A digitalização do sistema financeiro é um caminho sem volta. Mas ela não avança sozinha, caminha lado a lado com a descentralização, desafiando estruturas tradicionais e criando exigências para instituições bancárias. A grande questão hoje não é se os bancos sobreviverão a esse processo, mas como irão se transformar para continuar sendo relevantes no ecossistema financeiro.
O futuro não será puramente digital, nem apenas fiduciário. Será híbrido. Em um cenário onde blockchains, stablecoins e tokens convivem com fundos, custódia fiduciária e sistemas como SWIFT, os bancos deixam de ser intermediários para se tornarem infraestrutura. Uma infraestrutura capaz de conectar mundos que até pouco tempo atrás pareciam opostos.
Segundo relatório da Chainalysis, realizado no ano passado, a América Latina liderou o crescimento global da adoção de criptoativos em 2023, com um aumento de 147% nas transações envolvendo ativos digitais. Já o Fórum Econômico Mundial aponta que 10% do PIB global poderá estar tokenizado até 2030. Nesse ambiente em rápida evolução, instituições financeiras precisam oferecer muito mais do que contas correntes: precisam prover lastro jurídico, estrutura regulatória e soluções técnicas para um novo tipo de cliente.
Bancos que entenderam esse movimento já atuam como pontes entre a economia tradicional e a criptoeconomia, integrando compliance, liquidez e flexibilidade. São parceiros estratégicos de fintechs, empresas de tecnologia, gestoras de criptoativos e estruturas familiares globais que precisam operar em ambientes regulados — sem renunciar à inovação.
Um exemplo concreto dessa convergência é o consórcio BRL1, formado pelo Grupo Bancário Cainvest em parceria com grandes players do mercado cripto. A iniciativa representa, na prática, a integração entre o sistema financeiro tradicional e o universo dos ativos digitais. A BRL1 é uma stablecoin pareada ao real, lastreada em moeda fiduciária e títulos públicos brasileiros, e opera em redes blockchain como Ethereum e Polygon unindo a estabilidade do dinheiro tradicional à agilidade das finanças descentralizadas.
Além de prover liquidez para a BRL1, a Cainvest agrega governança e uma infraestrutura bancária robusta ao projeto, garantindo segurança e credibilidade. A BRL1 se consolida não apenas como um ativo digital, mas como um elo seguro entre dois mundos que antes caminhavam em paralelo o da regulação e o da inovação.
A existência e expansão da BRL1 mostram, na prática, como o sistema financeiro pode se tornar verdadeiramente híbrido: combinando a solidez de ativos lastreados em moeda fiduciária com a eficiência e a interoperabilidade das redes descentralizadas. O consórcio demonstra que é possível criar soluções financeiras seguras, acessíveis e alinhadas com a regulação sem renunciar à inovação tecnológica que impulsiona os criptoativos.
Essa nova geração de bancos combina a robustez do sistema financeiro tradicional com a adaptabilidade exigida pelos mercados descentralizados. Oferecem, ao mesmo tempo, acesso ao sistema bancário internacional, serviços de custódia fiduciária e estruturação de negócios tokenizados. E fazem isso com governança, conhecimento regulatório e visão de longo prazo.
A descentralização não é o fim dos bancos. É a oportunidade de reposicioná-los como provedores de infraestrutura segura em um ecossistema mais ágil, transparente e inclusivo. O banco do futuro não será aquele que escolhe entre o fiduciário e o digital, mas o que consegue operar com excelência nos dois mundos.