Já tivemos oportunidade de dissecar os números das reservas cambiais brasileiras que deixam inconteste a solidez e, portanto, imunidade do país ao risco de crise cambial, independente de quem quer que seja escolhido como novo Presidente.
E mais, relevante que o país sequer precisa dispor do relevante estoque de reservas cambiais da ordem de US$ 380,0 Bi, utilizando-a tecnicamente como lastro de credibilidade e confiança aos contratos de “swaps cambiais” e como fonte de liquidez para a oferta das operações de financiamentos em moedas estrangeiras com recompra com as quais irriga o mercado de câmbio a vista para atender a demanda.
Já destacamos que o Brasil, na questão cambial, é um emergente absolutamente diferenciado e que não há quaisquer fundamentos para correlacioná-lo com Argentina, Turquia, etc...e que este quadro de conforto cambial mitiga o risco de efetivas contaminações impactantes no preço do real, e mais, que não há nenhuma sinergia entre o quadro cambial brasileiro prevalecente em 2002 e o atual em 2018, atualmente consolidado muitíssimo melhor.
Tivemos oportunidade de destacar que, no entanto, o quadro econômico de 2002 era mais favorável do que o de 2018, quando o país atravessa enorme crise na atividade econômica e na sua situação fiscal, com necessidade urgente de reformas que o revitalizem de forma a que possa recuperar dinamismo na economia, na geração de empregos, renda e na arrecadação para superar a drástica situação fiscal.
Falamos também quanto a imunidade que esta solidez na área cambial permite ao país independente de quem quer que seja eleito Presidente, e até fizemos elucubrações acerca de algumas hipóteses radicais e extremas que o novo dirigente possa vir a adotar, com a utilização das reservas cambiais, sem, contudo afetar esta forte posição de solidez no contexto cambial.
Mencionamos também que o preço da moeda americana atualmente se eleva “no vazio”, muito provavelmente impulsionada pela prática de operações “zé com zé” entre os especuladores “comprados”, e que isto é que fomenta o incremento da especulação, mas que ganha apoio e forte repercussão da comunidade leiga em torno dos meandros do fatores intrínsecos do mercado de câmbio brasileiro.
Há uma “memória” muito presente no Brasil que em tempos de crise o preço do dólar é o principal “sensor”, mas desta vez o quadro cambial brasileiro é o único setor que não tem debilidade.
O país não sofre nenhuma fuga de capitais desestabilizadora como ocorreu em outros emergentes, os números do Banco Central do Brasil são disponíveis e públicos, há sinais de aumento de intensidade de saídas financeiras, o que ocorre impulsionada principalmente pela saída de investidores de renda fixa, em especial, e é natural como postura defensiva pela proximidade da tensão eleitoral no país, e os bancos tiveram suficiência natural gerada pelo fluxo cambial, e ainda que venha a se acentuar o movimento, o BC está apto a suprir a liquidez do mercado à vista com extremo conforto.
No mês de agosto, os bancos fecharam com posição comprada de tão somente US$ 110,0 Mi e tendo US$ 2,150 Bi adicionais ancorados em linhas de financiamento de moeda estrangeira com recompra fornecida pelo BC, que foi rolada pelo BC em montante idêntico na última sexta feira, dia 31, o que deixou em poder dos mesmos um “colchão de liquidez” na virada do mês de US$ 2,260 Bi.
Merece destaque o fluxo financeiro negativo do mês de agosto no montante líquido de US$ 9,802 Bi, menor somente em relação a março quando foi negativo em US$ 10,472 Bi, evidenciando que o volume de saída de investidores estrangeiros pode estar se acentuando, o que não deve ser considerado atípico, pelo contrário já esperado pela proximidade das eleições que estão muito indefinidas.
O saldo negativo do fluxo cambial de agosto ficou em US$ 4,250 Bi, que foi ancorado pela posição comprada em poder dos bancos na virada julho/agosto no montante de US$ 4,559 Bi.
Contudo, tudo leva a crer que o Banco Central do Brasil deva anunciar nova oferta adicional de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra para reforçar o “colchão de liquidez” em poder dos bancos para atender a demanda no mercado à vista, com absoluta tranquilidade.
Embora consideremos que os demandantes por proteção cambial estejam atendidos, não nos foge a percepção o fato de que na oportunidade em que o BC intempestivamente agiu com a oferta intensa (junho) e, por que não até descontrolada, de swaps cambiais visando dar demonstração de força a sua intervenção, expressamos na ocasião dois pontos de vista a respeito. O primeiro foi de que nem sempre resolver problemas de pressão no mercado cambial é uma questão de força, mas sim de jeito, e, mais de que tínhamos a percepção de que a oferta era excessiva e que poderia estar ocorrendo a demanda não efetivamente para proteção cambial, mas como uma aplicação em renda variável pelos players do mercado, com a expectativa de que o preço da moeda pudesse ser pressionada na medida em que se aproximasse o período eleitoral e o esperado acirramento.
Esta menção está consignada na nossa edição do CÂMBIO NEWS de 25 de junho de 2018 e, atualmente não podemos descartar que aquelas vendas excessivas tenham sido efetivamente absorvidas como aplicação simples em renda variável descoladas de proteção cambial, já especulativamente, e que agora aquele estoque em poder do mercado seja a força motriz do movimento especulativo.
Afinal, o movimento especulativo não se ancora em fundamentos efetivos do quadro cambial brasileiro, que não sustentam ideia de riscos acentuados, mas tem claramente o propósito determinado de lucro exacerbado e cujo interesse emana das posições constituídas em “swaps cambiais” anteriormente, sem o propósito de proteção cambial.
Para quem está com “hedge” efetivo, a valorização do dólar não representa ganho, pois ganha no swap e perde no físico, mas para quem adquiriu “swap cambial” descolado como simples aplicação em renda variável, o ganho está sendo maximizado, sendo oportuno relembrar o óbvio, as operações de swaps cambiais são liquidadas em reais por diferença entre variação cambial versus juro, não envolvem fluxo efetivo de moeda estrangeira entre as partes.
Por isso, como não há efetivamente uma demanda real, mas sim um movimento estruturado especulativo para criar volume/giro e impulsionar a taxa cambial, fica absolutamente evidente que qualquer intervenção do Banco Central do Brasil não sensibiliza a propulsão da taxa, sendo que o único antídoto a este movimento é desacreditá-lo enaltecendo a solidez da situação cambial do país.
Este deve ser o papel do BC de forma enfática, o que não tem feito, mas é notório que especialistas de peso vêm cada vez mais minimizando a capacidade de sustentabilidade do preço do dólar nos parâmetros atuais.
O preço consensual permanece no entorno de R$ 3,80.
No nosso ponto de vista é isto, quando analisada a especulação com extrema acurácia, simples assim!
O restante que envolve situação dos demais emergentes, crise comercial, temores eleitorais, etc... já estão precificados no preço de R$ 3,80, tudo o mais é utilizado de forma sútil para propagar razões e motivos para sustentar o movimento que na realidade carece de fundamentos críveis.