A incerteza em relação à inflação, ao desempenho da economia e às políticas comerciais continua ofuscando o cenário macroeconômico, o que reforça as expectativas de que o Federal Reserve mantenha os juros inalterados nas próximas reuniões de política monetária.
Os contratos futuros de fed funds precificam uma probabilidade praticamente certa de que o banco central manterá a taxa atual, entre 4,25% e 4,50%, na reunião do dia 18 de junho do Fomc. As apostas também indicam forte viés pela manutenção na reunião de julho. Para setembro, o mercado já começa a precificar um corte, embora a probabilidade implícita, no momento, seja moderada, em torno de 65%.
Paralelamente, o mercado de Treasuries sinaliza a expectativa de que esse corte possa ocorrer antes. A taxa dos Treasuries de dois anos, sensível à política monetária, segue negociando bem abaixo do intervalo atual dos fed funds, o que sugere que os investidores antecipam um movimento de afrouxamento monetário mais cedo do que o discurso oficial do Fed indica.
O único ponto em que parece haver consenso é que o elevado grau de incerteza pesa fortemente sobre qualquer projeção de curto prazo para o cenário macroeconômico. Na segunda-feira, o presidente do Federal Reserve de St. Louis, Alberto Musalem, destacou esse ambiente nebuloso, justificando a postura mais cautelosa da autoridade monetária:
“Na medida em que a economia depende de investimentos em capital e da continuidade das contratações, e se todas essas decisões estão sendo, de certa forma, postergadas por conta da incerteza, isso inevitavelmente afeta as perspectivas econômicas. Não quero cravar um número, mas diria que o impacto tende a ser bastante relevante.”
Um fator adicional que complica o quadro é o crescimento expressivo do déficit fiscal norte-americano. O mercado de renda fixa volta sua atenção para o risco fiscal dos EUA, especialmente diante da possibilidade de que esse déficit aumente ainda mais caso o Congresso aprove o pacote orçamentário atualmente em discussão na Câmara.
Em relatório distribuído na segunda-feira, o analista do Citi, Daniel Tobon, alertou:
“Já esperávamos uma mudança de narrativa, saindo de um noticiário positivo sobre tarifas para preocupações negativas com o orçamento e o quadro fiscal. Isso pode gerar uma nova rodada de ‘sell the US’: alta nas taxas longas, queda nos ativos de risco e enfraquecimento do dólar.”
A deterioração fiscal ganhou mais destaque após a Moody’s rebaixar na sexta-feira a nota de crédito dos EUA. Diante desse cenário, cresce a pressão para que o Congresso adote medidas que contenham o déficit. No entanto, por ora, a disposição política para controlar os gastos parece bastante limitada. Conforme reportou o Financial Times:
“O Comitê para um Orçamento Federal Responsável, entidade apartidária, estima que o projeto de lei em tramitação elevaria a dívida pública em pelo menos US$ 3,3 trilhões até o final de 2034. Além disso, a relação dívida/PIB saltaria dos atuais 100% para um recorde de 125%, segundo o grupo. Isso supera a projeção de alta para 117% no mesmo período, considerando a legislação atual. Paralelamente, o déficit anual subiria de 6,4% do PIB em 2024 para 6,9%.”
Embora a Câmara ainda não tenha finalizado a versão final do projeto, os rascunhos já divulgados indicam déficits mais elevados nos próximos anos — uma tendência que tem gerado críticas em diferentes setores.
“Está na hora de os formuladores de políticas apertarem o freio, voltarem à prancheta e apresentarem um plano que realmente coloque o país em uma trajetória fiscal sustentável”, defendeu Maya MacGuineas, presidente do Comitê para um Orçamento Federal Responsável. “Os juros da dívida federal estão disparando, já superando os gastos anuais com defesa ou Medicare.”
Por sua vez, a administração Trump rebate, afirmando que o projeto em análise na Câmara “não amplia o déficit”, conforme declarou a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, durante coletiva na segunda-feira. Segundo ela, “há uma economia de US$ 1,6 trilhão prevista nesse projeto, a maior já registrada em qualquer legislação aprovada no Congresso na história do país”, de acordo com o Conselho de Assessores Econômicos.
O mercado de títulos, no entanto, deverá ser o juiz final dessa disputa. Especial atenção está voltada para os rendimentos dos Treasuries de dez anos, que funcionam como termômetro da percepção sobre risco fiscal. No momento, essa taxa está em 4,49%, levemente abaixo da máxima registrada em janeiro, de aproximadamente 4,80%. Caso essa taxa se aproxime de 5%, será um claro sinal de que o mercado está perdendo a confiança na capacidade dos EUA de controlar sua escalada de gastos.
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