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Tendências Demográficas: Bola de Cristal do Crescimento Econômico?

Publicado 17.06.2022, 11:09
Atualizado 09.07.2023, 07:32

Muitos pesquisadores dedicam-se a procurar relações entre a Economia de um país e sua população. Em uma matéria de abril de 2022, o Financial Times apontou que as tendências demográficas são forças importantes para se analisar a prosperidade global, o crescimento de cada país e a solidez de suas finanças públicas. Por outro lado, considerar que tudo depende da demografia parece ser uma simplificação. As tendências populacionais são afetadas por três grandes variáveis: fertilidade, mortalidade e migração. Vamos olhar com um pouco mais de atenção para cada uma.

Fertilidade versus mortalidade

A demografia tem se mostrado menos previsível nos últimos tempos. A pandemia de coronavírus evidenciou que pequenas mudanças nas taxas de fertilidade e mortalidade podem ter efeitos enormes. Por exemplo, se pegarmos as projeções oficiais do Reino Unido para a população em 2080, antes da pandemia estava previsto crescimento para 85 milhões de habitantes (a partir de 67 milhões em 2020). Porém a maior mortalidade e a menor natalidade trazidas pelo Covid levaram tal previsão para apenas 72 milhões de pessoas (7% de crescimento contra 27% previstos anteriormente).

A necessidade de se extrair índices comparáveis entre as economias para explicar seu desempenho também gera simplificações enganosas. Um exemplo é a comparação entre Estados Unidos e Japão. A economia japonesa é considerada menos dinâmica por conta da população mais envelhecida. Por um lado, entre 2000 e 2019, a economia norte-americana cresceu 46% contra 26% da japonesa. Mas no Japão tal crescimento foi atingido mesmo com a queda da população economicamente ativa e o crescimento per capita na faixa entre 16 e 64 anos foi 5% maior do que o norte-americano nos mesmos parâmetros. Podemos realmente considerar a economia norte-americana mais dinâmica por conta de sua “juventude”?

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É claro que existem previsões menos incertas a partir da demografia. Se pegarmos as próximas duas décadas, pode-se imaginar a dificuldade de se manter taxas de crescimento econômico com taxas de fertilidade decrescentes. A população nascida nos Estados Unidos vai começar a diminuir (os nascimentos não irão superar os óbitos, qualquer crescimento terá que vir da imigração). Países europeus ricos têm cenários ainda mais restritos em relação à fertilidade. A ascensão econômica da Coreia do Sul trouxe mudanças culturais e hoje menos de um bebê nasce por mulher (0,92 em 2019). A única área do mundo com grande crescimento populacional atualmente é a África subsaariana, justamente sua região mais pobre. Segundo a ONU, se hoje uma em cada sete pessoas do mundo vive abaixo do deserto do Saara, serão uma em seis até o final do século.

O aumento da educação e do emprego das mulheres parece correlacionar-se com o rápido declínio das taxas de natalidade ao redor do globo. E, claro, isso é uma coisa boa: sugere fortemente que o progresso econômico e social dá às mulheres mais poder sobre seus corpos e suas vidas. Porém o declínio da fertilidade nem sempre é um sinal de empoderamento feminino, conforme indicado pela grande e crescente diferença entre o número de filhos que os americanos dizem querer e o menor número de filhos que efetivamente têm. Existem muitas explicações potenciais para essa lacuna, mas uma delas é que os EUA tornaram o cuidado de muitos filhos caro e complicado até mesmo para pais ricos, devido à falta de moradias espaçosas, ao aumento do custo dos cuidados infantis e à escassez de apoio federal a longo prazo. O mesmo fenômeno ocorre em diversos outros países.

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Permanecendo no exemplo dos Estados Unidos, sua população cresceu à menor taxa histórica em 2021 (batendo o recorde de 2020). O jornal The Atlantic reportou o somatório de três fatores:

  • Conforme já comentado, os americanos estão tendo menos filhos como todos os demais países ricos do mundo.

  • A pandemia de Covid matou quase 1 milhão de americanos nos últimos dois anos. Em 2021, as mortes excederam os nascimentos em um número recorde de condados dos EUA. Nunca antes na história americana tantas partes diferentes do país encolheram por causa da “diminuição natural”, que é a diferença entre mortes e nascimentos.

  • Ocorreu dramática diminuição da imigração. Sobre isto, falamos em seguida.

