O real tende a acentuar o seu viés de apreciação frente ao dólar americano no nosso mercado, como tendência sustentável nas próximas semanas.
Na reunião de hoje, o FED decidiu manter entre 0% e 0,25% ao ano os juros básicos nos Estados Unidos, assim como o programa de compras de US$ 120 bilhões em títulos públicos por mês. O que mais animou o mercado internacional, no entanto, foi a indicação de que a autoridade monetária norte-americana não pretende retirar, antes do previsto, os estímulos concedidos por causa da pandemia de covid-19, entendendo que ainda é cedo para implementar mudanças.
Além disto, o Senado americano decidiu avançar com pacote de infraestrutura de US$ 1,2 Tri que turbinar, ainda mais, a economia americana.
Este contexto torna evidente que para o governo americano não é conveniente o dólar forte, acentuando assim perspectiva de que esta estratégia se acentuará dando competitividade ao setor produtivo americano no mercado exterior e contendo, pelo encarecimento, os volumes de importações concorrentes da sua indústria nacional.
Por outro lado, no Brasil há forte convicção de que o COPOM promoverá uma alta mínima de 1% na taxa SELIC na reunião da próxima semana.
A combinação dos cenários americano e brasileiro criam seguras perspectivas de que o real retomará a tendência de apreciação, ainda que perdurem as preocupações em torno da pandemia do coronavírus e fatores como a crise hídrica que encarece e pode até inibir a atividade econômica, e, além disto, a certeza de que a tão propalada Reforma Tributária poderá se tornar em algo bem menor do que as expectativas prevalecentes.
O ambiente se tornará muito atraente para fluxo de capitais especulativos para o Brasil ancorados em operações de “carry trade”, o que tem sido esperado, mas ainda não se consolidou.
O CDS Brasil para 5 anos está em torno de 175 pontos, o que não é preocupante, ainda que consideremos alto face à capacidade de pagamento do país em moeda estrangeira.
O fluxo cambial financeiro do mês de julho, até o dia 23, está negativo em US$ 2,958 Bi e no ano em US$ 956,0 Mi, mas as possibilidades de mudança deste cenário são concretas.
O dólar alto beneficiou diretamente o setor de commodities brasileiro, contudo contaminou com o rebote nos preços locais toda a cadeia de preços relativos da nossa economia, repercutindo com forte impacto inflacionário, mais sentido pela população no segmento de bens alimentares, em que ocorreram elevações de preços fortíssimos, que na realidade são redutores de renda da população, agora também agravada pela crise hídrica.
Esta é uma expectativa com fundamentos bastante sustentáveis, e, se o contexto político não criar ruídos perturbadores, é possível que o preço da moeda americana retorne ao patamar de R$ 5,00 no nosso mercado.