Artigo publicado originalmente em inglês no dia 28/2/2019
Quando o presidente dos EUA, Donald Trump, tuitou na segunda-feira que o petróleo estava ficando caro demais, seus preços caíram mais de 3% até o meio-dia. Trata-se de uma pequena correção em um começo de ano extremamente forte para os preços do petróleo que, segundo o jornal The Wall Street Journal, estão tendo “o melhor início de ano de todos os tempos”.
A Arábia Saudita respondeu aos tuítes de Trump com a declaração: “estamos indo com calma”, e o ministro do petróleo do país, Khalid Al Falih, explicou que os 25 países participantes dos cortes de produção promovidos pela Opep e países não membros “estão adotando uma abordagem bastante lenta e comedida".
De fato, a produção da Opep caiu levemente, mas não porque os produtores estivessem adotando uma “abordagem comedida”. O que está acontecendo é que a produção de alguns países teve uma redução maior do que a esperada, enquanto a de outros aumentou significativamente. Os números agregados dão a aparência de um movimento “lento e comedido”, mas a comparação entre os países mostra um desequilíbrio na produção.
Em janeiro, a Opep cortou coletivamente 797.000 barris por dia (bpd), ficando inclusive abaixo da sua meta de 812.000 bpd. A maior parte desses cortes foi feita por um único país, a Arábia Saudita, que reduziu sua própria produção em 350.000 bpd. A maior parte dos produtores da Opep excedeu levemente sua cota, com o Iraque produzindo 157.000 bpd a mais, e a Nigéria, 107.000 bpd. A produção da Venezuela, Irã e Líbia também caiu, mas esses países estão isentos das cotas.
Também há um desequilíbrio na produção dos países não membros da Opep que estão participando dos cortes. A Rússia, que é de longe o maior e mais importante participante do acordo fora do cartel, realizou cortes que não chegam nem perto daquilo com que havia se comprometido. Sua produção cresceu em janeiro, apesar de o ministro do petróleo da Rússia, Alexander Novak, afirmar que o país havia feito um corte de 47.000 bpd em fevereiro, número que, mesmo assim, ficou abaixo do acordado em dezembro de 2018.
Enquanto isso, o Cazaquistão, outro grande produtor participante do acordo com países não membros da Opep, está ignorando completamente qualquer compromisso com os cortes. O país confirmou que sua produção petrolífera atingiu níveis recordes em 2018. Seu principal campo petrolífero, Kashagan, produziu 380.000 bpd em janeiro de 2019, e o país planeja manter a produção nesse nível pelo menos durante o primeiro semestre de 2019.
A Arábia Saudita declarou que pretende cortar novamente sua produção em março para 9,8 milhões de bpd e reduzir mais uma vez suas exportações para os Estados Unidos. Esse anúncio provocou a disparada dos preços do petróleo no início de fevereiro, levando alguns bancos, como o Merrill Lynch, a prever que o valor do barril de Brent seria em média de US$ 70 em 2019.
O acordo de corte de produção entre a Opep e países não membros do cartel foi concebido de tal forma que cada integrante cortaria uma porcentagem relativamente pequena da sua produção, mas a redução, em seu conjunto, seria significativa no mercado de petróleo. Em vez disso, o que temos agora é que alguns países estão se mantendo abaixo ou acima da sua porcentagem prescrita. Se 100.000 bpd fossem repentinamente tirados ou colocados no mercado por um país, os preços do petróleo poderiam despencar ou disparar, conforme o caso.
Por exemplo, se a Arábia Saudita aumentasse sua produção (considerando sua maior capacidade ociosa atualmente), o mercado sofreria uma queda. Se houvesse uma catástrofe em um país (p. ex. uma sabotagem dos Vingadores do Delta do Níger a um oleoduto), poucos países conseguiriam compensar essa perda, pois já estão excedendo sua produção. A atual situação deixa a Arábia Saudita praticamente sozinha na condição de elevar a produção. Há um desequilíbrio evidente no acordo entre a Opep e os países não membros.
O tuíte do presidente Trump provavelmente foi apenas uma reação à elevação dos preços da gasolina nos Estados Unidos, provocada principalmente por causa das novas sanções aplicadas pelo país ao petróleo venezuelano e da temporada de manutenção programada das refinarias. Os preços da gasolina geralmente sobem com a parada das refinarias para manutenção e troca de infraestrutura para começar a produzir a mistura de gasolina para o verão, que é um tipo mais caro do combustível. No entanto, o tuíte do presidente Trump e a resposta de Al Falih demonstram que o atual acordo entre a Opep e países não membros não está conseguindo estabilizar o mercado.