Diferentemente do que ocorre em mercados desenvolvidos, o crédito brasileiro é predominantemente intermediado por instituições financeiras - cerca de 76% do total.
A perspectiva, no entanto, é de que este quadro mude ao longo dos próximos anos: estudo recente divulgado pela Ouro Preto Investimentos estima que em 10 anos a intermediação bancária responda por menos de 50% do mercado enquanto instrumentos estruturados como FIDCs, CRIs e CRAs aumentem a participação em um mercado em expansão.
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Nos últimos anos já observamos o crescimento do crédito estruturado: de acordo com o estudo anteriormente citado, entre 2016 e setembro de 2023 o crédito intermediado por instituições financeiras cresceu 105% enquanto a carteira sob gestão dos FIDCs evoluiu praticamente 350%. Em números, as emissões de FIDCs atingiram R$74,4 bilhões em 2023, um crescimento de 84% em comparação a 2022.
Entre os fatores que fundamentam o crescimento de instrumentos estruturados está o uso da tecnologia, notadamente ferramentas que facilitam o processo de análise de riscos jurídicos das empresas.
Realizar uma due diligence para avaliar, por exemplo, a robustez das garantias oferecidas pela tomadora de crédito sempre foi um processo custoso. É necessário obter e avaliar muitas certidões negativas para mitigar o risco da garantia do empréstimo estar comprometida por determinado processo trabalhista ou fiscal, entre outros.
Como a estrutura judiciária e fiscal no Brasil é muito complexa e capilarizada, este trabalho passa por acessar diferentes agentes para levantamento de documentação e análise de eventuais apontamentos - inscrições em dívida ativa ou processos. Via de regra, cada emissor utiliza um sistema distinto (ou até mais de um sistema) e por sua vez demanda inputs e prazos distintos de retorno.
O processo feito manualmente se torna custoso, burocrático e lento, além de ser passível de erros: dependendo do valor a ser captado, os custos e prazos inviabilizam a transação, afastando principalmente as empresas pequenas e médias para as quais as alternativas de financiamento se tornam mais escassas e caras
Com a tecnologia, a obtenção e leitura das certidões e eventuais apontamentos ocorrem de forma automatizada e estruturada, tornando a análise de risco menos dispendiosa, mais rápida, assertiva e segura. Assim, o custo transacional se torna menor, permitindo o acesso a empresas de médio e pequeno portes. A velocidade e assertividade da estruturação do data room possibilitam que a equipe se dedique a análises jurídicas mais complexas e efetivas para a entrega do parecer final ao cliente.
A celeridade decorrente do uso da tecnologia permite também que as empresas, independentemente do tamanho, possam aproveitar as chamadas janelas de mercado, um dos grandes desafios em mercados voláteis.
O crescimento do mercado de crédito através de instrumentos como FIDCs, CRIs, CRAs e CRs, entre outros, é uma tendência irreversível e uma das grandes alavancas das transformações desse mercado é a automatização dos processos. Com a tecnologia de ponta, o acesso ao crédito se torna viável para todas empresas e também torna a avaliação de risco mais transparente para os investidores.