A semeadura da safra de trigo deste ano foi encerrada em agosto, e estimativas indicam possibilidade de produção recorde no Brasil. Esse cenário vem pressionado as cotações domésticas do trigo. A Conab reajustou novamente as estimativas de área e de produtividade e, consequentemente, da produção da safra deste ano do Brasil (temporada 2022/23, que se iniciou em agosto). A nova previsão é de que sejam colhidas 9,16 milhões de toneladas, alta de 19,3% em comparação à temporada anterior (2021/22). Isso é resultado do aumento de 8% na área com a cultura, somando 2,96 milhões de hectares, e da produtividade 10,5% maior frente à 2021/22, indo para 3,096 toneladas/hectare. Apesar da colheita recorde, a estimativa de importação permaneceu em 6,5 milhões de toneladas, gerando disponibilidade interna de 16,38 milhões de toneladas. O consumo doméstico está projetado em 12,27 milhões de toneladas, um recorde. A previsão da Conab é de que o Brasil exporte 2,5 milhões de toneladas entre agosto/22 e julho/23 e, assim, o estoque final deve ser de 1,61 milhão de toneladas em julho/23. A frente fria que passou pelo País na segunda quinzena de agosto ocasionou geadas em parte das regiões produtoras de trigo, cenário que trouxe preocupações para alguns agricultores, sobretudo os que tinham lavouras em fases de floração e de enchimento de grãos. Dados mostraram piora nas condições do campo no Paraná. No Rio Grande do Sul, de acordo com a Emater, danos causados pela geada foram observados em lavouras que estavam em floração e em áreas mais baixas. No entanto, esse cenário não deve interferir no potencial produtivo.
MERCADO INTERNO – As negociações seguiram de maneira pontual, com baixa disponibilidade de trigo e com produtores e compradores aguardando a intensificação da colheita nacional para voltar ao spot. No Rio Grande do Sul, a média foi de R$ 1.941,58/tonelada, baixa de 10,7% no mês; porém, elevação de 26,8% em um ano. O preço médio do trigo no mercado disponível no Paraná foi de R$1.987,73/t, recuo de 8,3% frente ao de julho/22, mas 21,7% maior em relação a agosto/21. Em São Paulo, a média mensal, de R$ 2.049,31/t, cedeu 3,8% entre julho e agosto, mas apresentou elevação de 22,9% em um ano. Já em Santa Catarina, a média foi de R$ 2.035,47/t, com redução de 3,7% frente à de julho/22, mas 26,4% superior na comparação com a de agosto/21. Os preços dos farelos de trigo continuaram em alta em agosto, devido à maior demanda e à menor disponibilidade. Por isso, os valores avançaram 9,3% no a granel e 7,4% no ensacado em comparação a julho/22.
BALANÇA COMERCIAL – De acordo com dados preliminares da Secex, nos 23 dias úteis de agosto, as importações somaram 536,6 mil toneladas, contra 594,3 mil toneladas em agosto/21. Em relação ao preço de importação, a média de agosto/22 foi de US$ 441,0/t FOB origem, 59,6% acima da registrada no mesmo mês de 2021 (de US$ 276,3/t).
MERCADO EXTERNO – Os recuos do primeiro vencimento nas Bolsas de Chicago e de Kansas foram de 2,8% e 0,4%, respectivamente, de julho para agosto, com médias de US$ 7,8425/bushel (US$ 288,16/t) para o Soft Red Winter na CBOT e de US$ 8,6750/bushel (US$ 318,75/t) para o Hard Winter em Kansas. As desvalorizações foram relacionadas à contínua exportação de grãos ucranianos pelo Mar Negro, incluindo o trigo, e ao aumento na estimativa de produção da Rússia. A SovEcon, consultoria russa, elevou novamente a projeção da safra da Rússia, que deverá atingir o recorde de 94,7 milhões de toneladas, devido às boas condições climáticas, que favoreceram o rendimento. Apesar disso, as exportações russas seguem ocorrendo de forma lenta. Segundo o USDA, a produção mundial 2022/23 está estimada em 779,6 milhões de toneladas, alta de 1% em comparação ao apontado em julho/22 e leve 0,05% maior que na temporada passada. Esta elevação está relacionada principalmente à maior produção no Canadá e na Rússia, apesar de quedas representativas na Ucrânia, na Índia e na União Europeia. Em comparação com a safra 2021/22, o Canadá aumentará em 13,3 milhões de toneladas o volume produzido, enquanto na Rússia a elevação está estimada em 12,8 milhões de toneladas. Quanto ao consumo mundial, o USDA estima em 788,6 milhões de toneladas, alta de 0,6% no relatório mensal, mas baixa de 0,6% em um ano, devido ao maior uso na Austrália e na Rússia. Em relação aos estoques finais, podem somar 267,3 milhões de toneladas, queda de 3,3% na comparação com 2021/22, com a baixa acentuada pela Índia (40,9% inferior à safra passada).