Bitcoin rompe US$ 120 mil com shutdown nos EUA, mas investidores mantêm cautela
O cenário atual da economia dos EUA reflete riscos históricos que merecem atenção. Apesar da inflação ter recuado de picos de 7,2% em 2022 para 2,7% em agosto de 2025, ainda está acima da meta de 2% do (PCE - Personal Consumption Expenditures) do Federal Reserve, criando um dilema. Pressões políticas intensas, especialmente do presidente Donald Trump, exigem cortes mais agressivos nas taxas de juros, empurrando o Fed para uma postura dovish que contrasta com a cautela necessária diante das incertezas econômicas atuais.
O período conhecido como a "Grande Inflação" dos anos 1970-1980 oferece um paralelo histórico com o momento recente dos EUA. Naquela época, a inflação escalou para dois dígitos, atingindo picos de 14% em 1980 devido a choques de petróleo, como os embargos da OPEP, e excessos fiscais decorrentes da Guerra do Vietnã, enquanto o presidente do Federal Reserve, Arthur Burns, hesitou em elevar as taxas sob intensa pressão política do presidente Nixon, permitindo que os preços se consolidassem a uma média de 7% ao ano durante sua gestão (1970-1978). Essa resiliência de Burns resultou em políticas de "para e avança", com aumentos modestos nas taxas rapidamente revertidos para priorizar o emprego, enraizando expectativas inflacionárias que agravaram a crise.
Em contraste, Paul Volcker assumiu o comando em 1979 com determinação, elevando as taxas de juros a 20% e enfrentando recessões profundas que elevaram o desemprego acima de 10,8% em 1982, mas conseguiu debelar a inflação, reduzindo-a para menos de 4% até 1983, restaurando a estabilidade e a credibilidade do Fed após uma volatilidade impulsionada por choques externos e pela relutância inicial de Burns.
Atualmente, a inflação pós-pandemia, alimentada por interrupções na cadeia de suprimentos e estímulos, levou o Fed a elevar as taxas para 5,25-5,50% antes de iniciar cortes em setembro de 2024 e 2025, reduzindo para os atuais 4,00%-4,25%. Projeções indicam inflação PCE em 3% para 2025, com crescimento do PIB revisado para 1,6% e desemprego estável em 4,4%. Esse "pouso suave" contrasta com a abordagem dura de Volcker, graças a ferramentas modernas como orientação prospectiva, mas a inflação central persistente acima da meta e sinaliza riscos se o afrouxamento acelerar prematuramente.
A interferência política continua sendo uma ameaça constante. A pressão de Nixon em ano eleitoral espelha as críticas de Trump em 2025 a Powell, rotulado de "obstrucionista", exigindo cortes mais profundos em meio a tarifas e planos de redução de impostos que poderiam reacender os preços. A postura baseada em dados de Powell evoca a firmeza de Volcker, mas a dissidência interna – como o pedido de alguns governadores do Fed por novos cortes nas próximas reuniões – destaca fraturas que podem minar a credibilidade.
Erros potenciais do Fed se destacam, baseados na história. Reduzir as taxas de forma agressiva ou prematura, semelhante às ações de Burns, pode reacender a inflação se políticas fiscais aquecerem a economia. Subestimar choques de tarifas ou geopolíticos poderia desencadear espirais ao estilo dos anos 1970, enquanto reagir excessivamente a dados fracos de emprego pode provocar uma recessão desnecessária. Uma comunicação deficiente em meio a divisões pode amplificar a volatilidade do mercado, como visto nas revisões para cima das projeções de inflação de 2026 para 2,6%.
Por fim, a Grande Inflação destaca como a abordagem resiliente, porém hesitante, de Arthur Burns resultou em dores econômicas de longo prazo, enquanto a firmeza implacável de Paul Volcker estabeleceu as bases para décadas de estabilidade monetária. Se Jerome Powell mantiver o foco na meta de 2% com determinação diante das pressões políticas, 2025 poderá representar um marco na recuperação da credibilidade institucional do Fed, alcançando um equilíbrio sustentável sem recorrer aos extremos do passado. Investidores devem ficar atentos às próximas reuniões do FOMC, buscando sinais de cautela que possam orientar as expectativas do mercado ou não.