Postura do Fed ainda é de espera, mas até quando?

Publicado 10.06.2025, 11:03

Muito já se escreveu sobre as perspectivas econômicas e inflacionárias desde que o presidente Trump surpreendeu os mercados em abril com uma mudança drástica na política comercial dos Estados Unidos. Embora as tarifas tenham aumentado e o cenário tenha se tornado mais imprevisível, a política monetária do Federal Reserve permaneceu como um pilar de estabilidade — congelada, mas constante. Não se trata necessariamente de um ponto positivo, mas, por ora, é uma das poucas variáveis previsíveis no atual quadro macroeconômico.

Os contratos futuros de fed funds continuam indicando alta probabilidade de manutenção da taxa básica na próxima reunião do Fed. O mesmo é esperado para o encontro do FOMC em julho. O mercado prevê um corte em setembro, embora, no contexto atual, três meses pareçam equivaler a três anos — ou seja, o alerta ao investidor permanece aceso.

Enquanto isso, o mercado de Treasuries, especialmente o título de 2 anos, sensível à política monetária, continua precificando cortes nos juros em algum momento do futuro próximo.

Ontem (9 de junho), a taxa de 2 anos fechou em 4,01% — próxima do pico observado em março, mas ainda abaixo da taxa efetiva média de 4,33% dos fed funds. Isso revela uma expectativa majoritária de afrouxamento monetário num horizonte não muito distante.Juros de 2 anos nos EUA vs taxa efetiva

Autoridades do Fed, no entanto, continuam descartando mudanças de curto prazo na política. Raphael Bostic, presidente do Fed de Atlanta, escreveu na semana passada:

“Existe um grande nível de incerteza no momento, o que dificulta previsões econômicas com convicção. Diante disso, sigo acreditando que a melhor abordagem para a política monetária é a paciência. Como a economia segue amplamente saudável, temos espaço para observar como esse cenário incerto afeta o emprego e os preços.”

Outros dirigentes da instituição têm adotado postura semelhante, embora o mercado de Treasuries persista na precificação de cortes. O dilema que impede o Fed de agir segue inalterado: tarifas comerciais vão acelerar a inflação ou o risco maior é de que desacelerem a atividade?

Cada uma dessas hipóteses exige resposta distinta — alta de juros ou redução das taxas. Existe ainda um terceiro cenário possível: uma combinação de crescimento fraco com inflação elevada, ou seja, certa dose de estagflação. Neste caso, a manutenção da política atual pode ser a abordagem mais prudente, e é nesse ponto de equilíbrio que o Fed parece confortável por ora.

Os membros mais dovish do mercado destacam que os dados de inflação ainda não mostram pressão altista relevante a partir das tarifas. A pesquisa divulgada ontem pelo Fed de Nova York sobre as expectativas dos consumidores em maio revela queda expressiva nas projeções para os próximos 12 meses. O problema é que, mesmo com esse recuo, o número ainda está em 3,2% — acima da meta de 2% do Fed.

Os dados objetivos de inflação ao consumidor são um pouco mais favoráveis, mas o núcleo do IPC — medida amplamente usada para identificar tendências futuras — continua avançando a um ritmo anual de 2,8%. Enquanto esse índice não convergir para a meta, o banco central deverá permanecer cauteloso.

A inflação implícita projetada pelo mercado de Treasuries também vem subindo gradualmente, situando-se na faixa inferior dos 2%, conforme indica a diferença entre os rendimentos nominais e indexados à inflação. Os títulos de 5 anos estão apontando para uma inflação de 2,38%, um patamar intermediário em relação aos últimos dois meses.Previsões de inflação de 5 e 10 anos

A estratégia de aguardar e observar pode gerar frustração para o presidente Trump, que segue pressionando por cortes de juros. Mas o Fed parece determinado a esperar por sinais mais claros. É, de fato, prematuro tomar decisões definitivas sobre o impacto das tarifas, até porque a política comercial segue em constante evolução — como mostram as negociações entre Estados Unidos e China em curso, por exemplo, em Londres.

Enquanto isso, há indícios de que o crescimento econômico está perdendo fôlego. O índice semanal de atividade econômica do Fed de Dallas voltou a cair até 31 de maio, sugerindo que as condições macroeconômicas mais brandas já estão deixando marcas.Índice WEI - semanal

Outro fator em debate é o megaprojeto de gastos que avança no Senado. Caso aprovado, há analistas alertando para a possibilidade de ele elevar as expectativas inflacionárias. Os defensores da austeridade fiscal tentam reduzir o volume de despesas, mas o presidente Trump e seus aliados não veem necessidade de alterações no texto.

“Recomendei aos senadores que fizessem o menor número possível de mudanças, lembrando que temos um equilíbrio muito delicado na nossa bancada republicana, que é bastante diversa,” disse o presidente da Câmara, Mike Johnson, em entrevista concedida em 25 de maio.

“O melhor cenário para o mercado de títulos é o impasse,” afirmou Brij Khurana, gestor de renda fixa da Wellington Management. O entrave entre os defensores da disciplina fiscal e os senadores favoráveis à aprovação do projeto pode levar a concessões para reduzir os gastos — algo que, em tese, seria bem recebido pelo mercado de Treasuries.

Ou seja, continuar observando ainda parece uma estratégia viável, embora não isenta de riscos.

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