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Sanções Contra Rússia: Como Congelamentos de Reservas Pode Mudar o Futuro do Mundo

Publicado 17.03.2022, 10:15
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Segundo o último dado do Fundo Monetário Internacional (FMI), o total das reservas mundiais em moeda estrangeira é de quase 13 trilhões de dólares, sendo que 70% desse total alocado é, sem surpresas, na grande moeda de reserva do mundo: o dólar americano.

Esse não é um fato novo, pois os países em desenvolvimento vêm acumulando reservas de forma acelerada desde o boom das commodities do começo do século XXI, aproveitando para quitar suas antigas dívidas em moeda estrangeira e criando um colchão, um seguro, um ativo valioso para momento de dificuldade.

Para países como o Brasil, que pagava na sua dívida interna uma taxa de juros muito maior que os baixos juros pagos pelos títulos do tesouro norte-americano, isso chegou a causar um impacto pesado nas contas públicas. Mas no final, infelizmente, tudo se pagou porque nos vimos envolvidos em diversas crises nas quais o dólar se fortaleceu e possibilitando que nossas reservas ganhassem valor e nos tornassem menos instáveis.

Essas reservas são acumuladas aceitando uma moeda como forma de pagamento por bens, serviços ou ativos financeiros e elas ficam em uma conta em separado fora do país. No caso do Brasil, ficam no Bank of New York dado que, por não termos uma moeda conversível, não se pode ter uma conta dentro das nossas fronteiras em moeda estrangeira.

Não é o ideal ter algo tão valioso depositado no cofre de outrem, mas sempre soubemos que o acesso a esse capital estaria garantido e que, eventualmente, essa reserva de valor poderia ser convertida de volta em bens e serviços que poderíamos precisar no futuro.

E assim a realidade desse sistema era percebido por todos seus participantes.

No entanto, uma notícia que não chamou muito a atenção no meio da enxurrada de manchetes sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia pode ter mudado esse modelo para sempre: os Estados Unidos congelaram parte das reservas russas.

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Diferentemente do Brasil, eles possuem cerca de 650 bilhões de dólares em reservas distribuídas que vão desde reservas estratégicas de energias, até fundos de investimentos pseudoprivados. A cifra tradicional em dólar está mais perto dos 360 bilhões e, de várias maneiras e com diferentes graus de efetividade, cerca de 130 bilhões foram sancionados e congelados.

Poderíamos entrar em outra discussão pertinente que terá efeitos duradouros, como os usos de organismos multilaterais sendo utilizados para promoverem sanções que, com certeza, ainda terão um grande impacto no comércio exterior. Mas, por ora, vamos focar apenas no congelamento das reservas.

Tudo isso está sendo observado por outros países, que podem ter percebido que seus bilhões recebidos em troca de trabalho e exportações podem passar a não valerem mais nada se comprarem uma briga com a pessoa ou grupo errado. Essa possibilidade, se confirmada, poderia de uma hora para a outra quebrar um país.

Apenas em um exercício mental, se o Brasil perdesse acesso às suas reservas, pelo fato de o Banco Central ter uma posição vendida de 100 bilhões de dólares via swap reverso na B3 (SA:B3SA3), o Governo Federal passaria a ser, da noite para o dia, perdedor numa alta da moeda, ao invés de beneficiário.

Para a China então, quem tem 3,2 trilhões de dólares em reservas, essa questão tem um peso ainda maior. E para complicar, no caso deles, a secretária de comércio americano chegou a aventar a possibilidade de fazer algum tipo de sanção econômica caso empresas chinesas continuassem fazendo negócios com a Rússia. A medida não foi à frente, mas o recado foi claro e não precisa de muita coisa ou muito tempo para que as relações entre dois parceiros comerciais se deteriorem.

Nesse sentido, o racional a se fazer no lugar dos países com grandes reservas é começar a alocar parte delas em bens que possam ser acessados de forma direta dentro de suas fronteiras e que serão usados no futuro. Continuando no exemplo da China, transformar parte de suas reservas em um grande armazenamento de commodities entregues em casa, sendo que elas serão utilizadas um dia, serve para mitigar parte desse risco e até cria um estoque de controle que pode proteger a economia de variações nos preços dessas commodities.

Essa lógica pode ser espelhada para outros países, mas que no final terminam por gerar o mesmo efeito: uma fuga organizada e lenta do dólar americano em direção às reservas físicas. Isso tem diversas consequências complexas e seria dificultado pelos Estados Unidos que lutariam com todas as forças para não perderem sua maior arma financeira: o papel do dólar como a moeda de reserva internacional do mundo.

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