Todo investidor tem algumas crenças estruturantes. Afinal, investir é confiar. Uma dessas expectativas é que os números, balanços e dados apresentados pela empresa investida sejam regulares. E que exista uma estrutura de controle, supervisão e sanção que garanta a fidedignidade destes dados.
Neste contexto, atuam as Auditorias. Elas deveriam exercer controle, externo e independente, sobre dados comunicados ao mercado. Afinal, essas auditorias são realizadas por empresas especializadas, que deveriam assegurar a veracidade dos números apresentados. Não se trata de serem investigadores de fraudes, mas de, ao menos pontuarem fragilidades e inconsistências alertando ao investidor.
No entanto, os recentes acontecimentos envolvendo gigantes da auditoria, como a KPMG, PwC e EY, abalaram essa confiança.
Recentemente, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) condenou a KPMG a pagar uma indenização milionária a um investidor. A decisão ocorreu porque a KPMG aprovou, sem ressalvas, os balanços de um banco que posteriormente enfrentou sérios problemas financeiros. Essa aprovação induziu investidores a acreditarem na solidez da instituição, resultando em prejuízos significativos quando a realidade veio à tona.
A Superintendência de Seguros Privados (Susep) também aplicou multas à PwC e aos seus auditores por falhas na auditoria das demonstrações contábeis do IRB Brasil Resseguros S/A. Essas falhas contribuíram para que investidores confiassem em informações financeiras que não refletiam a real situação da empresa, resultando em prejuízos bilionários.
A EY também foi penalizada no mesmo caso. A Susep impôs sanções à Ernst & Young Serviços Atuariais S/S (EY) e a três de seus profissionais devido a infrações cometidas na auditoria atuarial independente das demonstrações financeiras do IRB (BVMF:IRBR3) em 2019. As análises apontaram que a auditoria não observou elementos críticos na avaliação das provisões técnicas, resultando em multas superiores a R$ 1 milhão e na inabilitação de um dos auditores por mais de quatro anos.
O Instituto Empresa, que há anos monitora e denuncia irregularidades no mercado, já havia apontado a necessidade de os investidores estejam mais atentos ao papel das auditorias. O Instituto questiona a relação de dependência entre auditor e auditado. Como pode uma auditoria ser imparcial se seu cliente é a própria empresa que deve fiscalizar? Para além disso, as Auditorias não podem se esconder sob laudos cheios de cláusulas de exclusão de responsabilidade. Ainda que não devam procurar fraudes, devem, ao contrário, se deixar encontrar por elas e não hesitar em ressalvar balanços.
Uma sugestão urgente seria dar mais autonomia aos Conselhos Fiscais das Companhias. Eles são órgãos independentes, que não se submetem aos controladores. As Auditorias externas deveriam ser contratadas por eles e não pela própria Companhia.
Esses episódios nos fazem questionar: se não podemos confiar plenamente nas auditorias realizadas por empresas renomadas, como podemos, enquanto investidores, nos proteger? O mínimo que se espera é que balanços auditados sejam conferidos com rigor, sem conivência com empresas problemáticas.
É essencial que auditorias cumpram seu papel com transparência e independência. Afinal, quando esse pilar falha, o maior prejudicado não é a empresa auditada – é o investidor que confiou nesses números e colocou seu dinheiro em risco.