Os autores do livro “The Great Demographic Reversal”, Charles Goodhart e Manoj Pradhan, apostam na reversão em breve de tendências globais de várias décadas. “O que quer que o futuro reserve”, argumentam os autores, “não será nada como o passado”. Os ventos deflacionários nos últimos trinta anos se devem principalmente ao enorme aumento na oferta de mão de obra disponível no mundo, devido a tendências demográficas muito favoráveis e à entrada da China e da Europa Oriental no sistema comercial mundial. Tais tendências demográficas estariam a ponto de se reverter drasticamente, coincidindo com um recuo da globalização. O resultado? O envelhecimento da população deve aumentar a inflação e as taxas de juros, trazendo problemas para uma economia mundial muito endividada. Como todas previsões, esta também tem que ser considerada com moderação, afinal o envelhecido Japão tem convivido até com uma suave deflação nos últimos tempos. Os mais velhos consomem menos quando comparados com o consumismo dos jovens.

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Migração

Já a desigualdade mundial continuará estimulando a migração de países pobres em busca de padrões mais elevados de vida. Os países ricos que conseguirem lidar bem com este fenômeno poderão atenuar as pressões financeiras trazidas pelo envelhecimento de suas próprias populações. Outra saída seria estimular financeiramente o aumento das taxas de natalidade entre seus habitantes, mas até o momento tais práticas não se mostraram muito bem sucedidas. Seriam necessárias mudanças culturais para tornar a vida dos pais mais fácil, especialmente no caso das mulheres. E, com a maior longevidade, não parece haver saída possível além da postergação das aposentadorias dos trabalhadores.

Em 2016, a imigração líquida para os Estados Unidos ultrapassou 1 milhão de pessoas. Mas a imigração desde então caiu cerca de 75%, ficando abaixo de 250.000 em 2021. Isto se deve em parte a fatores econômicos, como a melhoria de vida em países latino-americanos, e também aos lockdowns motivados pela pandemia global. Entretanto, boa parte da queda pode ser explicada por uma escolha política iniciada pelo governo Trump de combater não só a imigração ilegal como também a legal. O governo Biden não priorizou a revitalização de políticas pró-imigração, talvez com medo da reação de parte da população que foi convencida a demonizar os imigrantes.

E as implicações do crescimento populacional em queda permanente são amplas até para a migração. O encolhimento das populações produz economias estagnadas. Economias estagnadas criam efeitos culturais instáveis, como uma mentalidade de soma zero que, ironicamente, torna mais difícil buscar políticas pró-crescimento. Por exemplo, as pessoas em regiões de crescimento lento podem ter medo dos imigrantes porque eles parecem representar uma ameaça às escassas oportunidades de negócios, embora a imigração represente a melhor chance desses lugares de aumentar sua população e economia. No livro “8 Billion and Counting”, Jennifer Sciubba apresenta uma visão geral das tendências demográficas globais. Uma descoberta: a migração é rara. Durante suas palestras, ela costuma perguntar ao público: “Qual proporção da população mundial você acha que vive fora do país em que nasceu?” A maioria diz de 20 a 50%, mas a resposta certa, ao menos em cada um dos últimos 50 anos, tem sido de 2 a 4% apenas. Você sabia disso?

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***

O filósofo francês Auguste Comte afirmou que “demografia é destino”. Ao menos economicamente, acho que ele não estava totalmente certo. Entretanto, a demografia não pode ser ignorada e talvez seja o melhor ponto de partida para se estruturar as políticas econômicas, sem pânico e contando com a migração para tornar o mundo menos desigual.

*Luís Antônio Dib é professor do quadro permanente do COPPEAD, consultor e palestrante. Ele é mestre e doutor em Administração, além de possuir certificações da Harvard Business School. Dib já criou e coordenou diversos cursos de pós-graduação e ministra disciplinas nas áreas de Julgamento e Tomada de Decisão, Estratégia, Negociação e Internacionalização. Sua experiência profissional inclui cargos executivos na Shell (NYSE:SHEL), Telefônica (SA:VIVT3) e TIM (SA:TIMS3), além de vários anos como consultor de alta gestão pela Booz-Allen. 

Dib discute conceitos complexos do mundo dos negócios e o impacto estratégico de novas tecnologias de forma clara, direta e bem-humorada, sendo um dos mais importantes interlocutores brasileiros para questões ligadas à gestão de empresas.

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