48 horas
Até então, o grande evento de recuperação da credibilidade da Petrobras, a saída de Graça Foster, de impacto mais representativo sobre as ações do que a própria descoberta do pré-sal, tem se provado (mais) uma baita de uma trapalhada.
Graça e o motim de diretores não aceitaram ficar no cargo demissionários, pelo tempo exigido pelo governo.
Pudera... Ponha-se no lugar desses caras... A proposta era entregar o balanço mais delicado da história da empresa, assinar o seu nome nele, e sair demitido, ficando, assim, com todo o risco e sem a possibilidade de defesa, ou mesmo de reconhecimento no caso de reestruturação da companhia a posteriori.
Com isso, o governo, que teve ao menos seis meses para preparar um plano de sucessão na empresa, desde o início das cobranças mais efusivas por troca de comando, agora tem 48 horas para achar seis super-homens às pressas.
Quanto mais se espera, mais drástico será o corte quando vier.
Enquanto isso, Petrobras é uma uma nau gigante sem capitão e sem tripulação.
Você embarcaria nessa?
Carta de Alforria
(Ou: Run Grívnia, run!)
Embora haja um risco sistêmico aqui, da crise da Petrobras contagiar setor financeiro, empreiteiras, fornecedores da cadeia de óleo e gás e, consequentemente, toda a economia, algo que já ocorre, vide o seu impacto sobre o cupom cambial, sobre o risco-Brasil (tema do M5M de ontem) e a quebra de contratos com fornecedores, passemos para os demais desdobramentos da agenda. Sim, eles existem.
Não podemos esquecer que além da desGraça da Petrobras, há a DesGrécia.
E lembra do que aconteceu recentemente com a suíça?
Com juro negativo no país e limite de variação da moeda, ocorria uma incentivo para se emprestar dinheiro na Suíça e aplicá-lo em países de juro mais alto. Movimento conhecido como “carry trade”.
De repente, sem qualquer sinalização prévia, os caras se anteciparam à bomba de estímulos lançada pelo Banco Central Europeu e decidiram retirar o teto para sua taxa de câmbio. O franco suíço disparou e matou qualquer ganho obtido com diferencial de juro, evitando, assim, que o Banco Suíço tivesse de comprar uma enxurrada de euros para sustentar sua ancoragem cambial após a injeção de liquidez do BCE.
Agora, olha o que acontece com a moeda ucraniana, a famosa Grívnia (sqn)...
O BC ucraniano aumentou o juro de 14% para 19,5% e suspendeu leilões cambiais, permitindo que o mercado defina a taxa de câmbio.
E mais um Banco Central admite a sua derrota para as forças de oferta e demanda...
Admissão
Por aqui ainda não admitimos que “não há intenção de manter o câmbio artificialmente valorizado”, ou até admitimos, mas depois (de puxão de orelha) desmentimos a afirmação.
Por outro lado, pelo menos começamos a admitir a real gravidade do problema de abastecimento de energia no país.
De acordo com o Valor, o indicador que retrata o risco de déficit extrapolou o limite de tolerância de 5%.
Com chuvas escassas (volume de água que chegou aos reservatórios foi o menor em 84 anos em janeiro), o milagre da estação chuvosa não aconteceu, e a necessidade de racionamento aumenta, fato.
Infelizmente, o ideal seria largamos a fé em São Pedro e decretarmos o quanto antes o racionamento, ainda que isso nos custe cerca de 1 ponto percentual de um PIB que definha.
Quanto mais se espera, mais drástico será o corte quando vier.
O próximo setor a colapsar (mais um??)
As ações de Qualicorp vão despencando hoje com a notícia de que o Governo pretende ampliar a oferta de planos de saúde individuais.
Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, o Ministério da Saúde vai anunciar nos próximos meses um pacote de medidas para mudar o modelo de atendimento e reorganizar o setor de convênios no país, que abrange cerca de 50 milhões de brasileiros.
Após o que ocorreu no setor elétrico e, mais recentemente, no de educação, a possibilidade de desregulamentação de mais um segmento vem como uma bomba sobre a iniciativa privada, incitando temores de aperto de regras e desrepeito aos contratos.
A propósito, temos:
Seguro-saúde na mira, Óleo e gás no escândalo, infraestrutura definhando, (des)indústria, educação sob risco de Fies, elétrico e saneamento sem água e luz, siderurgia e mineração apanhando da China...
À exceção dos bancos, é claro, não sobrou um setor na Bolsa brasileira que esteja colapsado.