Mesmo em tempos de turbulência política e decisões controversas vindas do topo do governo, os Estados Unidos seguem como um dos destinos mais confiáveis para investimentos privados de longo prazo. Isso se deve à força de um elemento fundamental, muitas vezes subestimado em análises econômicas: o funcionamento pleno das instituições democráticas e o respeito ao império da lei.
As recentes tarifas impostas pelo governo Trump (abril/2025) provocaram quedas expressivas nos mercados de ações e reacenderam temores protecionistas. Empresas exportadoras, consumidores e setores produtivos já começam a sentir os impactos. No entanto, ao contrário de regimes mais centralizados, nos EUA esse tipo de movimento é naturalmente enfrentado por uma rede de equilíbrio institucional. O Congresso, os tribunais e, acima de tudo, a pressão popular e dos mercados funcionam como contrapesos reais ao poder presidencial, mesmo diante de ordens executivas.
Essa dinâmica institucional garante algo raro no mundo atual: previsibilidade de longo prazo. O investidor sabe que pode haver volatilidade política, mas não existe arbitrariedade irreversível. Medidas impopulares tendem a ser reavaliadas ou ajustadas quando os custos se tornam evidentes para a sociedade. É assim que a democracia americana se reequilibra: com barulho, debates intensos, mas dentro de um marco legal respeitado por todos os atores.
Esse cenário contrasta fortemente com o de outras potências relevantes, cuja economia é forte e significativamente importante, mas o ambiente institucional é mais opaco, centralizado e não democrático. Nesses países, decisões governamentais são tomadas de forma abrupta, sem amplo debate público ou mecanismos de contenção. Intervenções inesperadas em setores estratégicos, como tecnologia, educação e imóveis, têm gerado perdas expressivas e aumento da incerteza entre investidores. A ausência de um sistema institucional de checks and balances torna difícil prever quando — ou por que — o governo pode interferir novamente.
Nos Estados Unidos, mesmo com todos os seus problemas internos, há uma cultura institucional que valoriza regras claras, contratos e direitos adquiridos. O Judiciário atua com independência, a imprensa investiga e divulga livremente, e os próprios cidadãos estão dispostos a questionar o poder quando percebem ameaças à ordem democrática. Isso gera um tipo de confiança que vai além da economia: uma confiança sistêmica, estrutural. É por isso que o mercado americano, com todos os seus altos e baixos, continua sendo visto como o principal porto seguro do capital global. A profundidade e liquidez dos mercados financeiros dos EUA, somadas à força de sua moeda e à estabilidade institucional, garantem que grandes fundos, empresas e investidores individuais sigam apostando no país.
Além disso, a capacidade de inovação dos Estados Unidos — sustentada por universidades, centros de pesquisa, capital de risco e proteção legal da propriedade intelectual — reforça o papel do país como líder global em tecnologia e empreendedorismo. Isso não é apenas uma vantagem competitiva, mas um reflexo de um sistema que estimula o risco calculado, recompensa a eficiência e protege quem joga conforme as regras. Mesmo quando a política americana parece desordenada ou polarizada, o sistema continua funcionando. O processo pode ser ruidoso e imprevisível no curto prazo, mas a médio e longo prazo a tendência é de retorno ao equilíbrio. Isso é parte do DNA institucional dos EUA — um país que aprendeu, ao longo de séculos, a lidar com crises sem romper com seus fundamentos democráticos.
Resumidamente, os americanos valorizam, acima de tudo, duas coisas: Institutions and Money. Entretanto, a ordem desses valores não é acidental: as instituições vêm primeiro, porque é delas que emana a estabilidade necessária para que a economia funcione, a riqueza seja gerada e os investimentos prosperem. É essa base institucional sólida que sustenta a confiança no sistema, mesmo nos momentos de maior incerteza. Enquanto o ruído político se dissipa, o Império da Lei continua firme.