Não sei tanto em relação à utopia dos trópicos quanto o Giannetti. Mas, como todo vira-lata carente de um elogio singelo, arrisco-me.
O Brasil é o país em que até o passado é incerto – pois não se sabe se foi mesmo o Malan quem disse isso, no passado.
O Brasil é o país em que a causalidade costuma perder para a casualidade. Taleb é especialmente útil por aqui.
Ok, somos incertos e casuais. Isso pode ser ruim, pode ser bom.
Enfim, o Brasil se distingue dos demais, em virtude, por ser o país da dialética.
Sejam bem-vindos.
A dialética é um modo de raciocinar que se baseia na contradição de ideias.
Parece meio loucura (contraditório?), pois o raciocínio, a priori, carrega consigo a insígnia da não contradição.
Raciocinamos justamente para alcançar conclusões unívocas, limpas, inquestionáveis.
Mas, às vezes, a melhor forma de chegar até a pureza é sujando as mãos e os pés.
Na dialética, partimos de uma tese, cutucamos essa tese com uma antítese e, por fim, atingimos a síntese.
Há quem diga que a própria história evolui enquanto dialética, como um pêndulo para a esquerda e para a direita, equidade e eficiência, moderação e volatilidade…
Se a história de fato evolui (eu acho que sim), não ficamos aprisionados para sempre nesse pêndulo. O resultado da síntese é novo, não está contido na tese, tampouco na antítese.
Por que falo tudo isso? Talvez você já tenha adivinhado.
Abra qualquer jornal, entre em qualquer site, ligue qualquer TV. A tendência, alega-se, é a de um certame radicalizado. Antipetismo versus lulismo. Bolsonaro versus Haddad, pau a pau, inch by inch no segundo turno.
Em todo embate milimétrico, aquele que é eleito carregará, de alguma forma, o vice-campeão (que é bem mais importante do que o vice-presidente), para sempre.
Depois do Rumble in the Jungle, era impossível para Muhammad Ali se dissociar de George Foreman. Foreman passou a ser parte de Ali.
Operações estruturadas no mercado financeiro ensinam: a combinação de dois ativos opostos por vezes resulta em outro ativo diverso dos dois originais.
Quando o nosso Flash Trader se diz comprado numa alta da Bolsa e também carregando umas puts, ele está louco? Louco como Sócrates?
Se for o caso, vamos obrigá-lo a beber cicuta, por ser ateu e corromper os jovens investidores gregos.
Quando o mercado precifica a radicalização, invista na dialética.
Há ocasiões – raras, é verdade – em que os extremos podem estar no meio.