- O relatório de vendas da GM no 3º tri foi bastante impressionante, com a empresa ganhando participação de mercado em várias categorias.
- A estratégia de veículos elétricos é promissora, embora a concorrência ainda esteja à frente.
- O foco da GM em veículos com margens maiores faz com que suas ações dependam mais da economia para se recuperar das mínimas.
Parece muito fácil defender uma compra nas ações da General Motors (NYSE:GM) (BVMF:GMCO34) neste momento. Com base nas estimativas de Wall Street, os papéis da empresa são negociados a um múltiplo de 5x os resultados deste ano. Mesmo assim, o desempenho continua impressionante, com base no relatório de vendas da empresa para o terceiro trimestre. No longo prazo, a mudança para veículos elétricos e autônomos parece indicar um potencial de alta.
Mas a história aqui não é tão simples assim. Os grandes números da GM em 2021 e 2022 explicam, pelo menos em parte, por que o papel deveria estar precificado a um múltiplo tão baixo. O crescimento no segmento de VEs e VAs no longo prazo não necessariamente contribui para a perspectiva da empresa. E a história tanto da companhia quanto da indústria aponta para riscos de curto prazo para os resultados e a ação.
Nos atuais níveis, esses riscos já estão, em certa medida, precificados. De uma perspectiva de longo prazo, a ação da GM está atraente. Mas a companhia precisará de uma ajudinha externa para que o cenário de alta se concretize.
Investing.com
O problema do múltiplo de 5x os resultados
O relatório de vendas da GM no 3º tri apresenta razões tanto para comprar quanto para ficar de fora do papel.
A montadora inquestionavelmente teve um trimestre impressionante. As vendas totais de unidades subiram 24% em bases anuais. Como ressaltou a companhia, ela conquistou um “trifecta”, com sua liderança em participação de mercado de SUVs e picapes de grande porte e SUVs de luxo.
Até mesmo a estratégia da companhia com VEs está dando resultado, em vista da “demanda sem precedentes dos consumidores” pela linha Bolt. A GM pretende aumentar a produção em 2023 para mais de 70.000 veículos.
Em retrospectiva, sem dúvida é uma boa notícia. Os riscos são mais patentes olhando para o futuro.
A força das vendas da GM claramente está claramente relacionada aos veículos mais caros – e mais rentáveis. Esses veículos são fáceis de vender neste momento. A taxa de desemprego nos EUA está baixa. A inflação é uma preocupação, sem dúvida, mas é menos preocupante para os clientes de renda mais alta, responsáveis pelas vendas de SUVs e picapes de grande porte.
Até agora, a economia dos EUA se manteve firme razoavelmente bem. Nesse contexto, não causa estranheza o fato de as vendas da GM terem feito o mesmo. A real preocupação é que, em meio às elevações de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) e pressões macroeconômicas no exterior, a economia americana e as vendas da empresa sofram uma reversão.
Isso, evidentemente, sempre representa um risco para empresas de setores cíclicos, como indústria. Mas, em vista da força específica da GM em segmentos de alta renda e do fato de que as montadoras americanas praticamente pararam de produzir sedãs e cupês de baixo preço, os riscos são ainda maiores do que de costume. Claramente, o mercado acredita que o ciclo fará com que os lucros da GM caiam, razão pela qual atribui um múltiplo tão baixo para os lucros da companhia.
A questão dos veículos elétricos e autônomos
Esse é o risco no curto prazo. O temor no longo prazo envolvendo tanto a GM quanto sua concorrente Ford (NYSE:F) é que a mudança para veículos elétricos também comece a deteriorar os lucros.
No que se refere aos veículos elétricos, é importante lembrar um fato importante: Os VEs não expandem o mercado. O número total de novos veículos demandados pelos consumidores não muda de forma substancial, dependendo do seu modelo atual, seja ele elétrico ou com motor à combustão. Grosso modo, a venda de um VE significa, para o setor, um modelo à combustão a manos.
Para a GM, é preciso admitir que a história é um pouco diferente, já que o Bolt e o Bolt EUV têm como foco categorias em que os modelos convencionais da companhia têm baixa participação de mercado. Ainda assim, a produção projetada para 2023 é menos de 4% da fabricação total de veículos para este ano. Enquanto isso, a líder do segmento de veículos elétricos, Tesla (NASDAQ:TSLA), ao lado de outros nomes, como Rivian Automotive (NASDAQ:RIVN) e Lucid Inc (NASDAQ:LCID), estão de olho nos mercados mais lucrativos da GM....
Em termos de veículos autônomos, a perspectiva é ainda pior. Em teoria, os veículos autônomos reduziriam significativamente a demanda. A necessidade de ter um carro individual se depararia com uma realidade em que seria possível usar um simples aplicativo para chamar um veículo autônomo. (Isso, evidentemente, é a razão pela qual a Uber (NYSE:UBER) está gastando bilhões de dólares em seus esforços de autonomia). Se a divisão Cruise da GM não tiver sucesso, os veículos autônomos podem abocanhar uma parte significativa da receita e dos lucros da companhia.
A beleza está nos olhos de quem vê
É útil que os investidores entendam os argumentos para a queda das ações da GM. O múltiplo de 5x os resultados em si não é suficiente para tornar a GM em uma compra fácil. Há riscos aqui, tanto de curto quanto de longo prazo.
Dito isso, também há possíveis recompensas. A companhia tem uma boa execução. Está ganhando participação de mercado. O valuation é razoável, mesmo que os lucros acabem se revertendo em meio a um ambiente macro mais difícil.
De fato, a resposta de Wall Street ao relatório de vendas do 3º tri mostra ambos os lados da moeda. O Morgan Stanley (NYSE:MS) cortou o preço-alvo da empresa para US$ 30, argumentando que a GM teria uma perda de lucratividade em algum momento. O Citigroup (NYSE:C) manteve seu preço-alvo a US$ 78, enxergando um potencial de estoque maior e, assim, maiores vendas.
Se a economia americana se segurar firme, esse acúmulo de estoque deve promover a alta dos lucros e impulsionar os papéis da GM. Caso contrário, o cenário não poderia ser pior. Afinal, faz somente 13 anos que a General Motors entrou com um pedido de falência, em meio à crise financeira. Uma repetição desse evento é muito pouco provável, mas o mesmo não se pode dizer da queda dos lucros e do preço da ação.
Aviso: No momento da publicação, Vince Martin tinha uma posição vendida em TSLA. Ele não tem posições nos outros ativos mencionados.