O descompasso entre os PMIs e PMS de serviços no Brasil.

Publicado 22.11.2025, 11:25

Os dados de setembro do IBGE confirmaram que os serviços brasileiros cresceram acima do esperado e renovaram o pico da série histórica, com alta de 0,6% na margem, oitavo avanço consecutivo - o setor já opera 19,5% acima do nível pré-pandemia. A abertura mostra tração em informação e comunicação e em “outros serviços” (seguros, planos de saúde, previdência), enquanto serviços profissionais/administrativos e prestados às famílias recuaram, sinalizando uma rotação setorial típica de períodos de juros altos e consumidor mais seletivo.

Essa fotografia (“hard data”) contrasta com os sinais difusos dos PMIs de setembro, que captaram contração pelo sexto mês (queda de novas demandas e atividade). O descompasso entre pesquisas de alta frequência e estatísticas oficiais não é incomum: PMIs são termômetros de sentimento; a PMS do IBGE mede volumes efetivos. Em momentos de incerteza e mudança de mix de demanda, o humor antecipa fraqueza que, às vezes, não se materializa no mesmo mês. Ainda assim, a divergência recomenda prudência na precificação de tração sustentada.

Do lado macro, a resiliência dos serviços convive com inflação anual acima da meta (≈5,2% a.a. em setembro) e política monetária contracionista (Selic em patamar de duas décadas). A composição da inflação recente - energia elétrica e habitação em alta, alimentos ainda benignos - sugere que choques administrados e de custos seguem relevantes, mantendo o Banco Central em postura vigilante. Para os negócios, isso significa crédito caro e retorno mais exigente sobre projetos; para o mercado, lucros setoriais bifurcando: intensivos em capital e dependentes de financiamento sentem mais, enquanto cash-cows de serviços recorrentes preservam margens.

Setorialmente, três leituras se impõem. Primeiro, segmentos de dados e informações seguem como pilar do ciclo: digitalização e demanda por dados mantêm ticket médio e volumes, amparando receitas mesmo em desaceleração do varejo físico. Segundo, serviços às famílias patinam com renda comprimida por juros altos; restaurantes e lazer mostram sensibilidade imediata ao custo do crédito e à reprecificação de preços. Terceiro, serviços corporativos (consultoria, outsourcing, aluguel de máquinas e frota) ajustam capex e prazos, alongando decisões: é típico de “late-cycle” e explica a queda na margem desses segmentos no mês.

Para investidores, o quadro combina risco e oportunidade. Risco: a persistência de juros elevados reduz múltiplos e alonga o “payback” de cases de crescimento puro; a volta do IPCA aos 5% cria teto para afrouxamento monetário rápido, mantendo o prêmio de risco alto. Oportunidade: empresas de assinatura/recorrência e de infra digital surfam demanda inelástica; seguradoras e previdência se beneficiam de juros altos no reinvestimento de carteiras; exportadores de serviços de TI capturam dólar mais firme. A rotação para qualidade (alto ROIC, baixo endividamento, pricing power) segue tema central, enquanto small caps de serviços sensíveis a crédito exigem filtro: balanços com duration curto da dívida, covenants folgados e exposição menor a consumo discricionário tendem a atravessar melhor o ciclo.

Em suma, setembro reforça que o Brasil opera em “crescimento com travas”: serviços lideram e batem expectativas, mas sob um teto imposto por inflação ainda incômoda e juros altos. Ler a microdinâmica - quem tem recorrência, quem depende de crédito, quem precifica melhor - é o que separa defesa de alfa neste trecho do ciclo.

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