O mercado futuro de açúcar em NY encerrou esta sexta-feira com o vencimento julho/23 cotado a 25.41 centavos de dólar por libra-peso, após ter alcançado o preço mínimo de 24.61 centavos de dólar por libra-peso, em expressiva queda na quinta-feira, acompanhada de um volume de negociação equivalente a mais do que o dobro dos dias normais.
Durante a semana foi reportada pelo mercado a negociação de um extraordinário lote de quase 20,000 puts (opções de venda) com preço de exercício de 22 centavos de dólar por libra-peso, para vencimento outubro/23. Na leitura dos traders, um volume dessa magnitude tem grande chance de ter como protagonista os fundos especulativos que podem estar antecipando uma correção de preços do açúcar.
Na semana, o açúcar em NY perdeu em média 6 dólares por tonelada para os meses que correspondem à safra 23/24 do Centro-Sul, enquanto as duas safras seguintes tiveram variação média positiva de 4.30 dólares por tonelada para a 24/25, e 6.60 dólares por tonelada para a safra 25/26.
Os números publicados pela UNICA sobre a produção na primeira quinzena de maio indicam um crescimento de 24% na produção de cana comparativamente ao mesmo período do ano passado. Também a ATR mostrou variação positiva de 0.61% em relação ao ano passado. O mix continua pendendo fortemente para o açúcar com 45.6% versus 38.5% na safra passada. O estado de São Paulo mostra um crescimento de 34% na produção de cana, enquanto os demais estados apresentaram média de crescimento de 13%.
No acumulado do ano safra, a produção de açúcar cresceu 48%, a de etanol anidro 76% enquanto o hidratado encolheu quase 5%. A percepção do mercado de mais açúcar e menos hidratado colaborou com o avanço no preço do CBIO negociado na B3 (BVMF:B3SA3), atingindo R$ 136 por tonelada, que corresponde a um adicional de aproximadamente 70 pontos no preço do hidratado. Uma pequena ajuda para um produto que negocia com um desconto de quase 10 centavos de dólar por libra-peso em relação ao açúcar NY. Hidratado hoje dá prejuízo para as usinas de pelo menos 60 dólares por tonelada equivalente açúcar.
No acumulado do ano, as chamadas soft commodities lideram o ranking de desempenho positivo. O suco de laranja subiu 43%, o açúcar 27%, o cacau 15% acompanhado pelo café que aumentou 8%. Já as quedas são lideradas pelo mercado de energia, como o gás natural que afundou 46%, diesel 28% e petróleo 10%.
Um corretor de Manhattan observou que por diversas vezes durante o pregão de açúcar em NY, sem que pareça haver qualquer atividade das casas comerciais, o mercado apresenta movimentos instáveis que indicam ser de autoria das negociações de computador, algoritmos, modelos matemáticos, num verdadeiro duelo de PC contra PC. Enquanto isso, nós humanos ficamos a inventar narrativas que justifiquem essas flutuações. Em geral, seguimos a horda de touros ou de ursos.
Os fundos não-indexados (especulativos) devem estar ainda comprados pelo menos 200,000 contratos. Como ocorre em situações semelhantes a esta que estamos vivendo, quando temos de um lado commodities que se apreciaram muito e do outro aquelas que derreteram, os fundos são por demais ágeis nesse terreno e – como visto anteriormente – nada impede que de repente troquem de mão liquidando o que está sobrevalorizado e comprando o que está subvalorizado. Uma recuperação da economia em nível global pode estimular a troca de posições, do tipo vender açúcar e comprar energia. Já vimos isso antes.
Curiosamente, temos percebido que quanto maior a volatilidade apresentada pelo mercado, menor parece ser o volume. O período que analisamos mostrou uma correlação inversa interessante próxima a -0.75. Alta volatilidade afasta o trader?
Acredito que os fundos vão tentar rolar suas posições compradas para os vencimentos mais longos. A vantagem no portfolio deles vai ser imponente. A média dos fechamentos de NY correspondentes às safras do Centro-Sul mostra que a 24/25 está 60 dólares por tonelada mais barata do que a safra corrente. E a 25/26, outros 60 dólares por tonelada mais barata. Ou seja, o mercado aponta que o açúcar vale 120 dólares por tonelada a menos daqui a dois anos. Liquidar agora as enormes posições compradas no açúcar, que apresentam um lucro gigantesco e recomprar os contratos com vencimentos futuros, vai gerar um resultado magnifico para os fundos especuladores.
As usinas devem refletir sobre as oportunidades que o mercado lhes mostra. Tudo parece evoluir para uma safra boa no Centro-Sul, com muita cana e excelente produtividade; a Índia avalia que a temporada de monções vai produzir o volume adequado de chuva. Se tudo seguir o ritmo normal, sem sobressaltos climáticos, em outubro próximo já teremos produzido cerca de 80% da cana estimada no ano enquanto as previsões da produção indiana começarão a germinar no mercado. A conjunção favorável justifica a compra das 20,000 puts (opções de venda) mencionadas acima.
As usinas estimam que o custo de produção de açúcar este ano não terá surpresas negativas. Como já dissemos, haverá um maior cuidado com o canavial para a 24/25 já que os insumos caíram de preço e sobra dinheiro no caixa. O crescimento na produção de cana para a 24/25 poderá ser expressivo. E tudo leva a crer que os juros no Brasil deverão sofrer uma redução, enquanto lá fora eles sobem e fazem o cupom cambial estreitar, afetando o NDF (Non-Deliverable Forward), um contrato a termo de moeda com liquidação financeira. Em resumo: menos reais ao longo da curva por dólar vendido. E ainda assim, caros leitores, vocês acreditam que o preço em reais por tonelada poderá subir?