Quando em 1971 o Presidente Nixon, por inevitável, colocou fim no Acordo de Bretton Woods, o mundo financeiro global, em tese, admitiu que os valores relativos das moedas entre si deveriam repercutir a situação econômica dos países.
De lá para cá poucos cumpriram muitos descumpriram e o valor relativo/paritário da moeda passou a ser um extraordinário instrumento de fomento comercial. Esta é uma realidade antiga de mais de quatro décadas e meia e que o então Ministro Mantega destacou como um fato novo, nominando este jogo antigo de interesses praticado por inúmeros países, como algo novíssimo denominado “guerra cambial”.
Neste jogo de ação-reação o Brasil que utilizava a paridade do seu real para conter as pressões inflacionárias consequentes da gastança governamental, como coadjuvante da taxa de juro, não podia reagir e assim manteve a sua moeda sobrevalorizada ao extremo, destruindo sua indústria ao reduzir seu poder exportador e colocar no país produtos importados concorrentes, acreditando que o país havia ficado rico, beneficiado pelo “boom” das commodities.
Acostumou-se o país a conviver com a sua moeda sobrevalorizada e este foi um vicio absorvido pelo mercado financeiro como um todo, que até sente falta das intervenções do BC. Agora, o Ministro Levy liberou para que o real deixe de ter preço artificializado.
A nova equipe de gestão econômica tem nomes de maior confiança, mas que devem enfrentar seríssimas dificuldades para implementar medidas duras, ideias restauradoras e reconstrutoras da economia devastada, a partir da própria base de sustentação política do governo que é bastante fragmentada.
O Ministro Levy tem sido absolutamente cirúrgico ao apontar as medidas necessárias, mas o nível de confiança do empresariado no governo continua baixíssimo e por isso não há reação com investimentos, todos parecem atônitos e descrentes de que será exequível tudo que está sendo propagado. Os efeitos colaterais em grande parte vão contra dogmas do partido no poder.
Ademais, a enxurrada de aumento de preços e tributos por parte do governo impacta altamente negativo no espírito empreendedor do empresariado, que tanto quanto a população em geral percebe que a inflação conduz os bens essenciais a pesadas remarcações que corroerão com rapidez os salários e afetarão o consumo.
Já não se nutre expectativa de crescimento do PIB este ano, havendo até a possibilidade de ser negativo. A inflação tende a ser elevadíssima nos quesitos fundamentais à sociedade e exigir taxa SELIC bem mais elevada. O desemprego passa a ser uma ameaça efetiva e com ele a perda de renda, gerando insegurança que faz o consumo se retrair.
Não atraímos investidores externos com capital produtivo.
O Ministro Levy percebeu que o Brasil tende a ter problemas no setor externo, certamente por isso fez a declaração sobre o preço do dólar e isto provocou reação rápida de ajuste compatível com a situação econômica do país.
Com isto tenta animar a indústria nacional, conter importações e atrair capital externo especulativo e completou o discurso falando em estimular os investimentos em infraestrutura, única janela efetiva de atratividade para capitais estrangeiros que o país detém na atualidade.
O país já tem outra vez muitas incertezas e ocorre a retomada gradual do negativismo, há fatores adversos em profusão e insegurança até se o governo vai ser forte o suficiente para bancar as pressões opositoras as medidas corretivas.
São perspectivas para 2015.
Há um estresse generalizado. Mas a formação de preços dos ativos num ambiente estressado normalmente é muito imperfeita e tem imediata presença dos especuladores que vivem dos destemperos que são inflados.
Ainda que consideremos que é latente o risco do país vir a ter revisto o seu grau de investimento e dos Estados Unidos alterar sua política monetária, agregando sentimento negativo ao contexto geral Brasil já negativo, não há como deixar de considerar que há especulação nesta alta abrupta do preço da moeda americana no nosso mercado que é facilitado pelo estresse presente que é campo fértil.
O Brasil tem neste momento reservas cambiais liquidas em torno de US$ 349,0 Bi, já deduzidas as posições vendidas dos bancos que estão ancorando a necessidade do país de financiamento externo e que deveria ter sido suprido ao mercado pelo próprio BC. E o BC tem suportado a credibilidade da moeda nacional um estoque colocado de swaps cambiais em torno de US$ 120,0 Bi. O fluxo cambial em 2015 está positivo, mas não se nutre expectativa que sustente este desempenho.
Pelas demonstrações do fluxo cambial até o dia 6, não houve demanda desequilibrada, por isso entendemos que a alta é demasiada para o momento e pode estar sendo estimulada pela especulação oportuna atrelada a mudança de humor do mercado.
Então, é preciso ter sensatez neste momento, pois altas abruptas excessivas podem ser corrigidas também de forma abrupta. Algo acima de R$ 2,80 para o 1º trimestre está fora do nosso radar.
Embora existam razões para o estresse não pode deixar de haver sensatez, visto que não há neste momento indicação de demanda forte pressionando o preço e sim parece que a alta acima de R$ 2,80 está ocorrendo “no vazio”, ou seja puramente especulativa.
Por isso, não se deve esperar qualquer atitude do BC neste momento.
Por enquanto, há incertezas fundadas em desapontamentos internos que vão ocorrendo ou sendo vislumbrados gradualmente e em eventos que podem afetar o Brasil, mas que ainda não dão força a uma exacerbação abrupta do preço da moeda americana como ocorrida nos últimos dias.
Evidentemente o país terá problemas com fluxos de recursos no setor externo que parecem inevitáveis que podem ser ainda mais agravados com mudanças de política monetária pelo FED americano e até o risco de perda do grau de investimento, e esta perspectiva é que tem nos levado a projetar a taxa do dólar em R$ 3,20 ao final do ano a partir de R$ 2,80 no 1º trimestre.
No nosso ponto de vista o preço da moeda americana deverá retroceder até R$ 2,80 gradualmente nos próximos dias.