Muito já se escreveu sobre as perspectivas econômicas e inflacionárias desde que o presidente Trump surpreendeu os mercados em abril com uma mudança drástica na política comercial dos Estados Unidos. Embora as tarifas tenham aumentado e o cenário tenha se tornado mais imprevisível, a política monetária do Federal Reserve permaneceu como um pilar de estabilidade — congelada, mas constante. Não se trata necessariamente de um ponto positivo, mas, por ora, é uma das poucas variáveis previsíveis no atual quadro macroeconômico.
Os contratos futuros de fed funds continuam indicando alta probabilidade de manutenção da taxa básica na próxima reunião do Fed. O mesmo é esperado para o encontro do FOMC em julho. O mercado prevê um corte em setembro, embora, no contexto atual, três meses pareçam equivaler a três anos — ou seja, o alerta ao investidor permanece aceso.
Enquanto isso, o mercado de Treasuries, especialmente o título de 2 anos, sensível à política monetária, continua precificando cortes nos juros em algum momento do futuro próximo.
Ontem (9 de junho), a taxa de 2 anos fechou em 4,01% — próxima do pico observado em março, mas ainda abaixo da taxa efetiva média de 4,33% dos fed funds. Isso revela uma expectativa majoritária de afrouxamento monetário num horizonte não muito distante.
Autoridades do Fed, no entanto, continuam descartando mudanças de curto prazo na política. Raphael Bostic, presidente do Fed de Atlanta, escreveu na semana passada:
“Existe um grande nível de incerteza no momento, o que dificulta previsões econômicas com convicção. Diante disso, sigo acreditando que a melhor abordagem para a política monetária é a paciência. Como a economia segue amplamente saudável, temos espaço para observar como esse cenário incerto afeta o emprego e os preços.”
Outros dirigentes da instituição têm adotado postura semelhante, embora o mercado de Treasuries persista na precificação de cortes. O dilema que impede o Fed de agir segue inalterado: tarifas comerciais vão acelerar a inflação ou o risco maior é de que desacelerem a atividade?
Cada uma dessas hipóteses exige resposta distinta — alta de juros ou redução das taxas. Existe ainda um terceiro cenário possível: uma combinação de crescimento fraco com inflação elevada, ou seja, certa dose de estagflação. Neste caso, a manutenção da política atual pode ser a abordagem mais prudente, e é nesse ponto de equilíbrio que o Fed parece confortável por ora.
Os membros mais dovish do mercado destacam que os dados de inflação ainda não mostram pressão altista relevante a partir das tarifas. A pesquisa divulgada ontem pelo Fed de Nova York sobre as expectativas dos consumidores em maio revela queda expressiva nas projeções para os próximos 12 meses. O problema é que, mesmo com esse recuo, o número ainda está em 3,2% — acima da meta de 2% do Fed.
Os dados objetivos de inflação ao consumidor são um pouco mais favoráveis, mas o núcleo do IPC — medida amplamente usada para identificar tendências futuras — continua avançando a um ritmo anual de 2,8%. Enquanto esse índice não convergir para a meta, o banco central deverá permanecer cauteloso.
A inflação implícita projetada pelo mercado de Treasuries também vem subindo gradualmente, situando-se na faixa inferior dos 2%, conforme indica a diferença entre os rendimentos nominais e indexados à inflação. Os títulos de 5 anos estão apontando para uma inflação de 2,38%, um patamar intermediário em relação aos últimos dois meses.
A estratégia de aguardar e observar pode gerar frustração para o presidente Trump, que segue pressionando por cortes de juros. Mas o Fed parece determinado a esperar por sinais mais claros. É, de fato, prematuro tomar decisões definitivas sobre o impacto das tarifas, até porque a política comercial segue em constante evolução — como mostram as negociações entre Estados Unidos e China em curso, por exemplo, em Londres.
Enquanto isso, há indícios de que o crescimento econômico está perdendo fôlego. O índice semanal de atividade econômica do Fed de Dallas voltou a cair até 31 de maio, sugerindo que as condições macroeconômicas mais brandas já estão deixando marcas.
Outro fator em debate é o megaprojeto de gastos que avança no Senado. Caso aprovado, há analistas alertando para a possibilidade de ele elevar as expectativas inflacionárias. Os defensores da austeridade fiscal tentam reduzir o volume de despesas, mas o presidente Trump e seus aliados não veem necessidade de alterações no texto.
“Recomendei aos senadores que fizessem o menor número possível de mudanças, lembrando que temos um equilíbrio muito delicado na nossa bancada republicana, que é bastante diversa,” disse o presidente da Câmara, Mike Johnson, em entrevista concedida em 25 de maio.
“O melhor cenário para o mercado de títulos é o impasse,” afirmou Brij Khurana, gestor de renda fixa da Wellington Management. O entrave entre os defensores da disciplina fiscal e os senadores favoráveis à aprovação do projeto pode levar a concessões para reduzir os gastos — algo que, em tese, seria bem recebido pelo mercado de Treasuries.
Ou seja, continuar observando ainda parece uma estratégia viável, embora não isenta de riscos.
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