O empossamento de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos marca o começo de uma fase totalmente incerta para a economia global: a guinada de uma agenda conservadora, que tende a afetar diversos setores mundo afora. Sem dúvidas, um dos principais exemplos disso é a área de ESG (Ambiental, Social e Governança).
Com o retorno do republicano ao cargo, as grandes corporações dos Estados Unidos já começaram a se distanciar de planejamentos e estratégias que prezam pela sustentabilidade. É o caso da BlackRock (NYSE:BLK), uma das principais companhias de gestão de ativos e investimentos no mundo, que abandonou iniciativas como a Net-Zero Asset Managers Alliance, ação voltada focada em emissões líquidas zero de Gases de Efeito Estufa (GEE).
Com menos recursos destinados ao ESG, naturalmente a competitividade interna irá diminuir, principalmente em setores que dependem fortemente de inovação sustentável. Nesse sentido, os segmentos de energia renovável, tecnologia e finanças devem ser alguns dos mais afetados.
A longo prazo, as consequências devem ser ainda mais drásticas; afinal, sem um foco em iniciativas ligadas à sustentabilidade, provavelmente as empresas correrão mais riscos reputacionais. Os investidores tendem a repensar as suas alocações nessas companhias, reavaliando critérios de governança por estarem deixando um assunto tão relevante para os dias atuais em segundo plano.
A consequência máxima disso? Um impacto na estruturação de projetos ESG no mundo inteiro, afetando o mercado financeiro global.
Como ficam os mercados emergentes?
Com esse cenário de incerteza global, os mercados emergentes e países dependentes de investimentos externos devem ser os primeiros a sofrer os impactos da desaceleração das metas ESG. São os casos de nações como China, Índia e o próprio Brasil.
Nestes locais, muitos setores-chave, como o agronegócio, podem enfrentar uma maior resistência a financiamentos e parcerias internacionais com o enfraquecimento do foco em sustentabilidade nos Estados Unidos. Dessa forma, a tendência é uma limitação do acesso aos recursos necessários para um crescimento sustentável.
Obviamente, as instituições que entendem a gravidade da situação não devem ficar paradas. Acordos multilaterais, por exemplo, são alternativas a serem consideradas para driblar a agenda conservadora.
Além disso, em 2025 especificamente, a Conferência do Clima (COP 30), que acontece em novembro, em Belém (PA), também é um foco de atenção para possíveis soluções. No fórum, a comunidade internacional terá a oportunidade de criar pressão nas grandes corporações, cobrando a manutenção dos seus compromissos com as práticas ambientais e sociais para evitar retrocessos.
Oportunidades para o Brasil?
Apesar da situação estar repleta de inseguranças e indefinições, o Brasil tem a chance de causar uma virada de chave em meio a esta guinada conservadora. Como? Indo justamente de desencontro a essa agenda.
Se o país buscar se fortalecer dentro do ESG, pode se posicionar como um líder regional no setor. Políticas públicas e estratégias empresariais com esse foco tendem a provar que somos um destino atraente para investimentos sustentáveis.
Dentre as possibilidades de ações, podemos citar, por exemplo, o próprio reforço da governança corporativa, com regulamentações que implementem boas práticas. Ou ainda explorar a nossa vasta biodiversidade, de forma ética e inovadora, como um diferencial competitivo.
Caminhando para essa direção, o mundo inteiro olhará para o Brasil como um polo de estabilidade. E, visto que a crescente demanda global pelo compromisso com a agenda ESG enfrenta uma fase desafiadora com a posse de Trump, a busca pelo equilíbrio deve se intensificar.
A continuidade do progresso sustentável ainda tem um enorme potencial de acontecer, mas, nas circunstâncias atuais, é preciso resiliência. O ESG se tornou um ativo poderoso, e aqueles que seguirem enxergando esse valor têm a chance de se destacarem no futuro.