A eleição dos Estados Unidos carimbou o retorno triunfal de Donald Trump à cadeira mais importante do mundo. O bilionário, mega celebridade, “dono” do partido republicano, conseguiu uma vitória histórica que ninguém acreditava e com amplas condições de implementar qualquer mudança (reforma, novas leis e outros desejos) que ele tenha em mente para o povo americano.
A plataforma de Trump e seu impacto na economia
A campanha de Trump foi centrada na famosa frase “Make America Great Again”, que sugere devolver aos Estados Unidos uma posição de liderança, grandeza e prosperidade que, segundo ele, foi perdida nas últimas décadas. Entre os cinco pontos principais do programa de Trump, estão o fechamento das fronteiras para imigrantes, a realização da maior deportação da história, o combate à inflação, a liderança dos Estados Unidos no setor de energia (não renovável) e a retomada de empregos que foram terceirizados para países com mão de obra mais barata, com promessas de isenções fiscais às empresas.
Quanto ao último ponto, os cortes de impostos, embora visem repatriar empregos de maior complexidade e valor agregado, também têm o potencial de reduzir a arrecadação federal, ampliando o déficit e, por consequência, a dívida pública americana, na casa dos 35 trilhões de dólares e que já ultrapassa 120% do PIB. Como resultado, projeta-se um possível aumento das taxas de juros para controle da inflação, o que atrairia ainda mais fluxos de divisas para os EUA, fortalecendo o dólar no mercado global. O que poucos se questionam é até que ponto esta dinâmica pode se manter com uma dívida cada vez maior. Segue o jogo.
Embora seja necessário entender os detalhes dessas propostas de Trump, é sempre prudente lembrar que, aqui entre nós, para quem conhece políticos tanto ao norte quanto ao sul do Equador, o discurso de campanha costuma ser bem diferente da prática diária. Afinal, “treino é treino e jogo é jogo”.
Como a economia dos EUA pode afetar o Brasil
Uma mudança radical na política dos EUA, valorizando sua própria indústria, economia interna e moeda (o dólar), pode ter efeitos negativos para o Brasil. A valorização do dólar em relação ao real tende a gerar inflação por aqui, como já sabemos. Setores que dependem de matérias-primas internacionais, como o farmacêutico, de combustíveis e o tecnológico, sentem esse impacto diretamente. Esses aumentos acabam sendo repassados ao consumidor, intensificando a inflação e exigindo uma resposta eficaz da política monetária para mitigar os efeitos.
No entanto, nossos problemas econômicos são, em grande parte, causados pela frágil política econômica conduzida pelo Sr. Fernando Haddad, mais do que pelas mudanças na América do Norte. Se fizermos nossa “lição de casa” – ou seja, reduzirmos o déficit fiscal, colocarmos as contas em ordem e cortarmos custos do governo – o impacto do que vem dos EUA será menor. Infelizmente, parece que ainda há muita resistência em Brasília para enxergar o óbvio.
Não basta apenas o pessoal de Economia e Planejamento estar convencido, todos os ministérios precisam aceitar essa necessidade. Caso contrário, corremos o risco de ver uma piora nas contas públicas, levando a uma inflação elevada, o que seria trágico. Cedo ou tarde, a realidade acaba se impondo.
O novo arcabouço fiscal de 2023 estabelece limites para o crescimento dos gastos públicos, permitindo um aumento real (acima da inflação) de 0,6% a 2,5% ao ano, condicionado ao desempenho das receitas. No entanto, o crescimento das despesas obrigatórias, como saúde, educação e previdência, tem superado esse limite, pressionando o orçamento.
Essa discrepância entre a expansão das despesas e a geração de receitas torna inviável, no cenário atual, cumprir as metas fiscais sem ajustes significativos para os próximos anos. Consequentemente, o governo está analisando diminuir o ritmo de crescimento em áreas de despesas obrigatórias para evitar o agravamento da dívida pública. Esses ajustes, embora socialmente sensíveis, são necessários para manter a sustentabilidade fiscal do país.
E para o investidor comum, o que muda?
Sendo sincero, não muda quase nada. Se você é um investidor de longo prazo, que olha para seus investimentos como uma forma de aumento de patrimônio e de criação de capacidade previdenciária (renda para a aposentadoria), ou ainda investe com o objetivo de realizar algum sonho nos próximos meses ou anos, não vale a pena mudar sua estratégia agora.
Nos últimos dias, o câmbio e as criptomoedas subiram, um movimento que já vinha se desenhando, mas nada que justifique mudanças substanciais no seu portfólio. No entanto, se você ainda não investe lá fora, vale a pena considerar investimentos em moeda estrangeira, já que o dólar e outras moedas fortes podem contribuir para uma diversificação inteligente, que é fundamental para quem não pode acompanhar o mercado diariamente.
Dicas para o investidor raiz
Sempre lembrando que estamos falando aqui de quem que não se dedica muito aos investimentos porque trabalha para caramba, pelo menos das 9h às 18h, sai correndo para pegar o filho na escola, passa no supermercado e faz compras para o jantar, chega em casa e põe roupa na máquina para “bater”, e no outro dia começa a rotina de novo.
Para esse pessoal, recomendo ter um plano que você revisa com calma a cada ano, definindo valores a serem aportados regularmente (de preferência automaticamente) em investimentos seguros que gerem um rendimento adequado. E mantenha- se dentro desse objetivo, o resto deixa pra lá!
Não vai ser a eleição de um presidente dos Estados Unidos que vai mudar sua rotina.