo.
O analista técnico Sunil Kumar Dixit concorda com os alvos do Investing.com.
Em uma perspectiva técnica no ouro à vista feita exclusivamente para nós, Dixit afirmou:
“A leitura do estocástico no gráfico diário a 13/16 indica que o metal atingiu o território sobrevendido, podendo haver um repique a partir das mínimas, desde que se segure acima de 1770”.
Por outro lado, o ouro pode continuar se enfraquecendo se o preço spot perder o nível de 1770, abrindo alvos em 1753-1735, segundo ele.
Dixit disse ainda:
“O estocástico no gráfico semanal está a 49/73, indicando que o repique pode ser limitado e outra onda de baixa ser acionada em na região de 1868. Em vista de todo o dano causado no ouro nas últimas 24 horas, é muito importante ver o comportamento dos preços perto da zona de resistência tática de 1868.”
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. A bem da neutralidade, ele apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.