Tudo bem, leitor?
Em apenas cinco meses de vigência, a chamada Taxa das Blusinhas já rendeu R$ 1,14 bilhão aos cofres públicos em 2024. A cobrança, que incide sobre compras internacionais de até US$ 50 em plataformas como Shein, Shopee, AliExpress e Temu, levanta um debate que vai muito além da arrecadação em si: quem realmente paga essa conta e qual o impacto disso na economia e na sociedade brasileira?
A primeira constatação é direta: essa tributação afeta de forma desproporcional a população de menor renda. São justamente essas pessoas que recorrem a sites internacionais para economizar em itens do dia a dia, desde roupas e acessórios até insumos para pequenos negócios. Ao encarecer essas compras, o governo reduz o poder de compra de quem menos pode arcar com esses aumentos. Na prática, a inflação sobe — e de forma seletiva, atingindo com mais força quem já vive no limite financeiro.
Além disso, é importante entender o papel dessas compras na chamada economia de sobrevivência. Pequenos empreendedores que utilizam insumos importados para produzir e vender localmente enfrentam agora uma pressão de custos ainda maior, o que compromete diretamente sua competitividade e sua capacidade de geração de renda. Ou seja, a mesma taxação que deveria proteger a indústria nacional acaba sufocando quem mais precisa de fôlego para crescer.
Os números da arrecadação impressionam, mas perdem força quando comparados ao contexto maior: em 2024, o governo brasileiro arrecadou quase R$ 3 trilhões em impostos. Diante desse valor, os R$ 1,14 bilhão da Taxa das Blusinhas são insignificantes do ponto de vista fiscal, mas profundamente relevantes na vida real de milhões de brasileiros.
Outro ponto pouco debatido é o reflexo dessa política nos indicadores sociais. Ao impedir que famílias economizem, sobra menos dinheiro para investir em educação, saúde e pequenos confortos que melhoram a qualidade de vida. O ciclo se completa quando essa mesma população acaba mais dependente de programas sociais como o Bolsa Família, inflando as estatísticas de assistência pública e mascarando a verdadeira situação do mercado de trabalho.
Não à toa, em diversos estados brasileiros, o número de beneficiários do Bolsa Família já supera o número de trabalhadores com carteira assinada. Esse dado, longe de ser um mérito de política pública, é um sintoma alarmante da fragilidade econômica e da falta de oportunidades formais de emprego. Quando comprar barato se torna impossível, empreender fica inviável e trabalhar de forma legalizada deixa de compensar, o resultado é um país que aprofunda sua informalidade e trava sua própria mobilidade social.
No fim das contas, a Taxa das Blusinhas é muito mais do que uma questão tributária. Ela é o retrato de uma política econômica que escolhe taxar o consumo dos mais pobres, enquanto as grandes distorções estruturais — como o desperdício de dinheiro público e a baixa eficiência na gestão de recursos — seguem praticamente intocadas.
É urgente refletir sobre qual Brasil queremos construir: um país que facilita a vida de quem empreende e busca crescer ou uma nação que tributa o sonho de quem só queria uma blusinha mais barata?
Obrigado!