Neste início de corrida eleitoral, os principais candidatos evitam assumir quaisquer compromissos firmes, dominados que estão pelo medo de perder votos.
Por trás das manchetes óbvias, o que parece realmente importar não é o quanto um candidato angariou ou não em votos percentuais, mas sim o quanto ele tem medo de perder.
Não é surpresa, portanto, que encontremos declarações sempre em tom compensatório, tentando equilibrar a balança do centro eleitoral.
“Sou a favor de reformar a Previdência, mas reconheço a polêmica envolvida no teto de gastos.”
“Precisamos privatizar urgentemente, mas preservando os 279 setores estratégicos já mapeados pela minha equipe econômica.”
“Quero disciplina fiscal, mas sempre lembrando que o Estado é o grande indutor do crescimento.”
Traduzindo ao nosso mundo financeiro, seria algo como:
“Vim aqui buscar retornos de Bolsa, mas com a segurança da poupança, ok?”
Depreende-se daí uma máxima talebiana que se aplica tanto aos presidenciáveis quanto ao investidor comum:
Quanto mais você tem medo de perder, mais frágil você é.
Pessoas travadas pela aversão a perdas não são livres para decidir o que querem, e nem para falar o que pensam.
Não tenho a mínima condição de discutir qual seria a melhor retórica dos candidatos, ou qual é a melhor estratégia de campanha para o momento.
Escapa-me qualquer vocação para as ciências políticas.
Só acho que pessoas votam em pessoas; pessoas não votam em estrategistas, e muito menos em estrategistas temerosos.
Em algum momento, se houver um ou dois raros candidatos capazes de falar efetivamente o que pensam, esses tenderão a superar os burocratas por larga margem.
Pois a única forma de referendar uma posição como autêntica é sacrificando parte dos votos. Skin in the game.
Um discurso assertivo, do lado esquerdo ou direito do muro, é um discurso mais honesto.
Não há como agradar todo mundo, obtendo retornos de dois dígitos ao ano com uma volatilidade aproximadamente nula.
– E então, você é a favor ou contra reformar a Previdência?
– Pretende ou não privatizar?
– Está mirando o superávit fiscal?
“Não sei bem o que pensar sobre isso tudo…”
Se você ainda não conseguiu convencer a si mesmo que deve investir um pedaço do seu dinheiro em Bolsa, continue com 100 por cento na renda fixa e voltamos a conversar daqui a quatro anos, quando o custo de oportunidade do seu medo estará bem mais tangível.