A maior empresa de hospedagem do mundo não é dona de resorts, hotéis, nem mesmo uma única pousada. Hoje vamos analisar como o Airbnb (NASDAQ:ABNB) (SA:AIRB34) se tornou um dos maiores colossos do setor de turismo e hotelaria do planeta.
Nome: Airbnb, Inc
Ticker: ABNB
Fundada em: 2008, por Brian Chesky, Joe Gebbia e Nathan Blecharczyk
Preço: US$173,07
Valor de mercado: US$109,67 bilhões
Se você se deixar levar somente pelo que as pessoas postam em suas redes sociais, muito provavelmente pensaria que viajar é algo restrito à elite das elites: passagens de primeira classe e hospedagem em resorts paradisíacos parecem ser rotineiros para influenciadores digitais. Para reles mortais, porém, a realidade muitas vezes é bem menos glamourosa: bilhetes de classes econômicas e muitas vezes o sofá de um conhecido serve tão bem quanto uma suíte de um hotel cinco estrelas.
Pensando nisso, em 2007, Brian Chesky, Joe Gebbia e Nathan Blecharczyk, que dividiam apartamento em San Francisco, decidiram colocar um colchão inflável na sua sala de estar e cobrar pela estadia. Nascia aí a ideia do Airbnb: pessoas com espaço livre em casa poderiam receber hóspedes do mundo todo em troca do valor de uma diária mais barata do que a praticada por hotéis.
A ideia só sairia do papel em agosto de 2008, às vésperas do estouro da grande crise financeira que teria origem no setor imobiliário americano e se propagara para toda a economia mundial. Se o momento traria desafios, já que gastos com turismo e lazer diminuiriam, por outro lado milhares de americanos poderiam usar o Airbnb como forma de complementar sua renda hospedando desconhecidos em suas casas.
14 anos depois, o Airbnb é hoje responsável por mais de 6% de todo o mercado de hotelaria e hospedagem dos Estados Unidos e Europa. Presente em mais de 110 mil cidades de 220 países, hoje a companhia tem mais quartos disponíveis para reservas do que todas as unidades das redes Marriott (NASDAQ:MAR) (SA:M1TT34), HomeAway e Hilton (NYSE:HLT) (SA:H1LT34) somados.
Convencendo anfitriões
Ao analisar o modelo de negócios do Airbnb, é muito comum pensar nos desafios que a empresa enfrentou para convencer seus clientes a trocarem o conforto e segurança de um hotel para se hospedarem na casa de desconhecidos.
Naturalmente, essa é uma grande barreira a ser vencida, que é mitigada graças a um sistema de avaliação mútua entre anfitriões e visitantes. Porém, convencer os anfitriões a aceitarem estranhos dentro dos seus próprios lares pode ser mais complexo.
Para facilitar esse processo, o Airbnb oferece seguros de até US$1 milhão por imóvel, cobrindo desde danos que possam ter sido causados por pets de hóspedes, até a perda de receita caso os danos causados à propriedade impossibilitem que o imóvel possa ser ocupado por outros hóspedes no futuro próximo. Além disso, a empresa permite que anfitriões registrem queixas contra seus hóspedes até 14 dias depois do fim da hospedagem, caso algum dano causado por um visitante passe despercebido nas primeiras vistorias.
A companhia ainda tem dificuldade para convencer outros anfitriões: as cidades em que ela opera. Alguns críticos apontam que a sublocação de quartos e o aluguel de imóveis por curto prazo como são promovidos pela empresa estimulam a especulação imobiliária e acabam tornando os preços de imóveis inacessíveis para moradores locais. Por isso, algumas cidades como Paris chegam a limitar o número de dias pelos quais um proprietário pode realizar aluguéis de curto prazo de seu imóvel. O Airbnb vem tentando trabalhar em colaboração com reguladores locais, mas este não seria o maior desafio enfrentado pela companhia.
O grande desafio
O Airbnb foi fundado às vésperas de uma das maiores crises financeiras da história, porém seu maior desafio ainda estaria por vir: a pandemia da COVID-19. Até o ano de 2020, a receita da companhia vinha crescendo religiosamente trimestre a trimestre. Porém com a chegada da pandemia, lockdowns e fechamento de fronteiras, o número de reservas chegou a cair até 96% em algumas cidades e a receita desabou, caindo de US$842 milhões no primeiro trimestre de 2020 para US$335 milhões no trimestre seguinte.
Para compensar a perda de receita dos anfitriões, a companhia desembolsou US$250 milhões em março de 2020. Posteriormente a empresa passaria por uma nova rodada de levantamento de capital, mas ainda assim se viu forçada a demitir 1.900 funcionários, cortando 25% da sua força de trabalho. Em dezembro de 2020 o Airbnb se tornaria uma empresa pública realizando seu IPO na Nasdaq e levantando mais US$3,5 bilhões.
Virando a página
Dois anos depois, o pior parece já ter passado para o Airbnb. A companhia ainda não dá lucro, registrando prejuízo de US$352 milhões no ano de 2021, o que é o melhor resultado na história da empresa e um grande salto se considerarmos o prejuízo recorde de US$4,6 bilhões em 2020. Em relação ao ano de 2019, a receita gerada pela companhia em 2021 teve um crescimento de 25%.
As margens da empresa também estão melhorando: em 2019, a margem EBITDA era negativa, de -5%. Em 2021, a margem EBITDA foi de +27%. Há uma série de fatores que explicam essa melhora. Em primeiro lugar, o preço médio das diárias subiu +20% em relação a 2020, totalizando uma alta de +36% em relação a 2019. Além disso, as melhorias nas condições sanitárias referentes à COVID-19 fizeram com que os custos com estornos diminuíssem, já que menos visitantes cancelaram suas estadias.
Outro fator que contribuiu para a melhoria das margens é o crescimento de vendas de “experiências” na plataforma: além de reservar sua hospedagem, através do Airbnb, clientes podem adquirir passeios com guias turísticos e outras atividades na cidade em que estão. As margens de venda de experiências são muito maiores do que as de reserva de hospedagem.
Mudança de hábitos
Um driver importante para o crescimento da companhia deve ser a mudança de hábitos da população mundial pós-pandemia. Com milhares de empresas ao redor do mundo adotando regimes de trabalho híbrido ou remoto, cada vez mais pessoas estão adotando um estilo de vida conhecido como “nomadismo digital”, sem contar com uma residência fixa. Isso contribui para mais reservas em áreas rurais ou em regiões turísticas, porém fora da alta temporada.
Com isso, mais de 50% de todas as reservas realizadas pela empresa no ano de 2021 tinham a duração de ao menos uma semana. 20% das reservas eram de um mês ou mais. Na verdade, até o CEO Brian Chesky decidiu que a partir de 2022 irá viver apenas em apartamentos do Airbnb, eventualmente ficando em cidades diferentes.
Para o primeiro trimestre de 2022, a companhia espera uma receita entre US$1,41 e US$1,48 bilhões, com ganhos tanto no preço médio das diárias quanto no volume de reservas. No entanto, para que a empresa possa enfim alcançar a tão sonhada lucratividade, é necessário que não haja um recrudescimento da pandemia da COVID-19 ou uma grande recessão mundial, atualmente temida por muitos analistas ao redor do mundo.
Qualquer um desses cenários faria com que a estadia do Airbnb na bolsa de valores não fosse nem um pouco agradável e que a performance de suas ações ficasse bem distante de uma experiência cinco estrelas.